O período eleitoral é um momento decisivo para celebrar e fazer valer a democracia. Mas tem se tornado também um dos mais confusos para o cidadão brasileiro. Manual de Sobrevivência Eleitoral da Lupatraz conteúdos para te ajudar a sobreviver às desinformações eleitorais e escolher seus candidatos de forma segura.
Pesquisas eleitorais são uma ferramenta importante para ajudar o eleitor a acompanhar o desempenho dos candidatos e avaliar em quem votar. No entanto, nos últimos pleitos, este tipo de levantamento tem sido alvo de desinformações, que tentam descredibilizar não apenas os candidatos, mas os próprios os dados.
Para não se enganar com pesquisas eleitorais, o primeiro passo é entender que elas têm como objetivo oferecer o retrato de um momento específico da corrida eleitoral. Portanto, seus dados devem ser interpretados dentro de uma metodologia e contexto próprios.
O que muitos candidatos fazem é utilizar dados de forma enviesada, recorrendo a uma pesquisa realizada há seis meses para tratar de seu desempenho no dia de hoje, por exemplo.
Em outras situações, é comum que o candidato use uma prerrogativa distante das pesquisas como ‘Sou o único a derrotar o candidato X’, mesmo estando em posições que dificilmente vão disputar o segundo turno. Com isso, produzem cenários e tendências de resultados artificiais, atrapalhando a percepção e a decisão do eleitor.
Outra estratégia usada para desinformar o eleitor é misturar pesquisas produzidas por diferentes institutos, que utilizam diferentes técnicas de medição.
O Ipec (ex-Ibope) e a Quaest colhem dados a partir de conversas presenciais, indo ao domicílio de cada pessoa. O Datafolha também adota o método de entrevistas face a face, mas a partir de abordagens em pontos de grande fluxo de pessoas. O Ideia e o Ipespe fazem entrevistas por telefone, utilizando um questionário computadorizado lido por um entrevistador. Já o AtlasIntel se vale de um questionário online em suas sondagens.
Um dos principais problemas envolvendo pesquisas em época de eleição é o mau uso de estatísticas. Como são feitas a partir de diferentes metodologias, pesquisas de diferentes institutos tornam seus resultados incomparáveis entre si.
A disputa no Rio
No início das campanhas deste ano, um vídeo viralizou nas redes ao comparar de forma equivocada duas pesquisas eleitorais para sugerir que a intenção de voto no candidato a prefeito do Rio, Alexandre Ramagem (PL), estaria em franca ascensão diante do atual prefeito e candidato do PSD, Eduardo Paes.
No vídeo, o apresentador mostra uma reportagem do site Infomoney de 8 de agosto e afirma que Paes teria 45,8% das intenções de voto, enquanto Ramagem, 32,3%. Os dados são corretos, extraídos da pesquisa da AtlasIntel entre os dias 2 e 7 de agosto com 1,6 mil eleitores do Rio, divulgada no dia 8.
Em seguida, mostra outra reportagem, do portal g1, com dados de outra pesquisa, produzida pelo Datafolha. O apresentador afirma: "Há uma semana, Eduardo Paes estava com 53%, e Ramagem, com 7%, ou seja, a gente cresceu absurdamente" .
O conteúdo desinforma na medida que as pesquisas trabalham com metodologias diferentes e, portanto, não podem ser comparadas. A margem de erro do Datafolha, por exemplo, é de três pontos percentuais (pp), enquanto a da AtlasIntel é de dois pontos percentuais. Além disso, a metodologia é diferente já que a da Atlas é baseada em banners digitais geolocalizados para que o respondente dê sua opinião.
>> Tempo de TV ≠ Intenção de votos
Na última semana de agosto, os apoiadores de Ramagem não esconderam a euforia nas redes sociais e em grupos públicos de WhatsApp com as últimas novidades sobre o horário eleitoral. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), Ramagem terá dois segundos a mais do que Paes, que busca a reeleição, na propaganda política no rádio e na TV. Enquanto Ramagem contará com 3 minutos e 28 segundos, Paes terá 3 minutos e 26 segundos.
Uma mensagem que circulou no X e no WhatsApp, possivelmente alcançando 168 mil pessoas, destacava o equilíbrio entre os dois candidatos no tempo de propaganda eleitoral gratuita, dizendo que estão "praticamente empatados em tempo de TV".
A expressão, comumente usada em comunicações sobre pesquisas eleitorais, no entanto, apenas reflete o critério usado pela Justiça Eleitoral para definir o tempo de cada coligação na propaganda: o número de cadeiras no Congresso.
E é aí que o conteúdo pode desinformar o eleitor. Tempo de TV não tem relação direta com intenção de votos. Tanto é que, apesar de tempos parecidos, não há equilíbrio entre Ramagem e Paes nas pesquisas mais recentes. O levantamento do Datafolha, divulgado no final de agosto, mostra Paes com 56% das intenções de voto, e Ramagem, com 9%.
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