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Imagens de IA polarizam e aproximam humor e ódio
12.12.2024 - 17h41
Rio de Janeiro - RJ
Levantamento exclusivo da Lupa mostra que 1 milhão de usuários de aplicativos de mensagens e no TikTok já receberam imagens falsas do Presidente Lula, com cenas que supostamente retratam sua internação no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. De fato, o petista está no local desde terça (10) para o tratamento de uma hemorragia intracraniana. As cenas registradas, no entanto, são quase todas falsas e produzidas por inteligência artificial (IA). 
Nas legendas e textos que acompanham as peças, duas narrativas principais podem ser identificadas: a primeira tem tom supostamente satírico, com a intenção de ridicularizar a figura do presidente. É o caso da imagem em que o petista aparece sendo alimentado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A segunda, é acompanhada de suposições conspiratórias, que vão desde uma internação forçada de Lula para escapar de ser apontado como suposto mandante de uma tentativa de ataque planejado por um servidor do Ministério da Saúde, que tentou entrar armado na Câmara dos Deputados na última quarta (11), como mostrou a Ebulição na edição desta quinta (12).   
O conjunto de peças aponta para uma direção comum: a aproximação – e, muitas vezes, a incapacidade de distinção – entre humor e ódio, em situações de alta vulnerabilidade e risco à dignidade humana. 
IMAGENS E O LIMITE DO BOM SENSO
O mesmo foi visto com o caso que ficou conhecido como o do "Tio Paulo", em abril deste ano. Diante de uma situação de violência, o homem – em estado de recém-falecimento – teve sua imagem não apenas exposta, mas viralizada, em formato de memes, figurinhas e outros tantos tipos de piadas e formatos que circularam em grupos e entre públicos de todas as idades.     
Também aconteceu com as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul, quando imagens de IA foram utilizadas para produzir cenas de violência e drama extremo, aumentando o desespero e reduzindo a capacidade crítica da população ao consumir conteúdos que recebiam pelas redes.
Imagens originais, editadas e, sobretudo, aquelas produzidas por IA, têm potencial de mobilização comprovado. A combinação de mecanismos de busca online, aplicativos de mensagens e ferramentas de inteligência artificial, resulta em experiências midiáticas que podem começar como sátira ou suposta brincadeira e terminar em situações de extrema gravidade, tanto a nível individual – para quem é retratado – quanto coletivo – para quem é impactado pela desinformação. Por isso, é necessário lidar com elas da forma mais sensata e racional possível.
Grok: fábrica gratuita de imagens que desinformam   
Acrescenta-se a isso o fato de que o X (antigo Twitter) liberou recentemente para todos os usuários a Grok, sua ferramenta de inteligência artificial, capaz de gerar imagens a partir de comandos de texto. De fácil acesso e manuseio intuitivo, a Grok tem sido usada como uma fábrica gratuita de imagens e conteúdos que chocam e desinformam – dentro e fora do Brasil.  
O que fazer diante da imagem? 
Além de diagnosticar o problema, é fundamental que cada usuário – independente de sua posição política, e enquanto cidadão – seja capaz de entender que caminhos seguir diante de imagens como as que envolvem a internação de Lula. 
E aí vão alguns passos simples que podem minimizar o problema:
I. Observe atentamente os sinais de IA na imagem
A qualidade da tecnologia tem aumentado, mas alguns sinais ainda nos ajudam a identificar indícios de que estamos diante de uma peça feita por IA. 
  1. Elementos como dedos e dentes costumam não ser bem definidos na imagem. Aparecem sobrepostos, descontinuados ou em quantidade maior ou menor que a realidade; 
  2. Atenção às texturas da pele, fundos e superfícies da imagem, que têm aspecto plastificado e com brilho em excesso; 
  3. Textos e números gerados por IA também podem ser boas pistas. Normalmente não são legíveis, mesmo utilizando zoom sobre as figuras;
  4. Marcas d'água têm sido adotadas pelas plataformas – ainda que timidamente – para sinalizar se o conteúdo foi produzido por IA. Vale conferir. 
II. Consuma a informação para além da imagem
Observe e avalie que legendas e textos estão acompanhando o conteúdo visual. Os elementos visuais estão dentro de um contexto aceitável? Seria possível, por exemplo, que Lula estivesse comendo um pedaço enorme de carne utilizando uma colher? Pouco provável. 
Dedos distorcidos e colher para comer carne. Detalhes podem ajudar a identificar que imagem é feita por IA.
III. A dica de ouro, mas nem sempre possível: olho na fonte da informação
Ao receber um conteúdo — ou se deparar com ele na sua timeline — busque sua origem, verificando se há identificação da pessoa ou perfil que publicou a peça pela primeira vez. Uma ferramenta útil para isso é o Tineye.  
Se o conteúdo tiver sido compartilhado unicamente em contas em redes sociais, confira se está ligado a uma conta verificada (selo azul em algumas, marcações como “v” em outras). Se possível, volte algumas publicações para entender se há constância de compartilhamento e conhecimento técnico sobre o assunto. Esses indícios, caso confirmados, ajudam a aumentar a confiabilidade do conteúdo. 
IV. Não incentive a polarização
Evite compartilhar informações que incentivam o discurso do “nós contra eles”. Esse discurso inviabiliza o debate saudável e o estabelecimento de pontos em comum em uma discussão. Debates guiados por essa lógica, em geral, são recheados de emoção, sobrando pouco espaço para reflexões racionais e técnicas, baseadas em fatos e evidências. 
V. Pratique o ceticismo saudável
Ao se deparar com uma informação sobre o caso, não a tome como verdadeira por princípio. Desconfie e faça o processo de verificação de fontes antes de compartilhar, especialmente ao se tratar de conteúdos sensacionalistas, que simplificam o caso ou põem em risco a dignidade de uma pessoa – seja um anônimo ou figura pública. 

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Tipo de Conteúdo: Artigos
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