Hoje, a desinformação é objeto de intenso debate, principalmente por conta dos riscos que oferece à democracia. Os contornos do fenômeno, contudo, permanecem relativamente imprecisos. Diferente da leitura que associa desinformação à mentira ou liberdade de expressão, o artigo sustenta que a noção deve ser entendida como operação social, e não como conduta individual, sendo capaz de orientar comportamentos. Mas como? Para responder à pergunta, o estudo argumenta que: (i) a fragmentação da esfera pública explica o ambiente em que se desenvolve a ubiquidade das novas mídias digitais; (ii) o modelo de negócios baseado no engajamento on-line reverte uma característica básica da esfera pública: a integração de pontos de vista conflitantes; (iii) tal reversão produz efeitos para o indivíduo que simulam o comportamento de massa (contágio emocional e suspensão da racionalidade); e (iv) a repetição de um enunciado produz um “efeito-verdade” para a desinformação, que passa a ser usada pelo destinatário para atribuir sentido ao mundo.
João Paulo Bachur é graduado em direito pela USP, é mestre e doutor em Ciência Política pela mesma instituição. Foi pesquisador visitante do Instituto de Filosofia da Universidade Livre de Berlim. Atuou como professor voluntário do Instituto de Ciência Política da UnB. Atualmente, é advogado e coordenador do mestrado e do doutorado em Direito Constitucional do IDP, em Brasília, e professor do Insper/SP. Suas áreas de pesquisa são teoria política, sociologia e filosofia da linguagem.