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Maradona inova no combate a notícias falsas de WhatsApp e gera polêmica
09.07.2018 - 16h00
Rio de Janeiro - RJ
A caça aos produtores de notícias falsas atingiu outro patamar na Copa do Mundo da Rússia, e isso aconteceu pelas mãos do ídolo argentino Diego Maradona.
Na tarde da quarta-feira 27 de junho, o ex-atacante da seleção alviceleste foi ao estádio de São Petersburgo para assistir à Nigéria ser derrotada pela Argentina por 2 a 1. Antes e durante a partida, Maradona mostrou vitalidade. Dançou com uma jovem nigeriana, girou a camisa de seu time acima da cabeça e mandou mensagens tanto aos torcedores quanto aos jogadores.
Ao final do jogo, no entanto, sentiu-se mal e precisou deixar o local amparado por amigos. A informação oficial indicava que o argentino tinha tido uma pico de pressão e que havia sido levado a um hospital.
Poucas horas mais tarde, no entanto, áudios gravados por um homem não identificado com sotaque argentino ganharam força no WhatsApp e nas redes sociais informando que o ex-jogador havia sofrido uma parada cardiorrespiratória e morrido no hospital. Não era verdade – e Maradona foi à TV para atestar isso.
“Pareço estar morto?”, perguntou o astro ao jornalista Víctor Hugo Morales, no programa “De la Mano del Diez”, transmitido pela Telesur naquela noite. Maradona estava chateado: “Minha irmã me fez assobiar no telefone para saber que eu estava bem (…) Meu irmão, na Itália, meu sobrinho, nos Estados Unidos, se preocuparam… Notícia ruim é muito mais rápida do que a boa. A verdade é que estou bem. Faço exames periódicos”. E completou, mandando um recado “aos medíocres”: “Eu não posso torná-los bons”.
Mas a fúria de Maradona não parou por aí.
No mesmo dia, Matías Morla, advogado do craque, entrou em cena e ofereceu publicamente uma recompensa financeira para quem desse informações objetivas sobre a origem dos áudios sobre a suposta morte de seu cliente.
“Acabei de falar com meu escritório na Argentina e já dei a ordem de que tornem pública a decisão de dar uma recompensa de 300 mil pesos (cerca de R$ 42 mil) para quem fornecer dados precisos sobre a pessoa que armou os áudios”, disse Morla ao site Infobae. “Meu escritório consultou especialistas em tecnologia e é possível saber quem armou tudo. Por isso, precisamos que nos forneçam informações. Daí, a recompensa (…) Já está na hora de pensarem duas vezes antes de fazerem uma maldade dessas”.
Ao ler essa notícia, pensei num cartaz de faroeste. Daqueles típicos, em papel marrom e a palavra “wanted” – ou “procura-se” – em letras garrafais. Será essa uma saída na guerra contra fake news?
Alexios Mantzarlis, diretor da International Fact-checking Network (IFCN), grupo de checadores que se reúne em torno do Poynter Institute, nos EUA, e do qual a Agência Lupa faz parte entende que as pessoas são livres para encontrar formas de se proteger, sem ultrapassar os limites da lei. Mas pontua com firmeza: “O vigilantismo do WhatsApp não parece ser a solução para pôr fim às notícias falsas que circulam nesse aplicativo”.
Este artigo foi publicado pelo site da revista Época no dia 9 de julho de 2018.
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