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Manuela D’Ávila erra sobre mortalidade infantil e desemprego entre mulheres
15.08.2018 - 12h00
Antes de viver a iminência de se tornar candidata a vice-presidente da República de Lula ou Fernando Haddad (PT), a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) foi, por cinco dias, candidata à presidência da República. Já em clima de campanha, na última quinta-feira (9), ela e Haddad participaram de um debate nas redes sociais, paralelo ao promovido pela Band com oito candidatos à Presidência. Os dois já tinham estado juntos em uma entrevista sobre a aliança entre PT e PCdoB para esta eleição, no dia 6 de agosto. A Lupa checou algumas declarações dadas por Manuela nas duas ocasiões. Veja:
“As mulheres nordestinas são a maior parte dos desempregados no Brasil hoje”
Manuela D’Ávila (PCdoB) no “Debate com Lula”, no dia 9 de agosto
Falso
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (Pnadc/T), de janeiro e março de 2018, o número de mulheres nordestinas desocupadas era estimado em 1,7 milhão. Isso representa 13,7% dos 13,7 milhões de desempregados à época. Há mais homens nordestinos (2,1 milhões), mulheres do Sudeste (3,4 milhões) e homens do Sudeste (3,1 milhões). A Pnadc Mensal, mais recente, não publica dados em nível regional.
As mulheres nordestinas têm a mais alta taxa de desocupação na comparação com outros segmentos demográficos, considerando sexo e região (entre 7,8% e 15,8%). No primeiro trimestre deste ano, 17,6% delas estavam desocupadas, segundo o IBGE. No mesmo período, a taxa de desocupação no país era de 13,1%.
Em junho de 2018, o Ipea divulgou, em sua Carta de Conjuntura, que o perfil do desempregado no país é mulher, nordestina e jovem. Isso não significa, entretanto, que elas representem a maior parte da população desempregada, e sim que o desemprego é mais prevalecente entre pessoas com esse perfil.
Procurada, Manuela não respondeu.

“Parece que o Brasil voltou décadas atrás. [Houve] Aumento de mortalidade infantil”
Manuela D’Ávila (PCdoB) no “Debate com Lula”, no dia 9 de agosto
Verdadeiro, mas...
Em maio deste ano, a Fundação Abrinq indicou que a mortalidade infantil voltou a crescer no Brasil em 2016 – dado mais recente disponível. O estudo da fundação leva em conta informações do Ministério da Saúde e mostra que a taxa de mortalidade de crianças de até um ano de idade subiu de 14,3 por mil nascidas vivas em 2015 para 14,9 por mil em 2016. Mas as estimativas do IBGE e da ONU não mostraram esse crescimento para o mesmo período. Segundo o IBGE, a taxa, em 2016, ficou em 13,3 a cada mil nascidos vivos. Já a ONU estima que o índice tenha chegado a 13,5 por mil naquele ano.

“Desde a criação do SUS não existia esse índice de mortalidade infantil”
Manuela D’Ávila (PCdoB) no “Debate com Lula”, no dia 9 de agosto
Falso
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988. Naquele ano, a taxa de mortalidade infantil no Brasil era de 57,3 a cada mil nascidos vivos, segundo a ONU. Em 2016, último dado disponível estimado pela organização, ficou em 13,5 a cada mil nascidos vivos. Ou seja: a taxa de 1988 era quatro vezes maior do que a de 2016.
Segundo a Fundação Abrinq, em todos os anos entre 2000 e 2013, a taxa de mortalidade infantil foi superior à de 2016, estimada em 14,9 a cada mil nascidos vivos. De acordo com o levantamento da fundação, o índice mais recente não chegou nem sequer ao patamar de 2013 – 15,6 a cada mil nascidos vivos. A instituição não tem dados anteriores ao ano 2000.
Procurada, Manuela não respondeu.

“É um acordo em que nós do PCdoB ocuparíamos a vaga de vice em qualquer um dos cenários [com Lula ou Haddad como candidato à Presidência]”
Manuela D’Ávila, em entrevista coletiva que anunciou a coligação entre PT e PC do B, no dia 6 de agosto
Contraditório
Como pré-candidata do PC do B à Presidência, Manuela afirmou pelo menos duas vezes que não seria candidata à vice-presidência. Ao programa Roda Viva, no último dia 25 de junho, ela disse, em resposta à jornalista Vera Magalhães, que a chance de desistir de sua candidatura era “zero” e que isso só aconteceria se houvesse uma união da esquerda, envolvendo ela mesma, Lula, Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL). Os dois últimos mantêm suas candidaturas.
Ao Diário do Centro do Mundo, em dezembro do ano passado, Manuela afirmou que sua candidatura “não é (…) para fazer parte de uma composição”. No lançamento de sua pré-candidatura, em novembro de 2017, a deputada disse: “Ninguém se lança candidato à Presidência para ser vice. Nós lançamos a candidatura para eu ser candidata a presidência da República”.
Procurada, Manuela disse que, como pré-candidata, afirmou que não seria “óbice para a construção da unidade” de esquerda. Segundo a deputada, “a unidade entre PT, PCdoB e Pros demonstrou ser a unidade possível, apesar do (…) desejo de uma composição ainda mais ampla”. Diante da aliança, “o posicionamento inicial [de não ser vice] foi revisto”, segundo a deputada gaúcha.

“Várias foram as vezes [em que] nós dissemos (…) que eu não seria óbice para unidade do nosso campo [de esquerda]”
Manuela D’Ávila, em entrevista coletiva que anunciou a coligação entre PT e PC do B, no dia 6 de agosto
Verdadeiro
Há pelo menos três registros públicos de que Manuela D’Ávila admitiu retirar sua candidatura em nome de uma união dos partidos de esquerda. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, no dia 4 de junho de 2018, a deputada gaúcha disse: “A unidade da esquerda representa isto: nós estaremos todos unidos em uma única candidatura? Eu não sou óbice”.
Quatro dias depois, ao ser sabatinada pela revista IstoÉ, deu declaração no mesmo sentido: “A minha candidatura não é óbice para a unidade da esquerda. Se eu retirar minha candidatura hoje, o campo progressista, desenvolvimentista, estará unido?”. No dia 25 de junho, no Roda Viva, da TV Cultura, como pré-candidata do PCdoB à Presidência, ela também afirmou que se retiraria da disputa caso houvesse uma união da esquerda.
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