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Debate da Band: Oito candidatos e oito erros no primeiro confronto do RJ
17.08.2018 - 15h15
Rio de Janeiro - RJ
O primeiro debate com candidatos ao governo do Rio de Janeiro, realizado na noite de quinta-feira (16) na Band, foi marcado pelo confronto entre Eduardo Paes (DEM) e Anthony Garotinho (PRP), mas também por erros de informação no que diz respeito à realidade da vida em território fluminense. Além dos dois, Tarcísio Motta (PSOL), Romário (Podemos), Márcia Tiburi (PT), Wilson Witsel (PSC), Indio da Costa (PSD) e Pedro Fernandes (PDT) se equivocaram ao falar sobre transporte, economia, educação, segurança e outros assuntos. Veja abaixo a análise da Lupa sobre o #DebateBandRio:
“Nós [RJ] temos o pior sistema de transporte do mundo”
Tarcísio Motta (PSOL)
Exagerado
Levantamento realizado pelo instituto Expert Market, que analisou o trânsito de 74 cidades com população de mais de 300 mil habitantes em 16 países, realmente coloca o RJ em primeiro lugar.  Esse estudo, porém, só levou em consideração a opinião de pessoas que usam o aplicativo “Moovit”, com informações sobre o transporte público desses locais. Não vai, portanto, além do app, nem avalia outros municípios.
Quatro indicadores foram levados em conta no estudo: o tempo médio gasto em deslocamentos diários; o tempo médio de espera por ônibus ou trens; a média da distância percorrida e a porcentagem de passageiros que fazem pelo menos uma alteração de transporte durante seu caminho.
Procurado, Tarcísio afirmou que a frase é uma opinião política, baseada na relação entre preço, qualidade e eficiência do transporte público do RJ. O candidato cita o estudo da Expert Market e também o TomTom Traffic Index, além de pesquisas feitas por sua equipe para a CPI dos Ônibus. Os documentos, destaca ele, estão disponíveis em www.cpidosonibus.com.br.

“A universidade [Uerj] é a 4ª maior do estado em número de alunos”
Romário (Podemos)
Subestimado
De acordo com o mais recente Ranking de Universidades elaborado pelo jornal Folha de S. Paulo, considerando as universidades federais e estaduais do Rio de Janeiro, a Uerj é a terceira em número de alunos – não a quarta, como disse o candidato. Com 26.040 alunos, só perde para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 39.951 matriculados, e a Universidade Federal Fluminense (UFF), com 49.035.
Segundo a Uerj, o número de alunos ativos no primeiro semestre de 2016 era de 34.033 estudantes, sendo 26.767 nos cursos de graduação presencial, e 7.226 alunos de Educação à Distância. Não são contabilizados nesse levantamento os alunos da pós-graduação.
Procurado, Romário informou que “independente da posição que a Uerj ocupa, a universidade é uma referência no Estado e no Brasil e precisa ser tratada a altura de sua importância”.

“70% dos presidiários não concluíram o ensino fundamental”
Pedro Fernandes (PDT)
Exagerado
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias de junho de 2016 mostra que 51% das pessoas privadas de liberdade no Brasil têm o ensino fundamental incompleto – e não 70% como afirmou o candidato Pedro Fernandes. Segundo o mesmo relatório, 15% dos presidiários não concluíram o ensino médio (página 33).
Procurado, Pedro Fernandes afirmou que se referia à soma dos presidiários que não concluíram o ensino fundamental no Rio de Janeiro (65%) e os que não concluíram o ensino médio (8%).

“No governo atual, a gente perdeu 230 escolas”
Márcia Tiburi (PT)
Exagerado
A rede estadual de ensino perdeu 63 escolas durante os dois governos de Luiz Fernando Pezão (PMDB) – 27,3% do total foi mencionado pela candidata no debate da Band. Os dados são da Secretaria de Estado de Educação, com base no Censo Escolar. Em 2013, o RJ tinha 1.357 estabelecimentos. Em 2017, último dado disponível para consulta, o total de unidades havia caído para 1.294.
Procurada, Márcia Tiburi informou que “o governo de Pezão nada mais é que a continuação dos governos de Sérgio Cabral, e que entre 2010 e 2017, o estado perdeu 231 escolas públicas”.

“Criação da casa da mulher, [quando eu estava] na Prefeitura do Rio”
Eduardo Paes (DEM)
Verdadeiro, mas...
Em março de 2013, quando estava à frente da prefeitura do Rio, Eduardo Paes, eleito pelo então PMDB, prometeu a criação de sete Casas da Mulher Carioca, espaços municipais para atendimento de mulheres em situação de vulnerabilidade social. Neles, forneceria, por exemplo, apoio psicológico e jurídico para vítimas de violência doméstica. A promessa foi cumprida em parte: em março de 2016, a prefeitura inaugurou as duas primeiras (e únicas) unidades.
Em nota, Paes reconheceu que, de fato, inaugurou apenas duas unidades da Casa da Mulher Carioca durante sua passagem pela prefeitura do Rio.

“Sérgio Côrtes, que foi preso, confessou que, desde o primeiro dia de governo, o plano era de saquear os cofres públicos”
Anthony Garotinho (PRP)
Falso
Sérgio Côrtes foi secretário estadual de Saúde do ex-governador Sérgio Cabral e acabou preso, em abril de 2017, na Operação Fatura Exposta. Não há, no entanto, nenhum registro de confissão dele.
Na decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, que autorizou a prisão de Côrtes, consta parte da informação mencionada por Garotinho no debate da Band. No documento, Bretas escreve que, de acordo com o Ministério Público Federal, “os crimes foram praticados no âmbito da Secretaria de Saúde desde o momento que o ex-governador Sérgio Cabral assumiu o Governo do Estado do Rio em 01.01.2007 e nomeou Sérgio Côrtes como seu Secretário de Saúde”. As investigações mostraram que Côrtes e Cabral combinaram um esquema de vantagens indevidas no qual todas as empresas contratadas pela Secretaria de Saúde pagariam 10% de propina. Cabral está preso desde novembro de 2016. Já admitiu que recebeu recursos via caixa 2 para campanhas eleitorais, mas nega ter pedido propina para empresas contratadas pelo governo do estado durante seus mandatos. Côrtes foi solto em fevereiro deste ano e, em entrevista à revista Veja, em junho, admitiu que “foi corrupto” e que recebeu US$ 2,5 milhões de um empresário, depositados em uma conta na Suíça.
Procurado, Garotinho não retornou.
Atualização às 11h06 de 18/08/2018: Garotinho enviou uma nota à Lupa “reafirmando” o que disse no debate. Côrtes confessou a Bretas, sim, que levou para a Secretaria Estadual de Saúde o modelo que tinha praticado no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) antes.  Ou seja, o mesmo modus operandi fraudulento que ele instalou no Into”, diz trecho da nota.

“Saí de lá [Secretaria de Esportes de Eduardo Paes] quando tentei fazer um projeto sociocultural e esportivo, dentro das áreas retomadas, na época, pelas UPPs (…), e o ex-prefeito disse que não faria isso (…) [porque] Beltrame poderia vir a disputar as eleições”
Indio da Costa (PSD)
Contraditório
Indio foi secretário de Esportes e Lazer da prefeitura do Rio de Janeiro sob o comando de Eduardo Paes entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2013. Quando deixou o cargo, não mostrou insatisfação pública com a não realização de projetos esportivos em zona pacificada nem falou sobre uma eventual disputa eleitoral com o então secretário estadual de Segurança Pública José Mariano Beltrame. Indio entregou uma carta ao então prefeito e, em seguida, a postou no Twitter. Nela, mostrava-se contente e falava da “honra” de ter participado da construção dos Jogos Olímpicos de 2016: “este tempo em que vivemos será registrado como um dos melhores da história do nosso Rio”. À época, Indio era cotado para disputar o governo do RJ nas eleições de 2014, mas acabou não se tornando candidato. Na mesma rede social, ele compartilhou um artigo publicado no jornal O Dia, no qual fazia um balanço de sua gestão à frente da pasta. “A cada dia me encanto mais pelos exemplos de competência, dedicação e superação de esportistas, profissionais de Educação Física e servidores públicos que, com amor em suas ações, desenvolvem silenciosamente o legado humano da Olimpíada”. O artigo data de dezembro de 2013.
Em nota, o candidato disse que se despediu cordialmente do cargo e, durante o debate, lembrou que “Eduardo Paes recusou-se a investir no projeto social cultural e esportivo que Beltrame cobrava para as UPPs”.

“Contratos de 70 anos: 35 mais 35 [para a construção de trilhos]”
Wilson Witzel (PSC)
Contraditório
No debate da Band, o candidato Wilson Witzel falou duas vezes sobre seu projeto de realizar uma política de concessão privada para a construção de trilhos – visando a melhorar a mobilidade urbana no Rio de Janeiro. Em um primeiro momento, afirmou que realizaria “contratos de 70 anos, 35 mais 35”. Mas, minutos depois se contradisse, destacando que faria “um processo de concessão de longo curso, mais de 70 anos”.
Procurado, Witzel afirmou, em nota, que sua proposta é de “trabalhar para que os prazos para duração de contratos de concessão passem a ser maiores do que 70 anos”.
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