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Lupa
Para além da série de direitos de respostas, os erros do debate da Globo no RJ
03.10.2018 - 14h43
Rio de Janeiro - RJ
Sete candidatos ao governo do Rio de Janeiro participaram do debate promovido pela TV Globo na noite da quinta-feira (2). Em parceria com o Instituto Igarapé, a Lupa acompanhou todos os blocos e checou a veracidade de algumas das frases ditas pelos postulantes ao Palácio da Guanabara. Veja a seguir o resultado:
“[Fui] eu que pedi a abertura da CPI da Merenda”
Indio da Costa (PSD)
Falso
O histórico do candidato Indio da Costa (PSD) na Câmara de Vereadores não registra que ele tenha pedido a abertura ou participado como membro da CPI da Merenda, realizada em 2006. O sistema de consultas públicas mostra que ele participou, por exemplo, de CPIs sobre postos de combustíveis e violência da guarda municipal.
No que diz respeito à comissão parlamentar de inquérito sobre as merendas, sabe-se que Indio foi convocado a prestar depoimento, porque foi durante sua passagem pela Secretaria Municipal de Administração (ainda na gestão do ex-prefeito Cesar Maia) que o município do Rio de Janeiro celebrou um contrato de exclusividade com uma empresa para o fornecimento de merenda escolar no valor de R$ 80 milhões. A CPI apurou indícios de irregularidades na licitação que era de responsabilidade de Indio da Costa e enviou o relatório final ao Ministério Público. O caso, no entanto, terminou arquivado, sem que Indio fosse denunciado.
Procurada, a assessoria de Indio criticou a reportagem, dizendo que a “Lupa não achou [registros] porque não pesquisou direito a realidade”, mas também não indicou links ou documentos públicos capazes de sustentar a frase dita pelo candidato no debate da TV Globo.

“[Queria pedir para quem está em casa] entrar no Google e colocar aí ‘Eduardo Paes milícia’. Está lá a entrevista ao RJTV em 2006, quando ele foi candidato a governador, dizendo que a milícia era uma solução para a segurança”
Indio da Costa (PSD)
Verdadeiro
Uma busca pelos termos “Eduardo Paes Milícia” no Google na madrugada da quarta-feira (3), poucas horas após o fim do debate da TV Globo, apresentou os resultados da imagem acima, que atendem à descrição feita por Indio.
Em entrevista concedida ao RJTV em 2006, quando foi candidato ao governo do RJ pelo PSDB, Eduardo Paes fez elogios à “polícia mineira”. “A polícia mineira, formada por policiais e bombeiros, trouxe tranquilidade para a população” em algumas regiões do Rio de Janeiro. Paes citou especificamente a região de Jacarepaguá.
A frase está no primeiro vídeo apresentado no resultado do Google. O mesmo vídeo foi mencionado durante o debate da Record, na semana passada. Em nota, a assessoria de Eduardo Paes informou que se trata de uma entrevista concedida há 12 anos, que teve seu conteúdo “deturpado”. “O que foi dito na época pelo candidato é que impressionava o fato de policiais quando estavam sem farda conseguirem dominar uma comunidade já dominada pelo crime e quando estavam fardados não”.

“A construção civil é a principal empresa [setor] que emprega no estado do Rio de Janeiro”
Wilson Witzel (PSC)
Falso
Ao menos três setores empregam mais moradores do RJ do que a construção civil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE. No segundo trimestre de 2018, o setor empregou 525 mil trabalhadores no estado, atrás dos serviços domésticos (573 mil), da indústria (681 mil) e do comércio, reparação de veículos e motocicletas (1.317 mil).
Procurada, a assessoria do candidato afirmou que “o setor de construção civil é o que tem maior capacidade de rápida geração de empregos”. Acrescentou que, “diante da crise de corrupção nas três esferas de governo, houve a paralisação de grandes obras, o que contribuiu para o desemprego em maior escala no estado do Rio de Janeiro’.

“Hudson Braga fez delação premiada que envolve seu nome [Indio da Costa]”Wilson Witzel (PSC)
Verdadeiro
O candidato do PSC repetiu afirmação feita na última sexta-feira (28), durante debate da TV Record. Em abril de 2018, o ex-secretário de Obras do Rio de Janeiro Hudson Braga afirmou ter repassado dinheiro ao deputado federal Indio da Costa (PSD), que teria cobrado R$ 30 milhões para apoiar a candidatura de Luiz Fernando Pezão ao governo do RJ, em 2014. Procurado pela Lupa, Indio disse que a delação é “mentira”.

“Não deixei nenhuma dívida na prefeitura”
Eduardo Paes (DEM)
Ainda é cedo
Eduardo Paes é réu em uma ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público por suposto prejuízo de R$ 144,8 milhões causado aos cofres cariocas em decorrência de ações tomadas por ele em 2016, em seu último mês de mandato. De acordo com a denúncia, a prefeitura cancelou empenhos de até R$ 1,4 bilhão referentes a despesas rotineiras que não foram pagas nem inscritas como restos a pagar. A conclusão foi tomada pela Controladoria Geral do Município. Em junho deste ano, o Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM-RJ) concluiu que a operação não causou danos aos cofres da cidade, mas o processo tramita no Tribunal de Justiça do RJ e aguarda para ser julgado.
Procurado, o candidato informou que “a ação que tramita na Justiça foi movida antes de o relatório do TCM ser concluído”

“O Rio de Janeiro tem 3% dos presos trabalhando”
Eduardo Paes (DEM)
Verdadeiro
Em agosto deste ano, dados da Secretaria de Administração Penitenciária, divulgados pelo jornal O Globo mostraram que apenas 2.171 presos fluminenses exerciam algum tipo de atividade laboral – isso equivalia a 4% dos 51.787 apenados do estado. Vale destacar que o RJ não ofereceu dados ao Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias mais recente, de 2016, sobre o percentual de presos que trabalhavam em seu território. Esse estudo reúne informações de todo o país e costuma servir de base para comparações nacionais nessa área.

“Eu vou acabar com os postos de vistoria do Detran”
Pedro Fernandes (PDT)
De olho
No programa de governo que Pedro Fernandes (PDT) registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato afirma que os postos de vistoria do Detran precisam ser desburocratizados, mas não que deverão ser extintos. No documento, o candidato ainda critica a eficiência da estrutura.
Procurado, o candidato informou que “a proposta evoluiu e o programa de governo não foi atualizado”.

“Temos hoje 51 mil presos, quando a capacidade seria 28 mil presos”
Pedro Fernandes (PDT)
Verdadeiro
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen) mostra que, em junho de 2016, a população prisional do estado do Rio de Janeiro era de 50.219 – o que corresponde a 6,9% do total de presos no Brasil. Embora tenha pouco mais de 50 mil presos, o RJ tem apenas 28.443 vagas no sistema prisional. O levantamento do Infopen detalha ainda que 48.287 presos estavam privados de liberdade em unidades com déficit, enquanto apenas 1.928 estavam em unidades sem déficit.

“Quarto debate [na TV] e um tema nunca foi colocado: esporte”
Romário (Podemos)
Falso
Ao menos três candidatos – em dois debates diferentes – abordaram o tema esporte no primeiro turno da campanha eleitoral do Rio de Janeiro. No confronto promovido pela Record, no dia 28 de setembro, Pedro Fernandes (PDT) e Tarcísio Motta (PSOL) trocaram ideias sobre o setor e sua relação com o turismo. Pedro falou abertamente na criação de um “calendário esportivo e cultural para o ano inteiro”. Tarcísio concordou. No debate realizado pela Band, no dia 16 de setembro, Indio da Costa (PSD) disse que, quando foi secretário de Esportes de Eduardo Paes, hoje candidato ao governo pelo DEM, tentou fazer “um projeto sociocultural e esportivo” em áreas de UPPs, mas que a proposta não foi adiante.
Procurado, Romário não retornou.

“[Temos] Mais de 1,3 milhão de desempregados no estado”
Romário (Podemos)
Verdadeiro
O IBGE informa que o estado do Rio de Janeiro tinha 1.320.000 desempregados no segundo trimestre de 2018, último dado disponível para consulta pública. A taxa de desemprego em território fluminense nesse mesmo período foi de 15,4%.

“Cada real que se investe em saneamento, são quatro reais a menos que se gasta em saúde. São dados da Organização Mundial de Saúde”
Tarcísio Motta (PSOL)
Verdadeiro, mas...
A Organização Mundial da Saúde de fato divulgou um relatório  que apontava que, para cada dólar – não real – investido em água e saneamento, outros US$ 4,30 – e não US$ 4 – eram economizados em saúde. Na última cotação disponível no site do Banco Central, referente ao dia 2 de outubro (R$ 3,94), para cada dólar investido, a economia seria de R$ 16,94.
Procurado, Tarcísio informou que “todo centavo deve ser levado em conta quando o assunto é a saúde da população.”

“Seu vice [Romário]  está pedindo voto abertamente para este projeto [de Jair Bolsonaro]”
Tarcísio Motta (PSOL)
Verdadeiro
O candidato a vice-governador na chapa de Romário (Podemos) é Marcelo Delaroli (PR), e ele realmente tem feito campanha para o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. No último domingo (30), Delaroli fez uma transmissão ao vivo em seu Facebook  e pregou voto em Bolsonaro e em Romário. O PR, sigla a qual Delaroli é filiado, apoia nacionalmente a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência.
No debate, Romário afirmou que seu vice tem liberdade para pedir voto para quem considerar mais adequado.

“[Eram] As mulheres que recebiam as chaves no Minha Casa, Minha Vida”
Márcia Tiburi (PT)
Exagerado
O artigo 35 da Lei 11.977 de 2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, estabelece que “os contratos e registros efetivados no âmbito do PMCMV serão formalizados, preferencialmente, em nome da mulher” – não exclusivamente em nome delas, como sugeriu a candidata em sua fala. Em junho de 2015, a então ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Eleonora Menicucci, fez um balanço público do programa e informou que as mulheres eram as proprietárias em 89% das moradias do Minha Casa Minha Vida. Isso significa que 11% das chaves haviam sido entregues aos homens.
Procurada, a candidata informou que “apenas excepcionalmente não são as mulheres que recebiam as chaves das casas no programa”.

“Nossa situação [fiscal, do RJ]  é uma das piores do Brasil”
Marcia Tiburi (PT)
Verdadeiro
Desde junho de 2016 o Rio de Janeiro vive em estado de “calamidade financeira”. No ano passado, a Assembleia Legislativa aprovou a vigência deste regime até o fim de 2018. Com isso, de forma temporária, o governo estadual não precisa atender às determinações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Além disso, em setembro do ano passado, o estado aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal do governo federal. O acordo garantiu a suspensão do pagamento de dívidas com a União e a possibilidade de realizar novos empréstimos, exigindo que o RJ se comprometesse com uma série de medidas de austeridade. Entre elas estão o aumento no desconto dos salários dos servidores para pagamento de aposentadoria, a privatização da Cedae e a proibição de aumentos salariais para funcionários públicos.
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Ítalo Rômany
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