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Dez notícias falsas com 865 mil compartilhamentos: o lixo digital do 1º turno
07.10.2018 - 09h00
Rio de Janeiro - RJ
Foi colossal o volume de notícias falsas nas sete semanas do primeiro turno das eleições 2018. Dentro do Facebook, rede social em que os checadores profissionais conseguem atuar, marcando como falsos alguns dos conteúdos de má qualidade ali encontrados, os números mostram o tamanho do lixo digital do primeiro turno. Um cenário alarmante que tende a se agravar com a polarização que se anuncia para os próximos dias.
Levantamento feito pela Agência Lupa mostra que as 10 notícias falsas mais populares flagradas por seus checadores desde o mês de agosto tiveram juntas mais de 865 mil compartilhamentos no Facebook. Para se ter uma ideia, o volume é duas vezes superior ao número de compartilhamentos registrado pelo polêmico post que o Ceticismo Político fez sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) após a sua morte – e que acabou sendo retirado do ar pelo Facebook quando tinha 360 mil shares.
Estamos falando de um mar de informações truncadas que misturam fotos toscamente adulteradas, com textos maliciosos e mal escritos, vídeos antigos postados com legendas mentirosas que atestam se tratar de gravações recentes. Tudo – tudo mesmo – para enganar o eleitor e dividir ainda mais o Brasil que vai às urnas neste domingo (7).

Vídeos repostados em busca de popularidade

Na lista das três maiores mentiras flagradas pela Lupa no Facebook, duas se baseiam nesta lógica: dos vídeos velhos, sem qualquer adulteração, que são repostados fora de contexto. Em primeiríssimo lugar, com 238 mil shares e ainda circulando na rede social, está uma gravação feita em Campinas (SP) durante a partida do Brasil contra a Sérvia pela Copa do Mundo deste ano. O post traz a seguinte frase: “Ato em Campinas em prol da saúde do presidente Jair Messias Bolsonaro”. Só que não. A multidão de verde, amarelo e azul está mesmo é torcendo pela seleção em campo.
Em terceiro lugar no ranking das fakes mais pops, outro vídeo fora de contexto – também relacionado ao candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Em março de 2015, uma multidão foi à Avenida Atlântica, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para se manifestar contra a então presidente Dilma Rousseff. Gritavam o lema “eu vim de graça” e acompanhavam o carro de som do movimento Vem pra Rua. No último sábado (28), a gravação voltou ao Facebook com a seguinte legenda: “Olha Copacabana como está agora!!! Manifestação #Elesim”, em referência às manifestações de apoio a Bolsonaro. Até o último dia 3 tinha 90 mil compartilhamentos, mas é falsa igual nota de R$ 3.

Fotos adulteradas

Em segundo lugar, com 219,8 mil compartilhamentos, ficou uma foto adulterada preocupante, uma imagem que tomou o layout do portal G1 para espalhar, de forma maliciosa, a seguinte notícia falsa: “Jean Wyllys confirma convite de Haddad para ser ministro da educação em eventual governo do petista”.
O requinte dessa mentira chocou até mesmo os profissionais da checagem. Ela trazia até a assinatura de um ex-jornalista do portal de notícias da Globo. Mas tanto o deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro quanto Fernando Haddad, nome do PT para o Palácio do Planalto, negaram esse convite em nota. Isso sem falar na Folha de S.Paulo, que informou que o repórter citado na fake news agora trabalha em sua redação e jamais poderia assinar um conteúdo para o G1.
Para continuar na linha das imagens truncadas, ainda vale mencionar a oitava e a décima notícias falsas do ranking. Ambas consistem em fotos adulteradas. Com 33,8 mil shares e ainda ativa no Facebook, está a imagem de homens armados mostrando um cartaz de papelão onde se lê “Bolsonaru é bala. CV”. O próprio candidato do PSL chegou a compartilhar essa informação – e depois deletou. Ferramentas de checagem online mostram que há versões dessa foto na web desde 2016, pelo menos, e que esse cartaz nunca esteve lá.
Da mesma forma foi adulterada a camiseta do homem que foi agredido por petistas na fotografia que até a última quarta-feira já tinha sido compartilhada 24 mil vezes no Facebook com a legenda “Estão intimidado pessoas que estão adesivando os carros com apoio a Bolsonaro”. A foto foi feita em 2015, num protesto sobre a Petrobras. É fato que militantes com camisetas do PT agrediram um indivíduo. Mas ele usava uma camiseta branca – não uma com a bandeira do Brasil – e não militava em favor do candidato do PSL.

Teorias da conspiração

A exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos – onde a expressão “cheese pizza” foi traduzida como “child pornography”, dando caminho ao “pizzagate de Hillary Clinton (um dos maiores casos de fake news das eleições de 2016) -, aqui no Brasil as teorias da conspiração perturbaram as redes sociais. Encheram os celulares e os WhatsApps com dados de péssima qualidade.
Somando o número de compartilhamentos do texto falso que dizia que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu os códigos das urnas eletrônicas para os venezuelanos com o daquele que via na prisão do vice-presidente da Guiné Equatorial em Viracopos (SP) uma conexão com apoio do BNDES perdoado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chega-se a 135 mil compartilhamentos mentirosos. Acredita?
Essas são as únicas duas fake news em formato de texto a entrar no top 10. O que deve nos fazer pensar um pouquinho… Mas que fique registrado aqui: o TSE não deu código nenhum para a Venezuela, assim como o BNDES não apoiou grandes obras na Guiné Equatorial. Pode tê-lo feito para a Guiné… Bissau!

Questões morais e famosos

Para concluir, é preciso citar dois tipos de notícias falsas que me preocupam. O primeiro é os que lidam com questões morais e de cunho sexual, que insistem em proliferar no Brasil. Foi assim com a atriz Patrícia Pillar e Ciro Gomes, candidato do PDT ao Palácio do Planalto, que tiveram uma notícia falsa sobre uma agressão dele a ela – que não aconteceu – compartilhada mais de 35 mil vezes no Facebook. Também foi o caso do post-foto que atribuiu a Fernando Haddad uma longa fala falsa, na qual ele diria que cabe ao Estado decidir se uma criança será menino ou menina. O conteúdo teve 51 mil shares e levou o TSE a determinar sua retirada da rede.
O último grupo de fake news que nos preocupa apareceu já na última terça-feira de campanha. Tem a ver com falsos apoios públicos. Num Brasil onde a educação não é prioridade, o voto pode se dar a partir do que dizem os famosos, os influenciadores. Então, que fique aqui registrado. O jornalismo já flagrou alguns fake-endorsements: o padre Marcelo Rossi não declarou apoio a Jair Bolsonaro. O Boatos.org e o G1 mostraram isso em 14 de setembro. O apresentador José Luiz Datena também não. O vídeo que circula no Facebook foi editado e recebeu uma marca d’água do PSL.
Este artigo foi publicado na edição digital da revista Época.
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