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Na posse, João Doria erra ao afirmar que é o primeiro empresário a governar SP
05.01.2019 - 07h00
Rio de Janeiro - RJ
O empresário e político João Doria (PSDB) tomou posse como governador de São Paulo no dia 1º de janeiro. Na ocasião, discursou na Assembleia Legislativa e no Palácio dos Bandeirantes. Doria prometeu fazer uma gestão voltada para os mais pobres, com foco em educação, saúde e segurança. Defendeu também a redução da máquina pública e uma reestruturação de seu partido. A Lupa selecionou sete frases ditas pelo tucano e analisou o grau de veracidade delas. Confira, abaixo, o resultado:
“Pela primeira vez na história, o governo de São Paulo tem um empresário dirigindo e comandando os destinos do estado”
João Doria, governador de São Paulo, em discurso feito durante sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019
Falso
Não é a primeira vez que um empresário governa São Paulo. Além de João Doria, pelo menos outros três políticos exerceram essa profissão antes de comandar o estado. O último deles foi Paulo Maluf (1979-1982), que, nas décadas de 1950 e 1960, assumiu cargos importantes em pelo menos cinco empresas de sua família antes de se dedicar à política. A mais conhecida é a fabricante de pisos e portas Eucatex, criada em 1951 e até hoje em atividade.
O antecessor de Maluf no governo do estado foi o também empresário Paulo Egídio Martins (1975-1979). Além de ocupar o cargo de gerente geral da Companhia Geral de Minas, de 1958 a 1962, ele presidiu a Companhia Mineira de Alumínio, de 1962 a 1966. Antes de Martins, o empresário Laudo Natel foi governador de São Paulo entre 1966 e 1967 e de 1971 a 1975. Ele foi convidado para trabalhar no Bradesco na sua fundação, em 1943, e a partir de 1950 tornou-se um dos diretores do banco.
Procurado, Doria não retornou.

“Serão 52 doações de salários [meus] em quatro anos, totalizando mais de R$ 1,4 milhão”
João Doria (PSDB), governador de São Paulo, em discurso feito durante sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019
Exagerado
Somados os valores que Doria receberá em 52 meses de gestão como governador de São Paulo, as doações poderiam chegar a, no máximo, R$ 885.792,28 – e não ao R$ 1,4 milhão que ele citou.
Esse valor leva em consideração o salário líquido mensal do governador – R$ 16.650,52 recebidos em novembro pelo antecessor de Doria, Márcio França (PSB), segundo o Portal de Transparência – e a remuneração relativa às férias – R$ 7.462 anuais.
A Lei Estadual nº 16.667/2018 estabeleceu um subsídio de R$ 22.388,14 para o governador de São Paulo, que se mantém até hoje. Deste valor, é descontada uma alíquota de 27,5%, referente ao Imposto de Renda.
Procurado, Doria enviou a seguinte nota, por meio da sua assessoria de imprensa: “O governador João Doria divulgou um valor referente aos seus vencimentos brutos, dos quatro anos de governo. Ele, como qualquer cidadão brasileiro, tem seus impostos recolhidos em folha de pagamento. Por se tratar de uma doação, de acordo com a lei, poderia deduzir o valor na sua declaração anual, mas nunca o fez e não o fará. A diferença entre os dois valores não anula a grandeza do ato da doação”.

“O Poupatempo (…) se tornou uma referência nacional e é realizado por servidores públicos”
João Doria (PSDB), governador de São Paulo, em discurso feito durante sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019
Exagerado
Apesar de haver servidores públicos trabalhando nos postos do Poupatempo, a maior parte dos funcionários é terceirizada. De acordo com a assessoria de imprensa do programa, os terceirizados representam 52,3% do total de 10,7 mil pessoas que trabalham no Poupatempo – o equivalente a 5,6 mil pessoas. O restante do quadro – 47,7%, ou 5,1 mil trabalhadores – é formado por funcionários da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) e servidores e funcionários de órgãos federais e municipais que também integram o serviço.
Procurado, Doria respondeu, por meio da sua assessoria de imprensa, que “todo terceirizado do programa presta serviço público, ou seja, serviços direto para a população, independente da natureza de contratação deles.”

“Na Câmara Municipal de São Paulo, fiz (…) 13 visitas em 15 meses de gestão”
João Doria, governador de São Paulo, em discurso feito durante sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019
Verdadeiro, mas...
Como prefeito, João Doria, de fato, esteve 13 vezes na Câmara Municipal de São Paulo para encontros com os vereadores da capital. Mas em 12 de 14 meses possíveis – e não em todos os 15 meses de gestão, como citou em seu discurso de posse. Doria se comprometeu a ir à Câmara em todos os meses nos quais houvesse atividades – a exceção ficaria por conta dos períodos de recesso parlamentar. No entanto, ele não foi à Casa em agosto de 2017 e em fevereiro de 2018, períodos normais de atividades.
Além disso, falou com os parlamentares em 10 visitas – e não em todos os comparecimentos, como havia prometido. As conversas ocorreram de março a junho de 2017, de setembro a dezembro de 2017 e em março e abril de 2018, três dias antes de deixar o cargo. Doria também participou da primeira sessão legislativa dos parlamentares eleitos em 2016, que ocorreu em 1º de fevereiro de 2017. Em março daquele ano, ele voltou à Câmara para entregar o plano de metas da sua gestão. Além disso, em julho de 2017, participou apenas de uma sessão solene em comemoração aos 85 anos do Movimento Constitucionalista de 1932.

“Vou doar todos os meus salários às instituições humanitárias como fiz ao longo de 15 meses na prefeitura de São Paulo”
João Doria (PSDB), governador de São Paulo, em discurso durante sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019
Verdadeiro
Doria anunciou publicamente a doação de 14 dos 16 salários recebidos como prefeito da capital paulista, incluindo o 13º. Em cada uma dessas ocasiões, o tucano deu a uma entidade um cheque com o valor líquido do seu salário, de R$ 17.948. Por telefone, a assessoria de comunicação da Prefeitura informou que os dois últimos vencimentos, de fevereiro e março de 2018, foram entregues pela então secretária municipal dos Direitos Humanos, Eloísa Arruda. Assim, os 16 salários de Doria como prefeito foram, de fato, destinados a instituições humanitárias.

“[O atendimento do] Poupatempo (…) [tem] quase 100% de aprovação”
João Doria (PSDB), governador de São Paulo, em discurso durante sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019
Verdadeiro
Nos seus dois discursos de posse, Doria citou o Poupatempo como exemplo de serviço público a ser seguido. De fato, o programa contou com um índice médio de aprovação de 98% em 2017 (ver aqui e aqui), segundo pesquisa encomendada pelo próprio governo do estado feita pela empresa DKS Eventos. O levantamento divulgado no ano anterior, feito pela Praxian Business & Marketing Specialists, identificou um índice de aprovação ainda mais alto, de 99% para o público atendido em 2016. As pesquisas têm intervalo de confiança de 95% e, de acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a margem de erro é de 1,14%.
Há outra pesquisa que coloca o Poupatempo como o melhor serviço público do estado, feita pelo Instituto Datafolha. O programa venceu a disputa por quatro anos seguidos. Não é avaliado nesse caso, no entanto, o grau de satisfação com o serviço prestado.
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Ítalo Rômany
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