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Quatro das 10 postagens que mais viralizaram sobre saúde (em inglês) em 2018 não eram confiáveis
11.02.2019 - 12h30
Rio de Janeiro - RJ
“Estudo do governo revela que maconha é 100 vezes menos tóxica do que álcool e mais segura do que tabaco”. “Organização Mundial da Saúde declara: bacon é mais perigoso do que cigarro”. “Noodles causam inflamação crônica, ganho de peso e Alzheimer”. “Cebolas são remédios naturais”. “Bebê de dois anos morre 48 horas depois de tomar oito vacinas”.
Falso. Falso. Falso. Todas as manchetes listadas acima são inverídicas. Mesmo assim, tiveram juntas mais de 2,5 milhões de compartilhamentos nas redes sociais em 2018 e entraram para a lista das 100 informações mais populares sobre saúde (escritas em inglês) no ano passado.
Estudo publicado no último dia 28 pelo site Health Feedback, que reúne uma rede de cientistas dispostos a combater a desinformação digital em suas respectivas áreas de conhecimento, concluiu que dos 10 artigos de saúde que mais viralizaram em inglês no ano passado quatro tinham “credibilidade baixa” ou “nenhuma credibilidade”.
Para chegar a esse dado, o grupo de especialistas desenhou uma metodologia de trabalho transparente. Usando o BuzzSumo, ferramenta de monitoramento de redes sociais à qual os checadores profissionais têm acesso, fizeram buscas com as palavras (em inglês) “vacinas”, “doença”, “saúde”, “vírus” e “sistema imune”. Excluíram dos resultados todas as postagens que versavam sobre políticos e políticas públicas, bem como aquelas que eram essencialmente opinativas. Em seguida, ordenaram as restantes pelo número de interações (compartilhamentos, curtidas e comentários) – do maior por menor. E, por fim, chamaram diversos médicos e especialistas para, junto com eles, classificar o material, usando uma escala de cinco níveis de credibilidade: muito alta, alta, neutra, baixa e muito baixa.
Quando o campo de estudo foi ampliado – saindo dos 10 artigos mais compartilhados para a lista completa dos 100 – o dado ficou ainda mais assustador: menos da metade das postagens ganhou o selo de informação com credibilidade “muito alta”. E mais: ficou evidente que o uso de manchetes sensacionalistas que acabam “contendo exageros e falácias” ajuda nisso – algo que os checadores profissionais brasileiros já apontam há tempos.
Para fazer frente a essa avalanche fatal de desinformação, em agosto de 2018, o Ministério da Saúde abriu um canal em seu site e publica com frequência verificações. Entre os dias 1º e 5 deste mês, a plataforma fez oito postagens. Em seis delas, a informação avaliada levou o selo de falsa. Entre elas, estava, por exemplo, uma que “informava” que fruta cura câncer e outra que sustentava que este mês de fevereiro tem sido “o mais quente da história”.
Ah! E antes que haja qualquer dúvida sobre a inexatidão daquelas manchetes listadas no início desta coluna, segue o link do Health Feedback para cada uma delas. São textos – novamente em inglês – que apontam a falta de fontes, a falta de crítica a estudos feitos a partir de metodologias pobres e/ou com universos inexpressivos e muito mais. Vale a leitura.
“Estudo do governo revela que maconha é 100 vezes menos tóxica do que álcool e mais segura do que tabaco”.
Leia a íntegra da análise aqui (em inglês).
“Organização Mundial da Saúde declara bacon mais perigoso do que cigarro”.
Leia a íntegra da análise aqui (em inglês).
“Noodles causam inflamação crônica, ganho de peso e Alzheimer”.
Leia a íntegra da análise aqui (em inglês).
“Cebolas são remédios naturais”. “Bebê de dois anos morre 48h depois de tomar oito vacinas”.
Leia a íntegra da análise aqui (em inglês).
Este artigo foi publicado no site da revista Época em 11 de fevereiro de 2019.
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