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Paulo Guedes erra ao falar sobre o aumento do déficit da Previdência
29.03.2019 - 07h01
Rio de Janeiro - RJ
A ida do ministro da Economia, Paulo Guedes, à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado na tarde da quarta-feira (27) ajudou a derrubar o Índice da Bolsa de Valores em 3,57% e fez com que o dólar fechasse próximo a R$ 4. Na audiência, Guedes errou ao falar sobre déficit da Previdência, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e pirâmide populacional, entre outros temas. Veja a seguir as checagens:
“O déficit [da Previdência] aumenta R$ 40 bilhões a cada ano”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em audiência realizada no Senado no dia 27 de março de 2019
Falso
O Relatório Resumido da Execução Orçamentária de dezembro de 2018 mostrou que, entre 2017 e 2018 (dado mais recente disponível), o déficit da Previdência aumentou R$ 17 bilhões – número abaixo dos R$ 40 bilhões citados pelo ministro no Senado.
Vale destacar, no entanto, que os relatórios produzidos pelo Tesouro Nacional tiveram a metodologia alterada recentemente. O relatório de dezembro de 2018 já traz os dados com a nova metodologia para 2017 e 2018, o que permitiu a comparação acima.
O relatório de dezembro de 2017, feito com a norma antiga, mostrava que o déficit da Previdência naquele ano tinha sido de R$ 256 bilhões. O de 2016 apontou um déficit de R$ 216 bilhões. Logo, entre esses dois anos, a alta foi de R$ 40 bilhões. Mas essa metodologia já não está vigente. Veja todos os dados sobre esse assunto aqui.
Procurada, a assessoria de Paulo Guedes aformou que o déficit da previdência cresceu em média R$ 36,5 bilhões no período de 2016 a 2018. No entanto, é equivocado calcular uma média entre resultados apurados utilizado metodologias diferentes, como neste caso.

“Durante três quartos do século passado, [o Brasil] cresceu 7,4%”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em audiência realizada no Senado no dia 27 de março de 2019
Exagerado
A série histórica do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ao longo do século 20 mostra que o país cresceu, em média, 5,6% ao ano entre 1900 e 1975. O último quarto do século, que vai de 1975 a 2000, registrou uma taxa média mais baixa, de 3,4%. Fazem parte desse período os anos 1980, chamados de “década perdida” por conta de problemas econômicos, como a hiperinflação, a explosão da dívida externa e a recessão. Quando se leva em conta esses números, o país teve um crescimento médio do PIB de 5% em todo o século passado.
Os dados do PIB até 1946 são estimativas. Depois dessa data, eles passaram a ser feitos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, a partir de 1990, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Procurada para comentar esta checagem, a assessoria de Paulo Guedes informou que o crescimento brasileiro, de 1950 até 1975, foi de 7,4%. De acordo com o ministério, o dado é o mais confiável disponível, uma vez que o Brasil só começou a a publicar informações sobre o PIB em 1949. O número, no entanto, se refere a um quarto de século. Em sua fala, Guedes disse que o crescimento de 7,4% havia ocorrido em três quartos do século passado.

“A média de crescimento [do Brasil] nos últimos 30 anos está abaixo de 2%”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em audiência realizada no Senado no dia 27 de março de 2019
Exagerado
No período que vai de 1988 a 2018, o Brasil teve uma média de crescimento do PIB de 2,2% ao ano, de acordo com dados do IBGE. A série histórica, disponível no site, vai até 2016. Para o cálculo da média dos últimos 30 anos, citados pelo ministro, foram incluídos os crescimentos de 2017, de 1%, e de 2018, de 1,1%.
Houve retração em 1990 (-4,3%), 1992 (-0,5%), 2009 (-0,1%), 2015 (-3,8%) e 2016 (-3,6%), o que puxou a média do período citado por Guedes para baixo. Os anos 2000 tiveram as mais altas taxas de crescimento, chegando a 7,5% em 2010, e a 6,1% em 2007.
Procurada, a assessoria de Paulo Guedes disse que o ministro quis ilustrar que o crescimento foi “consistentemente muito baixo” e que a conclusão seria a mesma se ele tivesse falado o número correto.

“A pirâmide demográfica brasileira está virando, na verdade, um losango. Já virou”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em audiência realizada no Senado no dia 27 de março de 2019
Falso
O site do IBGE mostra a pirâmide populacional do Brasil em 2018 (ano mais recente disponível) e a forma abaixo – extraída desse site – não é um losango. De acordo com o Wolfram MathWorld, losango é um quadrilátero formado por quatro lados de igual comprimento, com dois ângulos agudos e dois obtusos.
Procurada, a assessoria de Paulo Guedes informou que o percentual de jovens está diminuindo no país. “Ao se referir à figura geométrica losango, o que se quer ilustrar é que a base da pirâmide populacional não é mais composta pela maior proporção populacional, e está diminuindo continuamente.”

“O envelhecimento [no Brasil] está em torno de 10%, 11%, [considerando] os idosos como fração da população”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em audiência realizada no Senado no dia 27 de março de 2019
Subestimado
Dados do IBGE mostram que, em 2018, os idosos correspondiam a 13% da população brasileira – percentual acima do citado pelo ministro no Senado. O número faz parte de um estudo de Projeções da população do país e de seus estados que foi divulgado em julho do ano passado. Segundo o instituto, a estimativa é de que a população com mais de 60 anos chegue a 32% do total de brasileiros em 2060.
Procurada, a assessoria de Paulo Guedes disse que a taxa de envelhecimento é elevada em comparação a dados anteriores.
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