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No Senado, ministro da Educação exagera orçamentos do MEC e de universidades federais
10.05.2019 - 07h01
Rio de Janeiro - RJ
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu o contingenciamento de cerca de 30% nas despesas não obrigatórias das universidades federais, em audiência pública no Senado. Em conversa com os parlamentares, ele disse que é preciso investir mais em educação básica e no ensino técnico do que na formação superior. Weintraub ainda prometeu levar o Brasil a alcançar a nota do Chile no Pisa, exame internacional que mede o desempenho dos estudantes. A Lupa checou algumas das falas do ministro. Veja o resultado:
“O orçamento [do MEC] antes de ser contingenciado (…) estava em R$ 150 bilhões por ano”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Exagerado
A Lei Orçamentária Anual de 2019 destinou R$ 122,9 bilhões para o Ministério da Educação neste ano. O número citado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, é, portanto, 22% maior do que o valor real.
Nos quatro anos anteriores, os valores repassados à pasta também ficaram abaixo disso, de acordo com dados disponíveis no Portal da Transparência. A média anual de despesas do ministério no período de 2015 a 2018 foi de R$ 113,7 bilhões.
Procurada para comentar, a assessoria do ministro não retornou.

“Uma universidade [federal] na média custa R$ 1 bilhão”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Exagerado
O custo médio de cada uma das 68 universidades federais, de acordo com dados disponíveis na Lei Orçamentária Anual de 2019, está previsto em R$ 729,7 milhões em 2019. O número citado pelo ministro da Educação é 37% maior do que o real. Se forem considerados também os hospitais universitários vinculados a essas unidades, o valor sobe para R$ 830,7 milhões – ainda assim, abaixo do citado por Weintraub.
O maior orçamento previsto é o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve reservados R$ 3,1 bilhões para 2019. Já o menor é o da recém-criada Universidade Federal de Catalão, em Goiás, que tem previsão de receber R$ 28 milhões este ano. Ao todo, apenas 16 das 68 instituições, ou 23,5% do total, vão receber mais de R$ 1 bilhão.
Procurada para comentar, a assessoria do ministro não retornou.

“No Brasil morreram 2 milhões desde 1990 [em homicídios]”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Exagerado
O Brasil teve um total de 1.250.460 homicídios de 1990 a 2016 – e não 2 milhões, como afirmou o ministro da Educação. O número citado pelo ministro é 60% maior do que o valor real. O dado estaria correto caso houvesse mais de 68 mil homicídios por ano desde 1990 – o que não ocorreu.
Procurada para comentar, a assessoria do ministro não retornou.

“A gente já recebeu mais de 20 reitores nos últimos 30 dias”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Verdadeiro
A análise das agendas dos dirigentes do Ministério da Educação mostra que houve reuniões com 20 reitores das universidades federais nos últimos 30 dias. O ministro Abraham Weintraub não recebeu nenhum dos dirigentes, que, em sua maioria, tiveram reuniões com o secretário de Educação Superior, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior. Os encontros concentraram-se entre os dias 23 de abril e 3 de maio de 2019.
Houve reuniões com a reitora da Universidade de Brasília (UnB), em 3 de maio; com o reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 30 de abril; com os reitores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em 25 de abril; com os reitores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em 24 de abril; e com os reitores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 23 de abril.
O diretor de Políticas e Programas da Educação Superior, Antônio Correa Neto, teve uma reunião com o reitor da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em 24 de abril.
Procurada para comentar, a assessoria do ministro não retornou.
Correção às 17h do dia 16 de maio de 2019: Diferentemente do que foi informado, houve mais dois encontros do secretário de Educação Superior, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, com reitores no dia 24 de abril. As reuniões foram com os dirigentes da UFRJ e Ufopa, o que fez o total de reitores recebidos no MEC subir de 18 para 20. Por isso, a etiqueta dessa checagem foi trocada de “exagerado” para “verdadeiro”.
(A análise das agendas dos dirigentes do Ministério da Educação mostra que houve reuniões com 18 reitores das universidades federais nos últimos 30 dias.)

“Hoje, 30% das crianças têm acesso a creche no Brasil, pública e privada”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Subestimado
Segundo o Anuário de Educação da ONG Todos Pela Educação de 2018, 34,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches em 2017, dado mais recente disponível. O valor é 13,6% superior ao citado por Weintraub.
De 2016 a 2017, houve um aumento no número de crianças que foram incluídas nessa etapa de ensino. Em 2016, 31,9% das crianças frequentavam creches. O Todos Pela Educação destacou, em seu anuário, que a meta do Plano Nacional de Educação para universalização do acesso a creches ainda está longe. “Embora o aumento da cobertura tenha uma trajetória positiva, seu ritmo projeta o não-cumprimento da meta estabelecida pela legislação, no prazo previsto”.
Procurada para comentar, a assessoria do ministro não retornou.

“A gente ainda tem 10% das crianças sem serem assistidas pela pré-escola”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Exagerado
O Anuário de Educação da ONG Todos Pela Educação de 2018 mostra que 7% das crianças de 4 a 5 anos não frequentavam a pré-escola no Brasil em 2017, dado mais recente disponível. O número é menor do que o citado pelo ministro. Segundo a entidade, 93% das crianças em idade pré-escolar estavam assistidas nesta etapa de ensino.
Procurada para comentar, a assessoria do ministro não retornou.

“Se a gente subir 50 pontos no Pisa, a gente fica igual ao Chile”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 7 de maio de 2019
Verdadeiro
Segundo o Pisa de 2015, último realizado pela OCDE, se o Brasil subir 50 pontos nos três rankings do estudo a pontuação brasileira, de fato, ficaria perto da pontuação do Chile.
Em ciência, os estudantes brasileiros conseguiram 401 pontos, enquanto os chilenos chegaram a 447. Isso corresponde a uma diferença de 46 pontos. Já na avaliação de  leitura, o Brasil ficou com 407 pontos, e o Chile, com 459 – uma diferença de 52 pontos. Por último, em matemática, o Brasil conseguiu 377 pontos, e o Chile, 423 – diferença de 46 pontos.
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Ítalo Rômany
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