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Deputados do PSL e da esquerda crescem em redes sociais e acirram polarização política
26.07.2019 - 07h00
Rio de Janeiro - RJ
A polarização já observada nos últimos tempos em redes sociais se acirrou no que diz respeito ao desempenho dos atuais deputados federais brasileiros no Facebook e no Twitter. No primeiro semestre da atual legislatura da Câmara, os congressistas do PSL e da esquerda – PT, PCdoB e PSOL – foram os que mais cresceram em visibilidade no Facebook e no Twitter.
Eles aumentaram suas interações com os usuários e seu número de seguidores – e, ao mesmo tempo, esmagaram os deputados do Centrão, que viram seu número de interações com o público cair, principalmente no Facebook.
De fevereiro até junho, a resposta dos usuários do Facebook a publicações de deputados de esquerda e do PSL cresceu 78,6% e 58,2%, respectivamente. Já as interações em publicações de congressistas do Centrão, o grupo mais numeroso de deputados, caíram 22,8%.
No Twitter, houve um crescimento do impacto de deputados de centro-esquerda (PDT e PSB, 127,8%) e do Novo (242,5%). Mesmo assim, PSL e a esquerda, juntos, continuaram com a imensa maioria da audiência: 82,5% do total ao longo do período.
Para o sociólogo e pesquisador da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Dapp) Amaro Grassi, a natureza das redes explica uma parte dessa concentração — mas não o todo. Ainda que os algoritmos e outros mecanismos das redes favoreçam a formação de “bolhas” ideológicas, a natureza do debate político também contribui para esse fenômeno.
“Eu não colocaria toda a responsabilidade na plataforma. Acho que tem muito da forma como o debate político tem se estruturado atualmente. O debate é muito pouco mediado pelos partidos, ou mesmo pela mídia. Isso acaba favorecendo posicionamentos mais ideologicamente demarcados”, diz Grassi.

Deputados ficaram mais ativos e mais populares

Ao longo do primeiro semestre, os deputados ficaram mais ativos e mais populares: o número de posts publicados no Facebook cresceu 17,9%, enquanto o número de interações do público com essas publicações subiu 33,2%. Os deputados “tuiteiros” postaram 26,2 mil vezes nas semanas finais da legislatura, em junho – contra 18,4 mil no início, em fevereiro. Essas publicações geraram, no mês passado, 22,8 milhões de interações, contra apenas 12,2 milhões em fevereiro.
Durante todo o período, houve momentos de maior e menor atividade nas redes sociais. No Facebook, o maior pico foi registrado na semana entre os dias 9 e 15 de junho, quando o site The Intercept divulgou os primeiros vazamentos de conversas do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da operação Lava Jato, com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, então juiz responsável pelo caso.
No Facebook, foram 7.667 publicações feitas pelos deputados, que geraram um total de 14,2 milhões de interações com usuários. Nesta semana, especificamente, deputados de esquerda receberam mais audiência do que os do PSL: 5,2 milhões contra 4,6 milhões. No Twitter, a semana foi a terceira mais movimentada: os 7.905 tuítes geraram 6,1 milhões de interações. Aqui, a direita se saiu melhor: concentrou 44,7% das interações, contra 39,3% da esquerda.
Em outras seis semanas, o total de interações passou dos 10 milhões no Facebook. Em fevereiro, houve um primeiro pico com a apresentação da reforma da previdência. Em abril, os convites a ministros para questionamentos em comissões foram a principal pauta. Em maio, foi a vez dos protestos pela educação aumentarem a atividade dos congressistas na rede. Por fim, nas três últimas semanas antes do recesso parlamentar, quando a reforma foi efetivamente votada em comissão e no plenário, as publicações dos deputados atingiram esse patamar novamente – no Twitter, as duas semanas mais movimentadas foram as duas últimas.

Metodologia

A Lupa chegou a esses números a partir do monitoramento de 496 contas oficiais de deputados federais no Facebook e 436 no Twitter usando a ferramenta Crowdtangle. Os dados foram compilados em períodos de uma semana, iniciadas a cada domingo. Os deputados foram agrupados em 7 grupos, com base em sua filiação: PSL, esquerda (PT, PCdoB e PSOL), centro-esquerda (PDT, PSB), Centrão (MDB, PP, PL, PSD, SD, Podemos, PTB, PSC, PROS, PMN, Patriota, Avante, PHS, PRP, PRB), PSDB/DEM, Novo, e Outros. Foram considerados somente deputados ativos no dia 18 de julho, primeiro dia do recesso – ou seja, deputados licenciados não entraram na conta. Veja os dados aqui.
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