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É falso que pai de presidente da OAB foi executado por companheiros na ditadura
30.07.2019 - 14h49
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelas redes sociais um post com a afirmação de que Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira – pai de Felipe Santa Cruz, atual presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – foi morto por seus companheiros durante a ditadura. Ele integrou a Ação Popular (AP) e a Ação Popular Marxista Leninista (APML), duas organizações de esquerda que lutaram contra o regime militar. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Confirmado!!! Pai do presidente da OAB foi executado pelos próprios comparsas após ter sido liberado pelo DOI-CODI-RJ”
Legenda de post que, até as 12h de 30 de julho de 2019, tinha mais de 1,6 mil compartilhamentos no Facebook
Falso
A informação, checada pela Lupa, é falsa. Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi morto por agentes a serviço do Estado após ser detido no Rio de Janeiro, provavelmente em 23 de fevereiro de 1974. O atestado de óbito de Oliveira foi emitido pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, no dia 24 de julho deste ano. O corpo dele nunca foi encontrado.
A história de Oliveira foi descrita no relatório final produzido pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída no governo Dilma Rousseff (PT) para investigar os casos de mortes e desaparecimentos de militantes durante a ditadura. O órgão foi criado em 18 de novembro de 2011 e encerrou suas atividades em dezembro de 2014. Uma versão resumida sobre o que aconteceu com o pai do presidente da OAB também está disponível no site Memórias da Ditadura.
A família viu Oliveira pela última vez em 23 de fevereiro de 1974, durante o Carnaval. Ele deixou a casa do irmão para se encontrar com um amigo, Eduardo Collier Filho, também militante. Ao sair, avisou aos familiares que, se não voltasse até as 18 horas daquele dia, teria sido preso. Depois disso, ele e Collier Filho nunca mais foram vistos.
As famílias de ambos passaram a procurá-los, sem sucesso. Ao visitarem a sede do II Exército, em São Paulo, ouviram de um funcionário que os dois militantes estariam presos na sede do DOI-Codi. Quando retornaram para a visita, ouviram de outro funcionário que tinha havido um engano, e eles não estavam detidos no local. A busca prosseguiu nos anos posteriores, sem sucesso.
O governo da época chegou a dizer que Oliveira estava foragido e tinha passado a viver na clandestinidade. Um documento secreto do Ministério da Aeronáutica, de 1978, afirma, contudo, que ele foi preso em 22 de fevereiro de 1974 – o que confirma que o seu desaparecimento ocorreu sob tutela do Estado.
Em depoimento à CNV em 7 de fevereiro de 2014, o ex-sargento do Exército Marival Chaves Dias do Canto disse que havia um esquema de transferência de presos para locais clandestinos da repressão. Em outro depoimento à CNV, em 23 de julho de 2014, o ex-delegado do Dops Claudio Guerra afirmou que o corpo de Oliveira teria sido incinerado na Usina Cambahyba, em Campos de Goytacazes (RJ).
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.
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João Pedro Capobianco
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