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Lupa
Weintraub erra sobre ranking de universidades, gastos do MEC e criação da aspirina
03.08.2019 - 16h01
Rio de Janeiro - RJ
Na última quinta-feira (1º), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi entrevistado no programa Morning Show, da rádio Jovem Pan. Na ocasião, ele citou dados sobre universidades federais, falou do gasto da União com educação básica e declarou que a aspirina foi inventada por nazistas. A Lupa checou esta e outras declarações do ministro, confira:
“Veja, a aspirina foi feita pelos nazistas e eu uso aspirina”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Falso
A aspirina, ou ácido acetilsalicílico, foi sintetizada pela primeira vez pelo laboratório alemão Bayer, em 1897, e teve sua marca registrada e patenteada em 1899. Segundo a Bayer, a aspirina chegou no Brasil em 1901. Por sua vez, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista, foi fundado na Alemanha em 1920, e chegou ao poder em 1933 – ou seja, 36 anos depois da invenção do medicamento.
Procurado, o ministro não respondeu.

“Hoje, no Brasil, o MEC gasta mais com professor federal aposentado do que a gente manda para os estados e municípios em educação básica”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Falso
Segundo o Portal da Transparência do governo federal, a União transferiu aos municípios e estados brasileiros R$ 20,5 bilhões para a educação básica em 2018. Esse valor é consideravelmente superior às despesas do governo com todos os aposentados das universidades e fundações universitárias federais: R$ 11,1 bilhões, segundo o Painel Estatístico de Pessoal (PEP) da União. Não há dados no PEP sobre o valor total gasto com categorias específicas.
Desses R$ 20,5 bilhões, R$ 13,8 bilhões foram transferidos a título de complementação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Outros R$ 4 bilhões foram para alimentação escolar, R$ 1,2 bilhão para infraestrutura da educação básica, R$ 828 milhões para o desenvolvimento da educação básica e mais R$ 665 milhões para transporte escolar.
Além das transferências citadas acima, outros R$ 38,1 bilhões foram repassados diretamente da União para o Fundeb – e, posteriormente, para governos estaduais e prefeituras – como cota-parte de impostos federais. Todos os estados e municípios têm direito a uma parcela da arrecadação de impostos federais. De acordo com a Emenda Constitucional 53/2006, que criou o fundo, 20% desses recursos devem ser remetidos diretamente ao fundo.
O Fundeb foi criado, de forma provisória, em 2006, substituindo o hoje extinto Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental (Fundef), e tem a finalidade de financiar a educação pública básica no país. No ano passado, distribuiu R$ 89,5 bilhões para municípios e R$ 63,1 bilhões para os estados, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional (STN).
Procurado, o ministro não respondeu.

“Aqui no Brasil, não tem nenhuma [universidade entre as 100 melhores do mundo]”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Verdadeiro, mas...
A edição mais recente do QS World University Ranking – uma lista que classifica as melhores universidades do mundo, publicada pela editora Quacquarelli Symonds, do Reino Unido – não mostra nenhuma universidade brasileira entre as 100 melhores do mundo no ranking geral. A Universidade de São Paulo (USP), no entanto, fica entre as 100 melhores em cinco grupos de conhecimento, quando se observa o ranking temático: Ciências Sociais e Administração (69ª posição), Ciências Naturais (71º lugar), Artes e Humanidades (76º lugar), Ciências da Vida e Medicina (93ª posição) e Engenharia e Tecnologia (89º lugar).
Quando consideradas áreas específicas, a USP teve nove áreas classificadas entre as 50 melhores do mundo: Odontologia (20ª), Ciências do Esporte (27ª), Línguas Modernas (30ª), Engenharia de Minérios e Minas (33ª), Geografia (42ª), Arquitetura (44ª), Direito (45ª), Engenharia Civil (45ª) e Agricultura e Silvicultura (49ª).
Outras 19 áreas da USP ficaram entre a 51ª e a 100ª posição. Arte e Design; História; Ciência da Computação e Sistemas de Informação; Engenharia Química; Engenharia Elétrica e Eletrônica; Engenharia Mecânica, Aeronáutica e de Produção; Anatomia e Fisiologia; Medicina; Enfermagem; Farmácia e Farmacologia; Ciências da Terra e Marinha; Ciência Ambiental; Matemática; Física e Astronomia; Contabilidade e Finanças; Antropologia; Política e Estudos Internacionais; Sociologia; e Estatística
O ranking leva em conta uma série de critérios, que incluem a reputação acadêmica, o número de citações de artigos científicos, a relevância das menções (h-index) e a reputação dos empregadores dos ex-alunos.

“A melhor posição é da USP e está depois da 250 [entre as melhores universidades do mundo]”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Falso
A USP está no 116º lugar entre as melhores universidades do mundo, de acordo com o levantamento mais recente do QS World University Ranking, divulgado em fevereiro. Na América Latina, só foi superada pela Universidade de Buenos Aires, na Argentina (74º lugar), e pela Universidade Nacional Autônoma do México (103ª posição).
Procurado, o ministro não respondeu.

“E [universidade] federal está depois da 600 [no ranking das melhores do mundo]”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Falso
Ao contrário do que diz o ministro, duas universidades federais estão entre as 600 melhores do mundo, segundo o QS World University Ranking: a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que está em 358º lugar, e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na 439ª posição. Além destas e da USP, há outras duas universidades brasileiras entre as 600 melhores: a Universidade de Campinas (Unicamp, na 214ª posição) e a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp, na 482ª colocação). Ambas são estaduais e paulistas.
Procurado, o ministro não respondeu.

“Na América do Sul a gente tá em penúltimo lugar [no Pisa], coladinho no Peru”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Insustentável
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), avaliação internacional que mede o nível educacional dos jovens de 15 anos em diferentes países, é feito em três disciplinas: matemática, leitura e ciências. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela avaliação, não publica um ranking único englobando as disciplinas. Portanto, não é possível dizer que o Brasil ou qualquer país está em uma posição determinada no geral, apenas nas em disciplinas específicas.
Além disso, apenas cinco países sul-americanos participaram da última edição do Pisa: Brasil, Colômbia, Uruguai, Chile e Peru – além da Comunidade Autônoma de Buenos Aires, na Argentina. Ou seja, não há dados para o interior da Argentina e para Paraguai, Bolívia, Equador, Venezuela, Suriname e Guiana.
Na última edição desta avaliação, realizada em 2015, o Brasil estava na penúltima colocação entre os países sul-americanos que participaram do teste em leitura e ciências, à frente apenas do Peru. Em matemática, o Brasil ficou atrás de todos os participantes da região. Veja os dados aqui.
Procurado, o ministro não respondeu.

“80% (…) das pessoas que fazem o ensino superior no Brasil estão em instituições privadas”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Verdadeiro
Os dados da Sinopse Estatística da Educação Superior de 2017, do Inep, mostram que 77,91% das pessoas matriculadas no ensino superior no Brasil estão em instituições privadas. Naquele ano, houve 11.578.772 matrículas no país – 9.021.838 da rede privada e 2.556.934 da rede pública, incluindo instituições federais, estaduais e municipais. Veja os dados aqui.

“O analfabeto hoje é uma pessoa, de um modo geral, estatisticamente falando, velha”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em entrevista ao Morning Show no dia 1º de agosto de 2019
Verdadeiro
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, a maioria dos analfabetos é idosa. Em 2018, o Brasil tinha 11,3 milhões de analfabetos com mais de 15 anos de idade. 6 milhões, ou 53,1%, têm mais de 60 anos. Outros 3,9 milhões, ou 34,7%, têm entre 40 e 60 anos. Veja os dados aqui.
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Ítalo Rômany
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