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‘Deepfake’ com presidenciáveis argentinos chega à TV – pelas mãos dos checadores
09.10.2019 - 07h00
Rio de Janeiro - RJ
No Aikido, essa arte marcial milenar oriunda do Japão, o lutador usa a força do adversário para vencê-lo. Com movimentos cuidadosos, inverte a disputa: usa a força aplicada pelo inimigo nos golpes contra ele próprio e costuma ser certeiro.
Faltando 20 dias para as eleições presidenciais da Argentina, os fact-checkers e os publicitários se uniram a alguns canais de televisão aberta e decidiram se juntar para aplicar o que esperam ser um golpe de Aikido na desinformação eleitoral.
Estreia hoje, em cadeia nacional, o primeiro ‘deepfake’, um vídeo manipulado de cerca de um minuto, feito com a ajuda dos checadores argentinos mostrando os quatro candidatos que disputam a Casa Rosada.
Na peça, assinada pela agência Fit BBDO, o presidente Mauricio Macri (PRO), que busca a reeleição, aparece fazendo embaixadinha. Alberto Fernández (PJ) toca um solo de Jimmy Hendrix na guitarra. Roberto Lavagna (Independente) faz malabarismos, e Nicolás Del Caño (Frente de Esquerda) faz um alongamento que mais lembra os filmes de Jean Claude Van Damme.
“Com essa campanha, estamos tentando mostrar para mais pessoas que a desinformação existe e que cada um de nós pode ajudar a deter ou a agravar o problema”, disse Laura Zommer, diretora da plataforma de checagem Chequeado e co-diretora do projeto colaborativo de fact-checking Reverso, que reúne mais de 120 veículos de comunicação.
Zommer, considerada uma das principais referências na checagem latino-americana, ressalta que a maior parte dos conteúdos falsos flagrados pelos checadores na atual campanha consiste em imagens manipuladas e fotos fora de contexto, mas defende o uso de um ‘deepfake’.
“O uso de um ‘deepfake’ que acaba dizendo a verdade (a peça se descontrói no fim) busca chamar a atenção para as novas e sofisticadas técnicas utilizadas para enganar os cidadãos”, acrescentou.
Para que o vídeo ficasse realista e tivesse o impacto necessário, a Fit BBDO gastou mais horas do que um produtor de ‘deepfake’ qualquer costuma gastar. Precisou angariar 40 vídeos e 20 fotos verdadeiras dos candidatos como base e unir com as vozes de imitadores. Foram cerca de 190 horas de renderização.
“Trabalhamos com pós-produção e aplicações de inteligência artificial, ajustes de câmera e imagem, além de um elenco grande para que não fosse possível perceber nosso truque em momento algum”, disse Federico Russo, diretor da Oruga, produtora responsável pelo trabalho. “Foi um trabalho milimétrico que, em sua essência, tem um potencial enorme para passar uma mensagem clara e definitiva”.
Há quatro meses, o projeto de fact-checking colaborativo Reverso, que colocou redações de todo os país para trabalhar em conjunto e compartilhar checagens, está ativo, sob a liderança do Chequeado,  da AFP Factual, do First Draft e do Pop Up Newsroom. Nesse período, já publicou mais de 139 checagens e tem conseguido se manter entre os trending topics do Twitter.
Parece a prova definitiva de que, assim como ocorreu no México, com o Verificado, e no Brasil, com o Comprova, alianças para a verificação de conteúdos falsos são algo que veio para ficar.
Para o último mês de campanha e de batalha contra a desinformação eleitoral, Zommer parece disposta a ser ainda mais dura e aperfeiçoar alguns pontos do projeto.
“Gostaríamos de ter começado a trabalhar antes com a equipe de audiovisual. Ela só entrou no ritmo de produção e encontrou o tom no último mês. Também gostaríamos de ver mais meios de comunicação fazendo checagens. Do total de veículos envolvidos, 25 efetivamente colaboraram com verificações e sabemos que se aprende mais fazendo do que vendo. Vamos ver se a produção sobe agora na reta final. Por fim, ainda não conseguimos automatizar as respostas aos nossos usuários de WhatsApp, razão pela qual alguns não recebem retorno dentro do tempo ideal”, avalia.
Até segunda ordem, o Reverso ficará ativo até o dia 11 de dezembro, e Zommer espera que os presidenciáveis curtam e compartilhem o ‘deepfake’ em suas redes sociais.
“Fomos muito cuidadosos na peça. Buscamos tratá-los de forma igualitária, sem ridicularizar ninguém. Em alguns casos, como de Macri e Fernández, apelamos inclusive para seus hobbies reais (jogar futebol e tocar guitarra). Espero que celebrem esse vídeo conosco e compartilhem.”
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