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É falso que Bolsonaro estava no Rio de Janeiro no dia da morte de Marielle Franco
17.12.2019 - 11h04
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais uma imagem com um texto que diz que o presidente Jair Bolsonaro estava em casa, no Rio de Janeiro, no dia em que a vereadora Marielle Franco foi assassinada, em 14 de março de 2018. A “prova” seria uma passagem aérea de Brasília para o Rio, supostamente usada no mesmo dia. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da ​Lupa:
“Encontrada passagem aérea em nome de Bolsonaro de Brasília para o RJ no dia do assassinato de Marielle [link para o site da Câmara]”
Legenda de post publicado no Facebook que, até as 19h do dia 16 de dezembro, tinha sido compartilhado por mais de 7,6 mil pessoas
Insustentável
Embora a emissão da passagem mostrada no post analisado pela Lupa esteja registrada no site da Câmara dos Deputados, é impossível afirmar a data da viagem. No portal da transparência do Legislativo é informada a data da emissão do bilhete, não o dia quando o voo aconteceu. Além disso, a passagem mostrada no post teve seu valor estornado no dia seguinte, ou seja, não foi utilizada.
Na legenda do post, foi publicado um link que direciona para uma página no Portal da Transparência da Câmara. Nela, há a informação de que o gabinete do então deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) comprou uma passagem emitida em 14 de março de 2018, do Aeroporto Internacional de Brasília para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O bilhete aéreo, emitido pela empresa Gol com o código WQ2GUH, custou R$ 1.032,93. Não é informado se a passagem é só de ida ou se é de ida e volta. O próprio deputado está listado como passageiro.
Entretanto, no dia seguinte, é possível verificar que a mesma passagem, de código WQ2GUH, teve seu valor estornado na íntegra. O documento também consta no site da Câmara.
No mesmo dia 14, o gabinete do então deputado comprou uma segunda passagem de Brasília para o Rio de Janeiro. A passagem também foi emitida pela Gol e também tem Bolsonaro como passageiro, mas, neste caso, o destino é o Aeroporto Internacional do Galeão. Novamente, vale lembrar que dia 14 é a data da emissão do bilhete, e não a data do voo.

“Bolsonaro estava em casa [no Rio de Janeiro] no dia do assassinato de Marielle”
Texto em imagem de post publicado no Facebook que, até as 19h do dia 16 de dezembro, tinha sido compartilhado por mais de 7,6 mil pessoas
Falso
Bolsonaro estava em Brasília no dia 14 de março de 2018, às 20h05. O então deputado apareceu de relance em transmissão ao vivo da TV Câmara, durante discurso do deputado Alberto Fraga (DEM-DF). É possível comprovar o horário da aparição de Bolsonaro no próprio site da Câmara. Nesse link, é possível verificar que a fala de Fraga foi feita depois das 19h44. Já as gravações de áudio da sessão mostram que Fraga falou uma única vez depois desse horário, às 20h04. O atual presidente aparece cerca de um minuto depois do início da fala do colega.
Isso significa que ele não estava no condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, às 17h10. Nesse horário, Élcio de Queiroz, acusado de ser um dos participantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, teria chegado no condomínio, segundo os registros da portaria. Lá, ele teria se encontrado com Ronnie Lessa, vizinho de Bolsonaro e suposto autor dos disparos contra Marielle. O crime ocorreu cerca de quatro horas depois.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de todos os voos comerciais do Rio para Brasília no dia 14 de março, apenas um decolou depois das 17h10 e chegou na capital federal antes das 20h05. Foi o voo 3028, da TAM, que decolou do Aeroporto Santos Dumont às 17h49 e aterrissou no Aeroporto Internacional de Brasília às 19h35.
trajeto do condomínio Vivendas da Barra até o Santos Dumont, de 26 quilômetros, costuma demorar mais de uma hora nesse horário. Mesmo considerando uma viagem de cerca de 30 minutos, duração mínima desse percurso fora de horário de pico, é preciso considerar também o trajeto realizado dentro do aeroporto, e que o embarque do voo é concluído alguns minutos antes da decolagem. Ou seja, Bolsonaro não tinha como sair da Barra da Tijuca às 17h10 e estar dentro de um avião no Santos Dumont às 17h49.
É, também, extremamente improvável que alguma pessoa nesse voo tenha chegado ao Congresso Nacional antes das 20h05. Para isso, a pessoa teria que desembarcar, entrar em um veículo e percorrer 16,5 quilômetros em apenas meia hora.
Essa, porém, não é a única evidência de que Bolsonaro estava em Brasília quando Queiroz chegou ao condomínio Vivendas da Barra. Documentos obtidos pelo colunista Guilherme Amado, da revista Época, via Lei de Acesso à Informação, mostram que Bolsonaro registrou sua presença na Câmara, usando controle biométrico, às 17h41, ou seja, apenas meia hora depois da chegada de Queiroz ao condomínio. Ele também registrou sua presença às 19h36 e às 20h38.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook
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