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No SBT, Paulo Guedes erra valores desembolsados pelo BNDES na última década
23.01.2020 - 12h10
Rio de Janeiro - RJ
No último domingo (19), o Poder em Foco, do SBT, exibiu entrevista com o ministro da Economia, Paulo Guedes. No programa, o ministro falou sobre a situação da economia do Brasil atualmente, sobre o histórico do desempenho econômico do país e sobre o BNDES, entre outros assuntos. A Lupa analisou algumas das declarações do ministro na entrevista, confira:
“Há três, quatro, cinco anos atrás, dos R$ 300 bilhões de investimentos que tinham, o BNDES fornecia R$ 240 bilhões para grandes empresas”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Falso
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) jamais chegou a desembolsar R$ 300 bilhões em empréstimos para empresas entre 2010 e 2018. Os dados da instituição para esse período mostram que a maior quantia alcançada, em 2013, foi de R$ 190,4 bilhões. O volume desembolsado, no entanto, vem caindo desde o agravamento da crise econômica, em 2015, e chegou a um total de apenas R$ 69,3 bilhões em 2018.
Também não é verdadeiro, portanto, que as grandes empresas receberam R$ 240 bilhões, ou 80% do total disponibilizado pelo banco, “há três, quatro, cinco anos atrás”. A participação delas nos desembolsos alcançou o seu maior valor em 2014, com R$ 128,4 bilhões (68,37% do total). Desde 2015, tanto a quantia destinada a esse grupo como o porcentual de recursos tem caído a cada período. Em 2018, chegou a R$ 39,2 bilhões, ou 56,57% do total dos desembolsos.
Atualizado às 19h15 do dia 27 de janeiro: Por e-mail, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia disse que os R$ 300 bilhões aos quais o ministro se referia eram as “disponibilidades de recursos das fontes usuais do Banco, em especial do FAT e o PIS-PASEP”.

“Esse ano agora, dos R$ 500 bilhões, o BNDES só forneceu R$ 20 bilhões para grandes empresas. O grosso do dinheiro está indo para os pequenos e médios”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Ainda é cedo
O BNDES ainda não divulgou o balanço que traz o total de desembolsos feitos em 2019. O último dado disponível, referente ao período de janeiro a setembro do ano passado, aponta o fornecimento de uma quantia de R$ 38 bilhões. Para alcançar o número citado por Guedes, portanto, seria necessário que a instituição destinasse R$ 462 bilhões para empresas nos três últimos meses do ano. O BNDES pretende divulgar os dados finais para o ano passado no dia 30 de janeiro, de acordo com a programação disponível no site.
Do total disponibilizado até setembro, 51% foi para pequenas e médias empresas. Entretanto, o volume de recursos destinados a esse segmento somou apenas R$ 19,4 bilhões no período – uma quantia ainda distante dos R$ 30,1 bilhões recebidos por esse grupo em 2018.
Atualizado às 19h15 do dia 27 de janeiro: Por e-mail, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia disse que o ministro se referia “a ordem de grandeza do saldo da carteia de crédito do BNDES” ao citar os R$ 500 bilhões.

“São 106 milhões de brasileiros em idade de trabalhar, o que a gente chama de população economicamente ativa”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Falso
Os conceitos de população em idade de trabalhar e de população economicamente ativa, ou PEA, são diferentes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O primeiro significa toda e qualquer pessoa com mais de 14 anos, enquanto o segundo abrange somente a população ocupada e desocupada. Vale destacar que, em pesquisas atuais, o IBGE não usa mais o conceito de população economicamente ativa, e sim o de força de trabalho – que significa a mesma coisa.
Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, do terceiro trimestre de 2019, 171,2 milhões de brasileiros estavam em idade para trabalhar. Desses 64,8 milhões estavam fora da força de trabalho. Isso inclui estudantes que não trabalham, donas de casa e pessoas aposentadas, por exemplo. Esse número também inclui os desalentados, pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ativamente no período.
Outros 106,3 milhões faziam parte da força de trabalho, número próximo ao citado por Guedes. Destes, 93,8 milhões estavam ocupados, isso é, exerciam atividade remunerada. Ainda havia 12,5 milhões de pessoas desocupadas, ou seja, que não trabalhavam, mas procuraram um emprego ativamente nos últimos 30 dias.
Atualizado às 19h15 do dia 27 de janeiro: Por e-mail, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia disse que o ministro se referia à população economicamente ativa e a força de trabalho, e que, de fato, a população em idade de trabalhar é um conceito diferente.

“Investimento público, que foi 15%, 16% do PIB (…)”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Exagerado
O investimento público nunca atingiu o patamar citado por Guedes. Segundo dados compilados pelo Observatório de Política Fiscal, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), desde 1947, o investimento realizado por governos municipais, estaduais, federal e pelas empresas públicas da União superou os 10% do PIB em um único ano: 1976, quando atingiu 10,58% do PIB do país. Veja os dados aqui.
Na década de 1950, o investimento público correspondeu a 4,7% do PIB do país. Essa proporção cresceu para 6% na década de 1960 e 7,5% na década de 1970. Nas décadas de 1980 e 1990, o investimento público caiu, respectivamente, para 5,2% e 3,3% do PIB, mantendo-se estável em 3,3% na década de 2000. Até 2018, a média para a década de 2010 era de 3%.
Atualizado às 19h15 do dia 27 de janeiro: Por e-mail, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia disse apenas que parte do investimento público é feito pelas empresas estatais – algo que já é mencionado na própria checagem.

“(…) Acabou vindo pra 1% do PIB, porque as estatais perderam a capacidade de investir”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Exagerado
Em 2018, último ano com dados disponíveis na série histórica da FGV, o investimento público foi de 2,43% do PIB. 1,19% corresponde a investimentos realizados pelo governo geral, isso é, pela União, pelos estados e pelos municípios. 1,24% representa o que foi investido pelas empresas estatais. Entre 1947 e 2018, o único ano em que o investimento do setor público foi inferior a 2% foi 2017, quando atingiu 1,85% do PIB do país.
Atualizado às 19h15 do dia 27 de janeiro: Por e-mail, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia disse que o investimento das estatais foi de cerca de 1% em 2018. Esse dado está correto, mas não representa a totalidade do investimento público, que inclui também recursos aplicados pela União, pelos estados e pelos municípios.

“Só 40 e poucos milhões, 50 milhões [de pessoas], têm carteira assinada”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Verdadeiro, mas...
Segundo a Pnadc/T, do terceiro trimestre de 2019, o Brasil tinha 36 milhões de pessoas que trabalhavam com carteira assinada, em termos estritos. Desses, 34,8 milhões estavam no setor privado e 1,3 milhões estavam no setor público. Porém, considerando também os servidores públicos estatutários ou militares (7,8 milhões), o total de pessoas com empregos formais chega a 43,9 milhões, dentro da faixa citada pelo ministro.

“[O Brasil] virou um dos países que menos crescem no mundo”
Paulo Guedes, ministro da Economia, em entrevista ao Poder em Foco, do SBT, em 19 de janeiro de 2020
Verdadeiro
Dados compilados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que o Brasil está entre os países cuja economia menos cresceu entre 2014 e 2018, último dado disponível. Na média, com a recessão nos anos de 2015 e 2016, o crescimento do país no período foi negativo: -0,86%. Entre 193 países, foi 13º pior resultado. Apenas 16 países registraram crescimento negativo neste período. Entre eles estão a Líbia (-6,06%), a Venezuela (-12,36%), o Iêmen (-9%), a Ucrânia (-1,77%) e a Argentina (-0,37%).
Em 2017 e 2018, o país teve crescimento positivo: 1,1% nos dois anos. Mesmo assim, o país continuou na parte de baixo da tabela, em 159º e 165º lugar, respectivamente.
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Carol Macário
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