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Lupa
Vídeos gravados na entrada de hospitais estão sendo usados para desacreditar pandemia da Covid-19
09.04.2020 - 18h36
Rio de Janeiro - RJ
A Lupa notou um padrão de desinformação em relação ao combate à Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Em pelo menos cinco ocasiões em diferentes estados do Brasil, pessoas foram até hospitais para filmar ou fotografar a recepção das unidades de saúde. Em comum, os discursos das publicações afirmam que não existem pacientes com a Covid-19 sendo atendidos e criticam o isolamento social, dizendo que os governos estaduais e as prefeituras estão enganando os cidadãos. As cinco publicações analisadas atingiram, juntas, pelo menos 28 mil compartilhamentos e 240 mil visualizações no Facebook desde a terça-feira (7).
Contudo, boa parte dos hospitais de referência no atendimento de casos confirmados de Covid-19 são fechados ao público e recebem apenas transferências. Logo, é normal as recepções estarem vazias.
Na terça-feira (7), dois homens foram até o Hospital Leonardo Da Vinci, em Fortaleza, no Ceará, e filmaram a entrada do estabelecimento. Na legenda do vídeo, afirmavam que se tratava de “mais um hospital vazio”. Os dados do portal IntegraSUS, da Secretaria de Saúde do Ceará, mostravam o contrário: 48 dos 93 leitos estavam ocupados, sendo 18 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Até a tarde de terça-feira (7), quando o vídeo foi gravado, cinco pessoas tinham morrido da doença no hospital e 13 pacientes já haviam recebido alta. A gravação foi visualizada por mais de 10 mil pessoas e compartilhada 600 vezes.
Na quarta-feira (8), um homem tirou fotografias na entrada do Hospital Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, e afirmou, na legenda, que não encontrou pacientes. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, 77 pessoas estavam internadas no Hospital Ronaldo Gazolla na manhã em que as fotos foram tiradas. Destas, 34 estavam em leitos de UTI. A publicação foi compartilhada por mais de 2 mil pessoas e foi excluída nesta quinta-feira (9).
No mesmo dia, um outro homem gravou um vídeo na entrada do Estádio do Pacaembu. Um hospital de campanha foi montado no local para atender pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Na gravação, o homem afirma que o local está “vazio” e que “não tem ninguém”. O boletim diário da Secretária Municipal de Saúde de São Paulo mostra que o Hospital de Campanha do Pacaembu tinha 29 pessoas internadas até às 15h de quarta-feira (8). A unidade ainda estava esperando a chegada de 15 novos pacientes naquele dia. O vídeo foi visualizado por mais de 225 mil pessoas e compartilhado 26 mil vezes.
No Distrito Federal, um homem foi até o Hospital Regional de Taguatinga e, filmando uma das recepções, disse que “não tinha ninguém doente” no local. Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirmou que apenas o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) está se dedicando exclusivamente ao atendimento de Covid-19 e que os outros hospitais da rede estão funcionando normalmente. A filmagem original foi compartilhada 1,2 mil vezes e visualizada por 1,8 mil pessoas.
Em Maringá, no interior do Paraná, um homem filmou o estacionamento e a recepção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Sul. Ele afirmava que não tinha “ninguém para ser atendido”, reclamava que “empresários e comerciantes” não podiam trabalhar e criticava as medidas de isolamento social. Por telefone, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Maringá afirmou que o local realmente tinha poucos pacientes, mas que isso acontece porque as medidas de isolamento social estão sendo respeitadas. Além disso, a unidade passou a atender somente casos suspeitos de Covid-19, ou seja, o fluxo foi reduzido. De acordo com o boletim de quarta-feira (8), a cidade tinha 42 casos confirmados e 2 mortes pela Covid-19. A gravação tinha 43 mil visualizações e 1,1 mil compartilhamentos até quinta-feira (9).
Todos os casos têm semelhanças e mostram um padrão de desinformação usado para negar a pandemia de Covid-19 e para tentar acabar com a política de isolamento social. Primeiro, as pessoas gravam vídeos em hospitais com a recepção vazia. Isso acontece porque essas unidades não fazem atendimento ao público, apenas recebem transferências de outras unidades de saúde, ou atendem somente casos de Covid-19, o que faz com que o fluxo de pessoas seja bem menor que o normal. Ou seja, os vídeos dão uma falsa impressão de que os hospitais estão vazios quando, na verdade, as equipes médicas e os pacientes estão concentrados na área interna.
No caso do Ceará, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde afirmou, por telefone, que é normal o hall de entrada do Hospital Leonardo Da Vinci estar vazio porque os leitos de internação ficam na parte superior do edifício. O Hospital de Campanha do Pacaembu, em São Paulo, é um “hospital de portas fechadas” que não tem atendimento ao público. A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro disse que não é possível ver pacientes na entrada do Hospital Ronaldo Gazolla porque “não há pronto-atendimento, apenas leitos de UTI e enfermaria”.
Além disso, quem grava esse tipo de vídeo mostra apenas a parte externa do hospital. Nos casos analisados pela Lupa, os vídeos e as fotografias mostram apenas a fachada ou parte da recepção das unidades de saúde. Nenhum deles conversa com profissionais de saúde ou mostra ambulatórios, consultórios ou leitos para explicar a dinâmica interna do hospital.
São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, três dos estados em que os vídeos foram gravados, são também os três estados com o maior número de casos confirmados da doença. Segundo a atualização mais recente do painel de informações sobre a Covid-19 do Ministério da Saúde, das 17h de quinta-feira (9), São Paulo tinha 7.480 casos confirmados e 496 mortes. No Rio de Janeiro, eram 2.216 casos e 122 óbitos. No Ceará, eram 1.425 casos e 55 mortes.
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