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Lupa na Ciência: Gestantes e mães de recém-nascidos devem redobrar os cuidados durante a pandemia
04.05.2020 - 12h00
Rio de Janeiro - RJ
O que você precisa saber:
  • Ministério da Saúde incluiu gestantes e puérperas (mulheres que tiveram filhos recentemente) em até duas semanas no grupo de risco para a Covid-19
  • Ainda não há estudos comprovando que elas são mais suscetíveis a desenvolver quadros graves da doença, mas já se sabe que são mais vulneráveis a outros tipos de infecções
  • Estudos recentes afirmam que a  possibilidade de transmissão vertical (em que a mulher grávida passe o Sars-Cov-2 para o feto) não pode ser descartada
  • A recomendação da OMS para gestantes e puérperas com a Covid-19 é redobrar os cuidados com a higiene e manter o isolamento social
Há poucas semanas, o Ministério da Saúde incluiu as gestantes e puérperas no grupo de risco para a Covid-19, junto com idosos, cardiopatas, hipertensos e pessoas com outras comorbidades. A mudança despertou insegurança e dúvidas sobre os reais riscos que este grupo corre, e também sobre os cuidados extras que as mulheres devem ter durante a pandemia. Até o momento, não há qualquer estudo clínico comprovando ou indicando que gestantes ou mães de recém-nascidos são mais propensas a desenvolver complicações devido à infecção pelo Sars-CoV-2.  A orientação do ministério é baseada em estudos clínicos mais antigos, que mostram uma maior vulnerabilidade deste grupo a outras infecções, como a causada pelo vírus da gripe. Por isso,  é razoável de que os cuidados sejam redobrados até que se tenha uma ideia mais concreta da situação.
Em um artigo publicado no final de março na revista Lancet, pesquisadores da Universidade de Wuhan, na China, explicaram que o sistema imunológico das grávidas sofre alterações durante o período gestacional e fica menos agressivo. Esta é uma forma de proteger o feto, mas também deixa o organismo da futura mãe mais suscetível a outros corpos estranhos, o que deve ser levado em consideração principalmente em uma pandemia como a atual. Em relação às puérperas, o alerta é o mesmo, pois até seis semanas após o parto, o sistema imunológico delas pode estar mais vulnerável, devido às modificações no corpo.
Outro dado importante é o tamanho da cavidade torácica das gestantes, que é comprimida durante a gravidez conforme o útero cresce e pressiona outros órgãos, fazendo diminuir a expansão dos pulmões. É por isso que muitas mulheres costumam ter uma certa dificuldade de respirar, principalmente nos últimos três meses de gravidez. Como o novo coronavírus pode causar uma infecção respiratória, o quadro poderia ser agravado por essa condição das gestantes.
Apesar das evidências, um dos estudos mais relevantes até o momento sobre o assunto, publicado em meados de março no The New England Journal of Medicine, testou 215 mulheres que deram à luz entre 22 de março e 4 de abril em diferentes hospitais dos Estados Unidos. Do total, 33 deram positivo para a Covid-19, mas apenas quatro apresentavam sintomas ao entrar no hospital. De acordo com os pesquisadores, ainda é necessário reunir mais dados para estimar com precisão a porcentagem de gestantes que podem desenvolver sintomas severos da Covid-19, mas o número de assintomáticas que deram positivo para o novo vírus serve principalmente como alerta para a importância de se fazer uma testagem em massa desse grupo, a fim de que se tenha uma melhor orientação sobre como proceder durante e logo após o parto.
Outra dúvida que preocupa grávidas é o risco de uma gestante contaminada infectar o feto ao longo da gestação (chamada transmissão vertical), durante o parto ou na amamentação. Em um artigo publicado no início de abril no periódico Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica, pesquisadores suecos apresentaram uma revisão de estudos de caso, que já avaliaram um total de 108 mulheres grávidas e puérperas contaminadas com a Covid-19. Deste total, encontraram um caso de bebê que testou positivo para o novo coronavírus, um caso de morte neonatal e um caso de morte intrauterina. De acordo com os pesquisadores, ainda que pareça rara, a transmissão vertical não pode ser descartada.  Alguns recentes casos isolados de bebês que testaram positivo minutos após o nascimento também foram reportados em diferentes países, reforçando a necessidade de se aprofundar as pesquisas sobre o tema.
Em relação à amamentação, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento não há evidências de que vírus respiratórios possam ser transmitidos através do leite materno, e por isso mães que apresentam os sintomas não devem deixar de amamentar, mas sim usar uma máscara quando estiverem próximas de uma criança, lavar as mãos antes e depois do contato com a criança e desinfetar as superfícies contaminadas.
Enquanto pesquisadores reúnem e avaliam novas evidências,  a recomendação para todas as grávidas e puérperas é manter o máximo possível o isolamento social, lavar as mãos com frequência, e reforçar as demais medidas de higiene.  Em relação às consultas do pré-natal, devem seguir comparecendo, porém conforme as orientações do médico que a está acompanhando.
Fontes:
New England Journal of Medicine. Artigo disponível em:
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2009316
Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica. Artigo disponível em:
https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/aogs.13867
Organização Mundial da Saúde. Documento disponível em:
https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-on-covid-19-and-pregnancy-and-childbirth
Nota: o projeto Lupa na Ciência é uma iniciativa da Agência Lupa contra a desinformação em torno do novo coronavírus e da Covid-19 e conta com o apoio do Google News Initiative. Para saber mais, clique aqui.
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Gabriela Soares
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