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Lupa na Ciência: Crianças e jovens adultos podem desenvolver síndrome inflamatória associada à Covid-19
27.05.2020 - 12h00
Rio de Janeiro - RJ
O que você precisa saber:
  • Entidades alertam para uma nova e rara síndrome inflamatória que vem sendo identificada em algumas crianças e adolescentes, e que estaria associada à Covid-19
  • De acordo com os estudos mais recentes, esta doença seria decorrente de uma resposta imunológica exacerbada do corpo ao novo coronavírus
  • Muitas crianças que desenvolvem a síndrome precisam ser internadas, porém são tratadas e recebem alta
  • Como os casos não são frequentes, ainda se considera que crianças e adolescentes são menos suscetíveis a desenvolver quadros graves da Covid-19
Nas últimas semanas, médicos e pesquisadores relataram mais um fenômeno preocupante da Covid-19. Uma parcela das crianças, adolescentes e jovens na faixa dos 20 anos infectados pelo novo coronavírus tem desenvolvido Síndrome Pediátrica Inflamatória Multissistêmica. Trata-se de uma reação inflamatória pouco comum, que acomete principalmente os vasos sanguíneos, e que pode ser fatal. Apesar de preocupante, esta condição é relativamente rara. A constatação, feita já há alguns meses, de que crianças e jovens estão menos sujeitos aos quadros graves da Covid-19, segue sendo verdadeira, mesmo após essa descoberta. Múltiplos estudos já demonstraram que o índice de hospitalização pelo novo coronavírus nessas faixas etárias é baixo, e que os infectados, em sua maioria, têm sintomas leves ou são assintomáticos.
A síndrome parece ser causada por uma resposta exacerbada do organismo dos jovens ao novo coronavírus, o que resulta em inflamação em diversos órgãos (rins, pulmões, entre outros), podendo levá-los à falência. Algo semelhante já foi observado em adultos com quadros graves da Covid-19, que desenvolveram o que especialistas definiram como “tempestade citocínica”. Ela ocorre quando as citocinas, moléculas que regulam o sistema imunológico, aceleram o processo inflamatório para combater uma infecção, porém acabam agredindo o próprio corpo, desencadeando quadros que podem ser letais.
No caso das crianças, de acordo com um artigo publicado na revista Circulation na última semana, essa nova síndrome, quando atinge os vasos e artérias, pode provocar redução na pressão sanguínea, levando o coração a redobrar os esforços para manter a estabilidade do corpo, o que resulta em quadros de arritmia e danos ao coração.
Como tem o potencial de afetar diferentes órgãos, os sintomas da doença são muito variados. Entretanto, médicos descrevem que os principais são febre alta e persistente (entre 38°C e 40°C), diarreia e dor abdominal, erupções cutâneas em todo o corpo e irritação e vermelhidão das membranas mucosas da boca, conjuntivite, edema de mãos e pés e dor de cabeça.

Centenas de casos já foram reportados

Os primeiros casos documentados de crianças com esses incomuns sintomas vieram do Reino Unido em meados de abril. Em um artigo publicado na revista The Lancet, pesquisadores ingleses relataram “um grupo sem precedentes de oito crianças (de 4 a 17 anos) com ‘choque hiperinflamatório’, sendo que quatro delas tinham histórico de Covid-19 na família”. Semanas depois, outros 20 casos foram relatados em um hospital pediátrico de Londres. Em 10 deles, foram encontrados anticorpos ao novo coronavírus.
Algo semelhante foi observado na Itália, e publicado em meados de maio na mesma revista. Analisando as internações pediátricas na província de Bergamo, uma das mais afetadas pelo novo coronavírus, pesquisadores encontraram um aumento de 30% na incidência de pacientes internados com sintomas semelhantes aos da “doença de Kawasaki” (uma rara disfunção do sistema imunológico infantil, com manifestações semelhantes a essa nova síndrome), quando comparadas com os registros dos últimos cinco anos. A partir daí, centenas de relatos foram registrados em países como França, Espanha e mais recentemente Estados Unidos.
Também em meados de maio, o Departamento de Saúde do Estado de Nova York informou que estava investigando 161 casos de crianças e jovens adultos internados com sintomas semelhantes, sendo que três deles haviam morrido.  Em outras regiões dos Estados Unidos, a síndrome foi identificada também em pacientes com idades entre 20 e 30 anos, reforçando que essa faixa etária também está sujeita à doença.
A associação desses casos com a Covid-19 se dá porque grande parte dos pacientes internados com a nova síndrome testaram positivo para o novo coronavírus ou apresentam anticorpos para a doença, o que significa que foram infectadas anteriormente. A maioria dos casos aparece de duas a seis semanas após a infecção pelo vírus, indicando que esta condição não ocorre necessariamente na fase aguda da doença, mas sim depois que o paciente já está recuperado.

Entidades emitem alertas sobre a doença

As evidências sobre essa nova síndrome têm levado entidades pediátricas e de saúde de diversos países a emitir comunicados sobre o assunto. Especialistas dizem que não há motivo para os pais entrarem em pânico, mas que é preciso atenção aos sintomas para saber quando buscar atendimento médico.
O Serviço Nacional de Pediatria da Grã-Bretanha, por exemplo, enviou no fim de abril um “alerta urgente” aos médicos indicando que casos dessa síndrome misteriosa poderiam estar vinculados ao novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu uma definição preliminar de caso e um formulário de relato de caso para o distúrbio inflamatório multissistêmico em crianças e adolescentes, com informações que visam a alertar famílias sobre o assunto e estabelecer diretrizes de tratamento e cuidados preventivos. Aqui no Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria, em parceria com o Ministério da Saúde e outros órgãos, divulgou um documento reforçando a importância do diagnóstico e tratamentos precoces.
Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) publicou recentemente um alerta aos pais, informando que a doença pode ser fatal, porém destacando que a maioria das crianças diagnosticadas melhorou após o tratamento médico. Em casos relatados na Inglaterra, Itália e Estados Unidos, os pacientes internados na UTI e tratados com medicamentos como esteroides, antibióticos, antiinflamatórios e/ou imunossupressores se recuperaram e receberam alta.
Fontes:
Acta Pediatrics. Artigo disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/apa.15270
Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Documento disponível em:
https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/daily-life-coping/children/mis-c.html
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