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Lupa na Ciência: Novo estudo aponta que altas doses de vitamina D não evitam nem tratam Covid-19
29.05.2020 - 12h00
Rio de Janeiro - RJ
O que você precisa saber:
  • Artigo publicado por médicos de diferentes países diz que não há evidências sobre os benefícios de tomar suplementos de vitamina D para combater ou prevenir a Covid-19
  • Doses altas deste micronutriente no corpo, como tem sido sugerido por alguns especialistas para combater a atual pandemia, podem trazer problemas à saúde, como insuficiência renal
  • O confinamento pode diminuir os níveis de vitamina D no organismo. Por isso, é recomendado consultar um médico para avaliar as melhores formas de deixar o corpo em equilíbrio
  • Exposições curtas e frequentes ao sol ajudam a manter as doses normais do micronutriente. Em casos específicos, suplementações moderadas podem ser indicadas, mas sempre sob orientação médica
Um artigo publicado na última semana no periódico British Medical Journal (MBJ), mostra que, até o momento, não há evidências científicas de que altas doses de vitamina D ajudem na prevenção ou no tratamento da Covid-19. Desde o início da pandemia, pesquisas apontam que uma parcela significativa dos pacientes infectados pelo novo coronavírus tem taxas baixas dessa substância no organismo. Contudo, nunca foi estabelecida uma relação de causalidade entre esses dois fatos.
A vitamina D, em doses moderadas, é fundamental para a regulação do sistema imunológico. Em doses excessivas, contudo, pode trazer problemas, como disfunções renais. Por causa disso, após revisão da literatura médica, os pesquisadores reforçaram que a população não deve tomá-la sem orientação e acompanhamento de um médico.
A discussão sobre o uso de suplementos de vitamina D no combate ao novo coronavírus ganhou força em março. Jornais italianos publicaram informações de um grupo de médicos, que afirmava que grande parte dos internados com a Covid-19 sofriam de hipovitaminose D (baixas taxas da vitamina no organismo). Os especialistas sugeriam que a suplementação poderia ajudar a reverter esse cenário. Em maio, um artigo publicado na revista The Lancet confirmou a tendência. Relatórios de diferentes países indicaram um alto número de pacientes internados pelo novo coronavírus com deficiência da vitamina. Os autores do estudo ressaltaram, porém, que não se sabe se essa é uma causa ou uma consequência da Covid-19. Além disso, pesquisas anteriores, que relacionam o micronutriente com outras doenças, não mostraram, em sua maioria, benefícios no uso de suplementos nem para prevenção, nem para tratamento.
As informações divulgadas pelos jornais italianos, entretanto, logo se espalharam, e em pouco tempo os “efeitos protetores” da vitamina D no combate à Covid-19 inundaram as redes sociais. Aqui no Brasil, a informação ganhou, inclusive, contornos científicos quando a Associação Brasileira de Harmonização Orofacial (Abrahof) publicou um posicionamento sugerindo o uso de suplementos da vitamina. Poucos dias depois, entidades médicas – como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entre outras – emitiram notas manifestando repúdio a esse posicionamento. Segundo as instituições, não havia evidências científicas para a indicação. Portanto, elas não recomendam “imunomodulação usando vitamina D em dose alta e injetável”. O estudo publicado na última semana no British Medical Journal reforça essa advertência.

Micronutriente essencial para o sistema imunológico

Considerada uma substância essencial na regulação da quantidade de cálcio e fósforo no organismo, a vitamina D é, em doses equilibradas, crucial para a saúde. Ela é, comprovadamente, importante para modular o sistema imunológico, ajudando a manter a funcionalidade das células de defesa e a prevenir doenças como pneumonia, tuberculose e gripe. Uma revisão de pesquisas sobre o uso de suplementos no combate a diferentes doenças, entretanto, mostrou que ele só é benéfico em um caso: na prevenção de infecções que acometem nariz, ouvidos e garganta, segundo artigo publicado em 2017 na revista The Lancet.
Quando o assunto é a Covid-19, ainda se sabe muito pouco sobre a forma como o vírus afeta o organismo. Por isso, é difícil avaliar os reais benefícios de uma suplementação de vitamina D no atual cenário. Além dos sintomas comuns de gripe, que incluem infecções no trato respiratório, a doença provocada pelo novo coronavírus pode afetar diferentes órgãos do corpo, e inclusive interferir na coagulação sanguínea.

Equilíbrio da vitamina em tempos de confinamento

A exposição solar é a chave para a produção de vitamina D. Ainda que a alimentação seja uma fonte de reforço da substância, ela corresponde a apenas 20% do que é necessário para o organismo estar em equilíbrio. Por isso, entidades médicas recomendam que pessoas se exponham ao sol com frequência por curtos períodos, conforme o tom de pele, e com cuidados para evitar outros problemas associados, com o melanoma. No artigo publicado na última semana no BMJ, os pesquisadores alertam que em regiões mais frias ou durante períodos que demandam confinamento, como é o caso da atual pandemia, é possível que os níveis de vitamina D diminuam. Nesses casos, suplementos podem ser indicados, mas conforme as orientações das entidades médicas de cada país. O uso do micronutriente em excesso pode aumentar o risco de formação de cálculos renais e, em situações extremas, levar a uma insuficiência renal aguda.
O Ministério da Saúde, em nota, reforçou que, até o momento, não há medicamento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo novo coronavírus, e que as principais formas de evitar a contaminação são manter o distanciamento social, usar máscara e adotar medidas rígidas de higiene. De acordo com o órgão, ainda são necessários mais estudos para esclarecer a relação da vitamina D na prevenção da Covid-19, e também se o déficit desse nutriente pode agravar a infecção. Em linhas gerais, essas recomendações seguem o que vem sendo divulgado internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fontes:
Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
https://assets.lupa.news/425/4253572.pdf
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