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Lupa na Ciência: O que já se sabe sobre a ivermectina, a droga antiparasitária que está sendo testada para tratar a Covid-19
05.06.2020 - 12h00
Rio de Janeiro - RJ
O que você precisa saber:
  • Estudo mostrou que, em laboratório, o medicamento ivermectina, usado há anos para tratar infecções causadas por parasitas, foi capaz de inibir a replicação do SARS-CoV-2
  • Pesquisas em humanos já estão sendo conduzidas, mas estão em fase inicial e os resultados ainda são inconclusivos
  • Entidades de saúde em diferentes países estão emitindo comunicados pedindo para as pessoas não usarem o medicamento com o objetivo de tratar a Covid-19 até que haja evidências científicas mais robustas
Mais um medicamento com eficácia ainda não comprovada contra o novo coronavírus entrou para o rol de “remédios milagrosos” no combate à Covid-19. Depois da cloroquina, a ivermectina ganhou os holofotes, principalmente nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Um medicamento barato e popularmente usado no tratamento de infecções causadas por vermes e parasitas, ele reapareceu em abril, quando um estudo publicado na Antiviral Research indicou que o fármaco foi capaz de inibir a replicação do SARS-CoV-2 in vitro. Com isso, farmácias registraram um aumento estrondoso nas vendas, levando entidades de diversos países, incluindo o Brasil, a emitir comunicados desaconselhando seu uso para tratar a Covid-19 até que se tenha mais estudos sobre o assunto.
A ivermectina é um medicamento utilizado há décadas para tratar algumas infecções em humanos – também para combater parasitas em animais, embora sob outra fórmula. Na sua versão veterinária, é bastante indicado para acabar com sarnas em gatos e cachorros, por exemplo. Em estudos anteriores e preliminares, o medicamento se mostrou eficaz também para frear a replicação de alguns vírus, como o da aids e o da dengue, mas nunca foi aprovado para tratar essas doenças. O que chamou a atenção dos pesquisadores que buscam um tratamento para a Covid-19 é que esses dois vírus possuem uma estrutura parecida com a do SARS-CoV-2. São fitas de RNA simples envoltas por uma capa de proteínas. Por isso, acreditaram que o efeito do medicamento poderia ser semelhante contra esse novo patógeno.
No estudo publicado na Antiviral Research, os especialistas infectaram células isoladas com o novo coronavírus e aplicaram dosagens específicas da ivermectina. Essas doses foram capazes de remover todo o RNA viral das células em 48 horas, já que o medicamento é capaz de inibir uma proteína usada pelo novo coronavírus para se movimentar pelo núcleo celular e começar sua replicação. Animados com os resultados, defenderam que este pode ser um potencial e conveniente tratamento para a Covid-19 por ser uma droga já usada há anos e que é considerada segura (os efeitos colaterais relatados são leves).
Esse otimismo, contudo, deve ser visto com cautela. Primeiro, porque o que se tem até agora é a publicação apenas dos resultados de uma primeira etapa da pesquisa, e nem sempre o que é observado in vitro se repete quando o medicamento é testado em animais ou em humanos. Segundo, porque de acordo com alguns pesquisadores, a dosagem utilizada em laboratório para inibir a replicação do vírus foi muito alta, e dificilmente se consegue aplicar essa mesma concentração em organismos vivos. Os próprios autores da pesquisa disseram que são necessários estudos clínicos (em humanos) para verificar se é possível alcançar doses terapêuticas da droga e usá-las no combate ao novo coronavírus.
Esses estudos clínicos já estão em andamento, mas seus resultados ainda não foram publicados em revistas científicas de peso. No boletim mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre drogas potenciais em teste para combater a Covid-19, divulgado no final de maio, a entidade cita este estudo in vitro e dois clínicos observacionais já concluídos com a ivermectina. Em relação aos estudos em humanos já finalizados, que apontaram uma melhora no quadro de quem usou o medicamento, a OMS classifica-os com o grade (avaliação e classificação da qualidade das pesquisas) mais baixo, indicando que há pouca certeza sobre a confiabilidade dos resultados. De acordo com a organização, ainda não há evidências suficientes para que se tenha qualquer conclusão sobre os benefícios ou perigos do uso medicamento contra a Covid-19. Contudo, já há estudos avançados sobre o tema em andamento.
Mesmo com dados inconclusivos, alguns países já sinalizam a ivermectina como um tratamento potencial para a Covid-19. É o caso do Peru e da Bolívia, que passaram a autorizar, com ressalvas, a administração desta droga em casos leves e severos da doença. Os países indicam que, como não há evidências científicas robustas, esta deve ser uma decisão do médico e do paciente. Já nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) afirma que este medicamento ainda não é indicado para tratar a Covid-19.  Aqui no Brasil, a orientação do Ministério da Saúde segue a linha do órgão americano.
Fontes:
Conselho Federal de Farmácia. Documento disponível em:
http://www.cff.org.br/noticia.php?id=5757
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