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É falso que CoronaVac seja produzida a partir de ‘células de bebês abortados’
23.07.2020 - 20h35
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais um post que diz que células de bebês abortados estão sendo utilizadas na produção da vacina CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac. Essa vacina está sendo testada no Brasil em parceria com o Instituto Butantan. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Células de bebês abortados são utilizadas para produção de vacina chinesa. Será que o Doria vai revelar isso em suas coletivas de imprensa?”
Legenda de imagem publicada no Facebook que, até as 20h do dia 23 de julho de 2020, tinha sido compartilhada por mais de 430 pessoas
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Não há evidências de que “células de bebês abortados” foram utilizadas no desenvolvimento da Coronavac, vacina em desenvolvimento pela farmacêutica chinesa Sinovac. Segundo artigo publicado na revista Science, seis imunizações que estão sendo desenvolvidas contra a Covid-19 usaram culturas de células originadas em dois fetos abortados, um em 1972 e outro em 1985, para produzir componentes da vacina.
A Coronavac, contudo, não está nessa lista. Segundo pesquisadores da companhia, em artigo também publicado pela revista Science, células Vero foram usadas para cultivar os vírus utilizados na produção da vacina. Essa cultura celular, desenvolvida em 1962, foi criada a partir de células renais de uma espécie de macaco africano conhecida como “macaco verde”. Ou seja, não foi feita utilizando fetos humanos como plataforma.

Tecidos humanos

O artigo da Science, publicado em junho, trata do uso de células fetais humanas no desenvolvimento de vacinas. Há 50 anos, culturas celulares desenvolvidas em laboratório a partir de embriões são usados para testar ou produzir medicamentos, vacinas e outros produtos. Uma delas, conhecida como HEK-293, foi criada em 1972 a partir de células renais de um feto abortado nos Países Baixos. Outra, o PER.C6, foi feita em 1985, no mesmo país, a partir de células da retina. As duas foram criadas pelo cientista holandês Alex van der Eb.
As células usadas não são dos próprios fetos, mas suas cópias. Embora tenham se originado em um embrião, elas sofreram modificações e foram replicadas por décadas, em diferentes partes do mundo.
Essas células são usadas para a realização de testes ou para a criação de componentes, e não são um ingrediente em si de vacinas ou medicamentos. Segundo a Science, cinco imunizações para a Covid-19 estão usando a HEK-293 ou a PER.C6 para desenvolver culturas de adenovírus inativados. Esse procedimento só é necessário em vacinas de vetor viral não replicante.
Já a outra é uma vacina americana que está sendo desenvolvida à base de subunidades de proteína do vírus. As células são usadas para desenvolver essa proteína.
Entre as seis vacinas listadas pela Science, apenas duas já estão sendo testadas em humanos. Uma delas é a ChAdOx-1 nCov-19, que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford. Assim como a Coronavac, está sendo testada no Brasil. A outra é uma imunização que está sendo desenvolvida pela empresa chinesa CanSino Biologics, e está ainda na segunda fase de testes com humanos.

Como é feita a vacina

A vacina da Sinovac é produzida com vírus inativados da Covid-19. Os cientistas infectam células com o vírus para que ele se multiplique. Como explicado acima, os pesquisadores utilizaram cópias de células de macaco nessa etapa, e não cópias de células de fetos humanos.
Em seguida, são coletados e desativados por procedimentos químicos. Uma substância à base de alumínio é adicionada aos vírus inativados e purificados para formular a vacina. Em artigo publicado na revista Nature no início de junho, especialistas explicam que essa substância ajuda a alertar o organismo sobre o invasor e a induzir a produção de altos níveis de anticorpos neutralizantes.
Segundo o Instituto Butantan, o sistema imune costuma reagir a esses preparados com a secreção de anticorpos feitos sob medida contra o patógeno, e com o armazenamento de um conjunto de células que farão mais desses anticorpos quando houver um contato com o patógeno depois da vacinação. Esse método é o mais tradicional de produção de vacinas, e é usado em imunizações contra sarampo e poliomielite, por exemplo.
Como explicado acima, os pesquisadores utilizaram cópias de células de macaco na fase de multiplicação e inativação do vírus, e não cópias de células de fetos humanos. Em nota, o Instituto Butantan negou que a vacina da Sinovac utilize células fetais humanas. No comunicado enviado, confirmou que a vacina testada em São Paulo é produzida a partir de vírus inativados e “segue padrões científicos”.

Fases de testes

Nesta terça-feira (21), a CoronaVac começou a ser testada em São Paulo, no Hospital das Clínicas da USP. A vacina está na terceira fase de estudos clínicos. Ao todo, nove mil profissionais de saúde, em vários estados do Brasil, serão voluntários nesse teste. O Instituto Butantan, do governo de São Paulo, assinou acordo para produzir a vacina no Brasil caso ela se mostre segura e eficaz contra a Covid-19.
A primeira e segunda fase de testes da vacina da Sinovac contaram com 743 voluntários no total, entre 18 e 59 anos, sendo 143 pacientes na primeira e 600, na segunda. Ambos estudos foram randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo. A Sinovac informou que obteve 90% de êxito nos resultados ao induzir a produção de anticorpos neutralizantes nos voluntários. Contudo, os resultados ainda não foram publicados em nenhuma revista científica.
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Evelyn Fagundes
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