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É falso que vacinas contra a Covid-19 contêm microchip que permite controle externo a partir de antenas 5G
04.08.2020 - 16h47
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelas redes sociais que vacinas contra a Covid-19 contêm microchips que recebem sinais 5G, e permitem o controle externo do corpo humano. Algumas dessas teorias da conspiração falam especificamente de vacinas chinesas. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“A vacina “chinesa” contém RNA replicavel digitalizável, ou seja para controlar a humanidade através das ondas que vai emitir as antenas 5G. você faz assina pensa que está curado E quando eles ativar em si cai duro sem saber porquê. não fazam uma vacina chinesa, logo vai chegar a vacina de outro país segura”
Texto em imagem publicada no Facebook que_, até às 16h do dia 04 de agosto de 2020, tinha sido compartilhado mais de 300 pessoas_
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Segundo a professora Kalinka Castelo Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, não é possível controlar seres humanos através de microchips usando a tecnologia 5G.
É possível, tecnicamente, inserir um chip no corpo humano com uma injeção. Kalinka cita, por exemplo, um experimento feito pelo professor Mario Garizzo, atualmente da UFABC – na época, ele atuava na USP de São Carlos. Ele utilizou essa tecnologia para desenvolver um revólver que só pode ser usado pelo seu proprietário. Um microchip instalado em sua mão emite ondas de rádio que destravam a arma. Caso um criminoso, por exemplo, roube a arma e tente utilizá-la, ele não conseguirá destravá-la.
Contudo, as tecnologias usadas atualmente apesar de permitirem que esses chips recebam informações, não operam com tecnologia 5G e não contém ou alteram de forma deliberada o material genético de uma pessoa. “A tecnologia 5G é só uma outra forma [em comparação com o 4G, por exemplo] de transmitir os dados. Não tem relação nenhuma com a vacina ou com os chips”, afirma a professora.

Vacinas chinesas

Há mais de uma vacina chinesa na terceira fase de testes, desenvolvidas com diferentes tecnologias. Uma delas, a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, está sendo testada no Brasil. A assessoria de imprensa do Instituto Butantan, que está coordenando os testes no Brasil, informou que não há qualquer componente de controle digital na vacina chinesa ou “RNA replicável digitalizável”.
Na verdade, a vacina é composta de vírus inativados que são inseridos no corpo para estimular o sistema imune do organismo. Após a vacinação, o corpo passa a produzir anticorpos e fica imune ao patógeno sem a necessidade de passar pela infecção real. Esse é um dos métodos mais tradicionais para a produção de imunizações, e é usado contra raiva, hepatite A, poliomielite e gripe, por exemplo.
A vacina da Sinovac é desenvolvida em cinco passos. Em um primeiro momento, o novo coronavírus é isolado em um laboratório e os pesquisadores infectam células para que o vírus se multiplique. Após essas etapas, o vírus é inativado por meio de procedimentos químicos. Isso impede que ele cause uma infecção na pessoa vacinada. Uma substância chamada adjuvante é adicionada aos vírus inativados e depois purificados. Por fim, a vacina é aplicada em duas doses para induzir a produção de anticorpos.

5G

O 5G, ou quinta geração da internet móvel, é uma nova tecnologia de transmissão de dados sem fio, já disponível comercialmente em 38 países e territórios. Trata-se de uma evolução das redes 4G, atualmente usadas no Brasil. O 5G tem uma banda mais larga, e permite uma velocidade de download consideravelmente mais alta do que a de seu antecessor, além de transmissões mais estáveis.
Essa não é a primeira vez que a Lupa desmente uma informação falsa envolvendo a rede de dados. Em maio, classificamos como falsa a informação de que o fundador da Microsoft, Bill Gates, estaria criando uma vacina não líquida capaz de controlar os usuários por meio da rede.
Fora do Brasil, circularam diversas teorias da conspiração sobre a relação da tecnologia 5G com a Covid-19. Uma análise feita pela Lupa mostrou que isso foi o tema de 116 checagens em entre janeiro e junho deste ano. Em abril, a Organização Mundial da Saúde publicou um comunicado afirmando que a rede de transmissão não é responsável pela disseminação do novo coronavírus.
A tecnologia 5G ainda não está disponível de forma generalizada no Brasil. Atualmente, há apenas transmissões experimentais em bairros do Rio de Janeiro e de São Paulo, feitos pela operadora Claro. Outras duas operadoras, Tim e Vivo, devem iniciar testes em alguns municípios até setembro. Entretanto, a disponibilidade em escala comercial desse formato de transmissão no país só deve começar em 2021.
Correção às 14h55 do dia 5 de agosto de 2020: Ao contrário do que foi informado inicialmente, o professor Mario Garizzo não é professor da USP atualmente. Quando desenvolveu a pesquisa citada na checagem, ele lecionava na USP de São Carlos, mas atualmente ele está na UFABC.
Nota:‌ ‌esta‌ ‌reportagem‌ ‌faz‌ ‌parte‌ ‌do‌ ‌‌projeto‌ ‌de‌ ‌verificação‌ ‌de‌ ‌notícias‌‌ ‌no‌ ‌Facebook.‌ ‌Dúvidas‌ sobre‌ ‌o‌ ‌projeto?‌ ‌Entre‌ ‌em‌ ‌contato‌ ‌direto‌ ‌com‌ ‌o‌ ‌‌Facebook‌.
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João Pedro Capobianco
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