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Lupa na Ciência: Casos de Covid-19 entre gatos podem ser comuns, alerta estudo
07.10.2020 - 12h00
Rio de Janeiro - RJ
O que você precisa saber:
– Um estudo feito na China identificou anticorpos contra o novo coronavírus em 15 gatos na cidade de Wuhan, de um total de 102 examinados. Isso mostra que casos de felinos com Covid-19 podem ser relativamente comuns
– Apesar de contraírem a doença, nenhum dos gatos apresentou sintomas. Não há nenhuma evidência, também, de que eles tenham transmitido a doença para humanos
– Outro estudo, publicado nos Estados Unidos, mostrou que gatos podem transmitir a doença para outros gatos
– Pessoas que contraem a doença devem manter uma rigorosa higiene e distanciamento para não contaminarem seus animais de estimação
Um estudo publicado no periódico Emerging Microbes & Infections mostrou que casos de Covid-19 entre gatos podem ser mais comuns do que se imaginava. Pesquisadores da Universidade Agricultural de Huazhong, na China, avaliaram amostras sanguíneas de 102 felinos de Wuhan, epicentro do primeiro surto de Covid-19, e concluíram que 15% deles desenvolveram anticorpos contra o vírus. Apesar disso, nenhum dos gatos apresentou sintomas. Outro estudo, feito nos Estados Unidos, comprovou que eles podem transmitir a doença entre si – mas não há evidências que eles possam contagiar humanos.
Publicado em setembro, o estudo chinês foi feito a partir de amostras sanguíneas, nasais e anais de 102 gatos, coletadas entre janeiro e março. 46 deles estavam abandonados em abrigos de animais, 41 em cinco hospitais veterinários e 15 moravam com pessoas diagnosticadas com Covid-19. De acordo com os especialistas, embora nenhum dos animais tenha testado positivo para a doença na hora do exame nem manifestado sintomas, 15 amostras indicaram a presença de anticorpos contra o novo coronavírus.
Para os autores, isso significa que a doença pode infectar mais gatos do que se imaginava. Eles avaliam, também, que os animais estão susceptíveis ao novo coronavírus mesmo em ambientes de rua, uma vez que alguns dos animais infectados viviam em abrigos. A pesquisa confirmou, ainda, que todas as amostras positivas para anticorpos foram colhidas após o surto de Covid-19 entre humanos na região. Isso indica que nós podemos transmitir o vírus para eles – mas não há indícios de que o inverso seja verdadeiro. “Portanto, devem ser consideradas medidas para manter uma distância adequada entre os pacientes com a doença e animais de estimação, como cães e gatos, além de medidas de higiene e quarentena para os animais com alto risco”, dizem.
Dois dos gatos que desenvolveram anticorpos para a doença foram acompanhados por mais 130 dias, com o objetivo de avaliar a resposta imunológica de seus organismos. Segundo o estudo, a reação se assemelha àquelas observadas em infecções sazonais por outros coronavírus. A concentração de anticorpos diminui com o tempo, sugerindo que os animais têm risco de reinfecção.

Testes em laboratório

Para avaliar a forma como o vírus atua no organismo dos animais domésticos, pesquisadores da Colorado State University realizaram um estudo piloto (estudo inicial, em pequena escala), com sete gatos. Cinco deles, com idades entre cinco e oito anos, foram anestesiados e receberam partículas virais de SARS-CoV-2 inoculadas nas suas narinas. Eles tiveram a temperatura monitorada constantemente nos dias seguintes e passaram por testes PCR-RT, que coletou material da saliva e fossas nasais. Além disso, amostras de sangue dos animais foram coletadas todos os dias para medir se eles produziam anticorpos contra o novo coronavírus e em qual quantidade.
No segundo dia após a infecção, dois dos gatos infectados foram colocados em uma gaiola com os dois que não haviam sido expostos ao vírus. Todos foram submetidos aos mesmos exames. Semanas após o experimento, os pesquisadores concluíram que todos eles desenvolveram uma infecção pelo SARS-CoV-2, que eles podem espalhar o vírus por até cinco dias e infectar outros animais da mesma espécie por contato direto. “Os gatos são altamente suscetíveis à infecção e são capazes de transmissão por contato direto para outros gatos”, concluíram os autores. Contudo, nenhum deles apresentou nenhum sintoma.
Alguns desses animais foram, semanas depois, expostos novamente ao patógeno e não tiveram uma segunda infecção. Isso significa, de acordo com os autores, que eles desenvolveram uma resposta imunológica robusta o suficiente para protegê-los, pelo menos, por um curto período de tempo.
Os pesquisadores também avaliaram a resposta do organismo de três cachorros, que receberam doses do vírus e foram submetidos a exames rotineiros de PCR-RT, de sangue, e testes para avaliar o quadro clínico em geral. Nenhum deles apresentou sintomas da doença e nem produziu grandes quantidades do vírus em locais como narinas e saliva, que seriam as vias de transmissão para outros. No entanto, eles também produziram anticorpos contra o novo coronavírus, o que indica que o patógeno foi capaz de infectá-los.
Os resultados deste estudo são semelhantes às conclusões de uma pesquisa feita em abril e publicada então na revista Science. Na ocasião, os pesquisadores haviam indicado, também a partir de experimentos laboratoriais, que gatos eram mais suscetíveis ao novo coronavírus, mas cachorros, porcos, patos e frangos também podiam contrair a doença. Uma das hipóteses para esse fenômeno, segundo estudo publicado em abril, é a versão da proteína ECA-2, usada pelo novo coronavírus para se ligar às células do hospedeiro, em cada animal. A versão felina dessa substância é praticamente idêntica à dos seres humanos, enquanto em cachorros e outros animais ela é um pouco diferente.
Fontes:
Emerging Microbes & Infections. Artigo disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/22221751.2020.1817796
Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Artigo disponível em:
https://www.pnas.org/content/early/2020/09/28/2013102117
Science Magazine. Artigo disponível em:
https://doi.org/10.1126/science.abb7015
Journal of Virology. Artigo disponível em:
https://jvi.asm.org/content/94/7/e00127-20
Nota: o projeto Lupa na Ciência é uma iniciativa da Agência Lupa contra a desinformação em torno do novo coronavírus e da Covid-19 e conta com o apoio do Google News Initiative. Para saber mais, clique aqui.
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