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Médico cita informações falsas para criticar vacina contra Covid-19 em entrevista ao Pânico
23.10.2020 - 17h32
Rio de Janeiro - RJ
Na última quarta-feira (21), o programa Pânico da rádio Jovem Pan contou com a presença do neurocirurgião Paulo Porto de Melo. Durante a entrevista, Melo citou informações e dados falsos sobre a pandemia da Covid-19 e sobre a vacina Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica Sinovac. Ele afirmou, por exemplo, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, reviu mais de 200 mil óbitos e concluiu que apenas 6% casos eram mortes por Covid-19. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
“O CDC, por exemplo, uma questão de um mês atrás (…) reviu os mais de 200 mil óbitos e chegou a conclusão que apenas 6% efetivamente de Covid-19”
Neurocirurgião Paulo Porto de Melo em entrevista ao programa Pânico da rádio Jovem Pan
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) não reviu os óbitos por Covid-19 nos Estados Unidos e concluiu que apenas 6% foram mortes causadas pelo novo coronavírus. Na realidade, a agência analisou os atestados de óbitos por Covid-19 e observou que, em 6% dos casos, a doença do novo coronavírus é a única causa de morte citada no documento. Nos outros 94% dos casos, outras ocorrências são mencionadas junto com a Covid-19. Isso inclui, contudo, sintomas relacionados à própria doença, como pneumonia, insuficiência respiratória, etc.
Essa explicação pode ser vista no site da agência e também em nota do CDC encaminhada à Lupa em setembro. Em seu site, o CDC explica ainda como ocorre o preenchimento dos atestados de óbitos nos Estados Unidos. O documento precisa ser preenchido por um médico ou legista, indicando informações observadas no paciente. Sendo assim, se um infectado por Covid-19 tiver uma parada cardíaca devido a infecção, essa informação pode – ou não – ser adicionada no atestado de óbito por esses profissionais. O CDC ressalta ainda que a “Covid-19 não deve ser relatado na certidão de óbito se não tiver causado ou contribuído para a morte”.
Essa mesma informação incorreta foi divulgada pelo presidente americano, Donald Trump, e difundida amplamente nas redes sociais brasileiras. Em setembro, a Lupa desmentiu essa informação, que também foi verificada pelo site de checagem americano FactCheck.org e pelas agências de notícias Reuters, AFP e AAP.
Procurado, o doutor Paulo afirmou que 94% dos pacientes que tiveram Covid-19 mencionado em seu atestado de óbitos apresentavam outras comorbidades. Segundo o neurocirurgião, “o que se interpreta disto, é que qualquer outra infecção ou agravo a saúde, que não fosse Covid-19, poderia ter causado o mesmo desfecho”. Ele afirmou que na maioria dos casos o novo coronavírus seria “a gota d’agua’ que faltava para o paciente morrer”. Contudo, essa informação não é respaldada pela própria instituição que ele cita como fonte.

“A vacina chinesa pelos dados soltos pela China mesmo tem um efeito colateral é de 5,37%”
Neurocirurgião Paulo Porto de Melo em entrevista ao programa Pânico da rádio Jovem Pan
Verdadeiro, mas...
Em setembro, uma pesquisa com voluntários na China mostrou que 5,36% das pessoas que tomaram a Coronavac, vacina produzida pela chinesa Sinovac, tiveram efeitos adversos. Contudo, na imensa maioria dos casos esses efeitos foram considerados leves: 3,08% dos voluntários tiveram dor no local de aplicação, 1,53% sentiu fadiga e 0,21% teve febre leve. Apenas 0,03% sofreram efeitos considerados mais sérios.
No último dia 20, o Instituto Butantan anunciou dados de segurança dos testes no Brasil. Segundo o instituto, cerca de 35% dos voluntários sofreu algum tipo de efeito adverso, mas o mais comum foi dor no local de aplicação e dor de cabeça, que pode ou não estar ligada à vacina. “Os demais efeitos, como mialgia, fadiga, calafrios, são menores que 5%”, disse o presidente do instituto, Dimas Covas. Apenas 0,1% dos voluntários teve febre, e em nenhum caso ela foi maior do que 38 graus.
Procurado, o doutor Paulo afirmou que, levando em consideração toda a população brasileira, 0,03% corresponderia mais de 6 mil brasileiros com efeitos colaterais mais sérios.

“Esse ano morreram quatro vezes mais pessoas de HIV do que de Covid no mundo inteiro”
Neurocirurgião Paulo Porto de Melo em entrevista ao programa Pânico da rádio Jovem Pan
Ainda é cedo
Até o momento, a UNAIDS, programa das Nações Unidas, não tem dados de mortes relacionadas à Aids para 2020. Em 2019, último ano disponível para consulta, a organização estima que 690 mil pessoas morreram desta doença no mundo, podendo ter chegado a, no máximo, 970 mil. A estimativa do programa é de que a interrupção no tratamento do HIV por seis meses durante a pandemia da Covid-19 pode resultar na morte de até 500 mil pessoas por doenças relacionadas à Aids. Se esse modelo matemático estiver correto, o número de mortes irá ficar em torno de 1,5 milhão, no pior dos cenários. Atualmente, o Worldometers contabiliza um total de 1.141.511 mortes por Covid-19.
Procurado, o doutor Paulo afirmou que se confundiu durante a entrevista. Na realidade, ele estava querendo comparar o número de infectados por Covid-19 com HIV – e não os dados de óbitos.
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Evelyn Fagundes
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