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Áudio do WhatsApp usa dados falsos para dizer que ‘coronavírus não mata ninguém’
27.10.2020 - 21h30
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelo WhatsApp um áudio que faz uma série de afirmações sobre a Covid-19. O homem afirma que o “vírus não mata ninguém”, referindo-se ao novo coronavírus. Diz ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) teria concordado com as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a ineficácia e letalidade do isolamento social na pandemia. A pessoa que faz essas declarações se identifica como “Doutor Marcelo Frazão”, da cidade de São Simão, localizada na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
A Lupa entrou em contato por telefone com Frazão para verificar a autoria do áudio, o que foi confirmado por ele. Perguntado sobre onde seria possível encontrar documentos que comprovem as suas afirmações, disse que elas poderiam ser comprovadas pelo “Partido Comunista Chinês”. Frazão irritou-se quando foi questionado sobre a sua titularidade de “doutor” e xingou o repórter.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
“Não é vírus que mata ninguém. Nunca ninguém morreu nesse mundo por causa de um resfriado e ninguém morre de resfriado nesse mundo”
Áudio enviado pelo WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Diversas síndromes virais – como influenza (gripe), poliomielite, sarampo e a própria Covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). – podem provocar mortes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,1 milhão de pessoas haviam morrido devido à Covid-19 até esta terça-feira (27). Mas mesmo resfriados, que são causados por outros vírus, podem gerar complicações de saúde que, em alguns casos, levam a falecimentos.
A Covid-19 não é classificada como um resfriado. Segundo o Manual MDS, publicação especializada produzida por um conselho internacional de médicos independentes, os resfriados são causados, majoritariamente, por vírus da família rinovírus. Alguns tipos de coronavírus também podem desencadear essa doença, mas esse não é o caso do SARS-CoV-2 que, de acordo com o Manual MDS, provoca sintomas mais graves.
Segundo a pesquisadora Rafaela da Rosa Ribeiro, do Instituto de Pesquisa Albert Einstein, um resfriado tem um potencial de letalidade muito menor do que a Covid-19 – porém, é capaz de levar pacientes a óbito. Ribeiro lembra que o vírus da SARS, que circulou na Europa em 2002 e 2003, tinha uma taxa de letalidade de 10%. Já o causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) apresenta letalidade de 34% dos infectados. “O novo coronavírus tem uma gama enorme de sintomas, desde leves, como resfriado, quanto um potencial grande de causar síndrome respiratória, assim como SARS e MERS. Portanto, tem uma taxa de letalidade acima de coronavírus que só causam resfriado”, diz.

“A Organização Mundial de Saúde está dizendo tudo o que o que o presidente Bolsonaro disse lá no início: que essa porcaria desse resfriado não mata ninguém, o que mata é esse controle populacional, desemprego, fome e miséria. É isso que mata”
Áudio enviado pelo WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. A OMS não se posicionou em concordância às declarações do presidente Jair Bolsonaro. Esse boato teve início em 31 de março, quando Bolsonaro citou, em discurso a jornalistas e apoiadores, um tuíte do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em que ele chamava os governos a assumirem políticas de socorro às populações mais vulneráveis, para afirmar que os trabalhadores informais poderiam retornar às suas atividades. No dia seguinte, Ghebreyesus frisou em seu discurso para a imprensa internacional que a sua intenção foi salientar a importância de os governos adotarem medidas de apoio social durante o período de isolamento.
Na última segunda-feira (26), o diretor-geral da OMS voltou a reforçar a necessidade das medidas de prevenção à Covid-19. Ele afirmou que é possível retornar às atividades escolares e econômicas e reconheceu que as pessoas já não querem mais lockdown. Destacou, contudo, que, para evitá-lo, é preciso que todas as pessoas façam a sua parte na contenção do vírus, inclusive mantendo-se em casa, se for possível. “Você deve continuar mantendo o distanciamento físico, usando máscaras, lavando as suas mão regularmente, tossindo longe das pessoas, evitando aglomerações ou encontrando amigos e familiares em locais abertos”, disse.
A OMS jamais defendeu a tese de que o vírus não provoca a morte das pessoas. Em seu site oficial, é possível encontrar uma seção em que são descritos os sintomas da doença provocada pelo coronavírus. Nesse texto é explicado que, em casos graves, os pacientes podem vir a óbito. Além disso, neste mês de outubro, a organização publicou documento que alerta para a segunda onda de infecções no mundo e reafirma a necessidade de os Estados se organizarem de modo a garantir a testagem em massa e o pronto atendimento de saúde.

“Essa é uma vacina que altera o código genético, vocês vão comprometer a vida de seus filhos e netos. Vocês vão causar síndromes perigosas que vão destruir a vida de seus filhos e netos, inclusive no sentido de fertilidade, de homossexualismo”
Áudio enviado pelo WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Os efeitos adversos mais recorrentes observados nos testes realizados com a CoronaVac foram dor no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga. Febre baixa foi identificada em apenas 0,1% dos voluntários. Não foi encontrada nenhuma publicação que relacionasse a aplicação de vacinas a distúrbios genéticos, ou que apontasse que o imunizante seria capaz de interferir na fertilidade ou na orientação sexual de crianças.
Procurado, o Instituto Butantan reafirmou a segurança da pesquisa com a CoronaVac. A entidade ressaltou que, antes de a vacina chegar ao Brasil, foi testada em humanos na China. O Butantan informou que os testes encontram-se na fase 3 e que “somente após a sua conclusão [dos testes] e aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), poderá ser administrada na população para proteger contra a Covid-19”.
A pesquisadora Rafaela da Rosa Ribeiro, do Instituto de Pesquisa Albert Einstein, destaca que não há nenhuma consistência na afirmação de que as vacinas modificam o DNA humano. “A possibilidade de uma vacina mexer no nosso código genético é uma especulação bem ousada. Nosso código genético é bastante protegido e possui eficiente mecanismos para corrigir erros”, diz. Ela explica que a vacina em desenvolvimento pelo Butantan, a CoronaVac, está sendo realizada a partir da técnica de inativação do vírus, tradicional na história da medicina. “O vírus morto, presente na vacina, não tem essa capacidade. Ele não pode entrar na célula e aumentar sua quantidade”, diz.
Ribeiro salienta ainda que nem o vírus vivo teria esse poder, já que ele não se replica utilizando informações do DNA humano. “Temos que lembrar das nossas aulas de biologia que DNA e RNA são moléculas diferentes. Nosso código genético é feito de DNA , e para alguma coisa entrar no meio desse DNA e modificá-lo, precisa ser um DNA”, afirma. “O coronavírus é de RNA e não tem capacidade de colocar o material genético em nosso DNA.”
O boato sobre vacinas interferirem no código genético humano é antigo, diz a pesquisadora. Ela relata que algumas pessoas chegaram a afirmar que os imunizantes poderiam provocar autismo, mas lembra que o principal estudo que relatava isso foi retratado e descobriu-se que o pesquisador Andrew Wakefield tinha interesses econômicos nessas associações. “Cada vez mais comprova-se que as vacinas são seguras e eficientes”, ressalta.

“Não existem provas científicas de que essa vacina funcione ou deixe de funcionar”
Áudio enviado pelo WhatsApp
Ainda é cedo
Ainda é cedo para saber se as vacinas contra a Covid-19 funcionam, porque esses produtos estão em desenvolvimento. A OMS contabiliza 44 pesquisas de vacinas que estão na fase de ensaios clínicos, ou seja, que estão em estágio de testagem em humanos. Outras 154 estão em um período anterior, de observações pré-clínicas. Isso significa que nenhuma está aprovada para aplicação na população, portanto, nenhuma delas está disponível para o tratamento preventivo à Covid-19. Alguns desses imunizantes, no entanto, estão na fase 3 dos ensaios, última etapa antes da conclusão dos estudos.

“Leva em torno de 15 anos para que uma vacina seja produzida”
Áudio enviado pelo WhatsApp
Exagerado
É exagerada a informação checada pela Lupa. De acordo com publicação de 27 de agosto da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o processo de desenvolvimento de uma vacina costuma ser de aproximadamente 10 anos. No entanto, a OPAS informa que, devido à emergência do novo coronavírus, as instituições de pesquisa têm se dedicado a acelerar esse processo para que haja uma vacina segura e eficaz entre 12 a 18 meses. Novas tecnologias que dependem de um desenvolvimento mais rápido, como o mRNA, também têm sido usadas para criar um imunizante contra a Covid-19.
A OMS criou um pool de pesquisadores para o compartilhamento de ferramentas e para auxiliar na descoberta de uma vacina, o Acelerador Act. A ficha da CoronaVac, disponível no site da US National Library of Medicine, por exemplo, indica previsão de finalização da pesquisa em outubro de 2021.
Esta‌ ‌verificação ‌foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.
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Evelyn Fagundes
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