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Documentos não mostram que chineses testaram coronavírus como arma biológica há 5 anos
10.05.2021 - 19h07
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelas redes sociais um texto cujo título diz que documentos mostram que o novo coronavírus foi testado como arma biológica pelos chineses cinco anos antes da pandemia da Covid-19. A origem da informação seria uma reportagem da jornalista australiana Sharri Markson, da emissora Sky News, divulgada no último domingo (9). Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
“Bomba: Documentos mostram coronavírus sendo testado como arma biológica 5 anos antes da pandemia por chineses”
Título de texto no site Terra Brasil Notícias que, até as 13h de 10 de maio de 2021, tinha mais de 1,8 mil compartilhamentos
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Em nenhum momento a reportagem de Sharri Markson, exibida no programa Sharri, na Sky News, diz que os chineses testaram o novo coronavírus como uma arma biológica cinco anos atrás. Segundo a jornalista, um livro discute como seria a possibilidade de um ataque desse tipo e quais seriam suas consequências. A obra teria sido produzida em 2015 por cientistas militares do Exército Popular de Libertação da China e oficiais de saúde pública daquele país.
O conteúdo faz parte de um livro escrito por Sharri, O que Realmente Aconteceu em Wuhan (“What Really Happened in Wuhan”, em inglês), sobre a origem da Covid-19, previsto para ser lançado em setembro. A íntegra do documento citado pela jornalista não foi divulgada. Sharri afirma que o texto anuncia os coronavírus do tipo Sars como “uma nova era de armas genéticas”. Segundo ela, os cientistas dizem que seria possível manipulá-los artificialmente para se tornarem capazes de adoecer humanos, transformá-los em armas e soltá-los no ambiente de uma maneira jamais vista.
O livro que serviu de base para a reportagem de Sharri tem o título A Origem Não-Natural da SARS e Novas Espécies de Vírus Feitos pelo Homem como Armas Genéticas (“The Unnatural Origin of SARS and New Species of Man-Made Viruses as Genetic Bioweapon”, em inglês). Entre os seus autores estão o pesquisador Xu Dezhong, da Quarta Universidade Médica Militar – líder de um grupo de especialistas que analisou a epidemia de Sars, em 2003 –, e Li Feng, ex-vice-diretor do Escritório para Prevenção de Epidemias.
A reportagem de Sharri, no entanto, foi criticada por tratar o livro de Dezhong como um documento que teria vazado. Segundo o jornal chinês Global Times, a obra chegou a ser vendida na Amazon e atualmente está esgotada. Uma busca no site da loja com o título em chinês revela que, de fato, o livro foi comercializado no passado. Logo, não se trataria de algo secreto que só agora veio à tona. “O livro sugere que a epidemia de SARS durante 2002 e 2004 na China teve origem em uma modificação genética não-natural que se originou em outro país”, diz o jornal.
Dezhong ficou conhecido no passado por defender a ideia de que o SARS-CoV, vírus causador da síndrome respiratória aguda grave (SARS), tinha sido criado artificialmente. Essa teoria foi tema de um artigo publicado em 2014 pelo Chinese Medical Journal, o que coincide com o relato do Global Times sobre o livro citado por Sharri. “De acordo com nossas pesquisas, levantamos a possibilidade de disseminação global de uma zoonose causada por um patógeno de origem não natural”, escreveu Dezhong, em conjunto com outros cientistas.
Um outro texto, publicado no Journal of Thoracic Disease em 2013, sobre os dez anos da epidemia de SARS, também cita a teoria de Dezhong. “Durante anos, um grupo de cientistas liderado por Xu Dezhong na Quarta Universidade Médica Militar procurou pela origem do SARS-CoV com biotecnologia. Eles concluíram que o SARS-CoV pode ser não natural e provavelmente não totalmente uma zoonose”, diz o autor, Xu Ruiheng, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Guangdong. Ele ressaltou, contudo, que estudos mostraram que o SARS-CoV passou dos animais para os humanos.
A análise feita por Dezhong, portanto, concentrou-se nos motivos que teriam levado o vírus da SARS a se espalhar pela China. Ele não discute se o país poderia fabricar um organismo desse tipo. Em vez disso, tenta listar indícios de que a epidemia da Sars poderia ter sido provocada por um ataque militar feito no passado. Entre os indícios apontados pelo pesquisador seria o desaparecimento repentino do SARS-CoV tempos depois do início da epidemia e o fato de não ter sido identificado o animal que teria transmitido a doença para os seres humanos.
De acordo com o South China Morning Post, Dezhong disse que seu artigo não foi levado a sério na China. O pesquisador afirmou que tentou publicar sua teoria na revista The Lancet e também escreveu uma carta para o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), sem sucesso. Além disso, um capítulo do livro citado por Sharri, que trata sobre métodos para criar armas biológicas, foi extraído de um artigo escrito por um coronel da Força Aérea dos Estados Unidos, Michael Ainscough, um ano antes da epidemia de SARS.
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