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É falso que vacinas contra Covid-19 injetam ‘toxina’ e causam infertilidade
21.06.2021 - 18h37
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelo WhatsApp um texto que discute os “dados aterrorizantes” trazidos por um pesquisador canadense que chama as vacinas contra a Covid-19 de “toxinas perigosas” e “um grande erro”. Byram Bridle associa os imunizantes a casos de coágulos sanguíneos e ao risco de infertilidade. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
“Uma nova pesquisa mostra que a proteína de pico do coronavírus da vacinação COVID-19 entra inesperadamente na corrente sanguínea, o que é uma explicação plausível para milhares de efeitos colaterais relatados de coágulos sanguíneos e doenças cardíacas a danos cerebrais e problemas reprodutivos, disse um pesquisador canadense de vacinas contra o câncer na semana passada. […] ‘Pensamos que a proteína spike era um ótimo antígeno alvo, nunca soubemos que a proteína spike em si era uma toxina e era uma proteína patogênica. Então, ao vacinar as pessoas, estamos inadvertidamente inoculando-as com uma toxina’, disse [o pesquisador Byram] Bridle […]”
Trecho de texto do site Tribuna Nacional que circula em grupos de WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. De fato, Byram Bridle, veterinário e professor da Ontario Veterinary College, no Canadá, deu as declarações atribuídas a ele em um episódio de podcast publicado em 27 de maio de 2021. No entanto, suas interpretações das pesquisas foram rebatidas por especialistas.
O estudo ao qual Bridle se refere é um relatório produzido pela farmacêutica Pfizer na fase pré-clínica de desenvolvimento de seu imunizante contra a Covid-19. O documento estava disponível no site do órgão regulatório japonês equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O objetivo era avaliar o trajeto feito por nanopartículas lipídicas, que são um dos componentes da vacina da Pfizer, no corpo de ratos de laboratório. A pesquisa, todavia, não concluiu que a proteína Spike causa “milhares de efeitos colaterais”, nem que se trata de uma “toxina”.
A vacina desenvolvida pela Pfizer consiste de nanopartículas lipídicas, pedaços microscópicos de gordura, que servem como uma espécie de “envelope” para carregar um RNA mensageiro, ou mRNA. Esse pequeno fragmento de material genético contém as instruções para que as células do corpo humano produzam a chamada proteína Spike do SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19. Essa proteína estimula o sistema imunológico a produzir defesas contra o vírus. A partícula se desintegra em pouco tempo e não interage, em momento algum, com o núcleo das células — portanto, não tem capacidade de alterar o material genético de células humanas.
O estudo mencionado pelo veterinário não mostra a circulação da proteína Spike na corrente sanguínea, e, sim, o trajeto feito pelas nanopartículas lipídicas pelo corpo. Além disso, em sua conclusão, os pesquisadores da Pfizer avaliaram que as substâncias injetadas nos ratos foram eliminadas por meio do metabolismo ou da excreção fecal, não permanecendo no organismo.
É importante reforçar também que as vacinas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro não injetam a proteína Spike diretamente, mas substâncias que vão induzir as células a produzirem a proteína.
Em outro conteúdo checado pela Lupa que também envolvia a controversa entrevista de Bridle, a suposta patogenicidade da proteína Spike já havia sido desmentida. “Não há evidências de que essa proteína apresente toxicidade por si só”, afirmou a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora científica pela Rede Análise COVID-19.
De acordo com a biomédica, também não há evidências de que a proteína Spike esteja relacionada a casos de trombocitopenia trombótica imune induzida pela vacina (TTIIV), que ocorre quando o paciente desenvolve baixa contagem de plaquetas e pequenos coágulos sanguíneos depois de tomar vacina. “Todas as análises de mecanismos feitas até o presente momento não apontaram a Spike como um agente causador desse fenômeno. Se fosse algum mecanismo ligado à proteína, a incidência seria extremamente mais elevada”, analisou Mellanie.

“A alta concentração de proteína spike encontrada em testículos e ovários nos dados secretos da Pfizer divulgados pela agência japonesa também levanta questões. ‘Vamos tornar os jovens inférteis?’ Bridle perguntou.”
Trecho de texto do site Tribuna Nacional que circula em grupos de WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Os “dados japoneses” fazem parte do relatório da Pfizer — que não é secreto — e avaliam o trajeto feito pelas nanopartículas lipídicas pelo corpo de ratos de laboratório. Não há qualquer relação do estudo com a suposta toxicidade da proteína Spike.
De fato, o relatório entregue às autoridades japonesas aponta que, horas depois de sua injeção, as nanopartículas apresentaram um pequeno acúmulo em algumas regiões do corpo, especialmente no fígado, baço, glândulas suprarrenais e ovários. No entanto, o próprio documento reforça que as nanopartículas foram posteriormente eliminadas.
O mesmo relatório foi avaliado e mencionado no documento produzido pela Agência Europeia de Medicamentos ao longo do processo de aprovação do imunizante da Pfizer — inclusive destacando a pequena concentração das nanopartículas detectada nos ovários. No entanto, a agência reforça que estudos de toxicidade de dose repetida não encontraram qualquer vestígio das substâncias na região, afastando qualquer suspeita de que a vacina possa levar à infertilidade.

“O pico de proteína associado à vacina na circulação sanguínea poderia explicar uma miríade de eventos adversos relatados das vacinas COVID, incluindo as 4.000 mortes até o momento e quase 15.000 hospitalizações, relatadas ao Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas do governo dos EUA (VAERS) em 21 de maio de 2021.”
Trecho de texto do site Tribuna Nacional que circula em grupos de WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. O Vaccine Adverse Event Reporting System (VAERS) é um sistema vinculado ao Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e ao U.S. Food and Drug Administration (FDA), órgãos reguladores dos Estados Unidos. A plataforma tem como objetivo coletar relatos de reações que pacientes tiveram depois de receberem vacinas. Essas informações não foram necessariamente investigadas, e não é possível estabelecer uma relação direta entre eventuais efeitos e as vacinas.
O VAERS recebeu, até 17h de 21 de junho de 2021, 4.692 notificações de mortes e 20.397 notificações de hospitalizações de pacientes que haviam tomado a vacina contra a Covid-19. No entanto, esses dados representam apenas suspeitas de efeitos que podem, mas não necessariamente têm alguma relação com os imunizantes.
“É muito importante monitorar a segurança de vacinas, mas as informações do VAERS não podem ser usadas de forma isolada para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um evento adverso ou doença. Os relatos podem conter informações incompletas, imprecisas, coincidências ou não-verificáveis”, destaca a plataforma.
As informações são coletadas para que as autoridades reguladoras consigam monitorar os efeitos das vacinas e eventualmente reconsiderem suas autorizações para uso, caso julguem necessário.
Em março, a Lupa checou outra informação falsa que utilizava os dados do VAERS para afirmar que as vacinas contra a Covid-19 causaram a morte de 501 norte-americanos.
Essas informações também foram analisadas por Projeto Comprova e Aos Fatos.
Esta‌ ‌verificação ‌foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.
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