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É falso que presidente do Chile declarou ‘guerra a comunistas’
05.07.2021 - 17h58
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelo WhatsApp uma imagem que afirma que o presidente do Chile, Sebastián Piñera, com o apoio das Forças Armadas, declarou guerra contra socialistas e comunistas. A mensagem diz que “agora é a nossa vez”, sugerindo que o mesmo deveria ser feito no Brasil. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
“Chile deu o exemplo
Agora é a nossa vez
A corda arrebentou
Militares em ação no Chile
Forças Armadas do Chile ficam ao lado do presidente. Sebastian Piñera comunica: estamos em guerra contra os socialistas comunistas.”
Texto em imagem que circula em grupos de WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Piñera não declarou guerra a socialistas ou comunistas, e, sim, fez uma fala genérica de que o país estava “em guerra” durante uma onda de manifestações no Chile em 2019.
Em meados de outubro daquele ano, o Chile mergulhou em uma onda de protestos. A revolta popular foi inicialmente motivada pelo aumento do preço do metrô na capital Santiago, mas logo se espalhou por outras cidades chilenas. Milhares de pessoas foram às ruas para criticar a desigualdade social e o alto custo de vida no país. Piñera, que segue no poder, determinou, entre outras medidas, estado de emergência e toque de recolher em algumas regiões para tentar conter os protestos.
Em 20 de outubro, quando a revolta popular já somava sete mortos, Piñera fez um pronunciamento à nação para defender o estado de emergência. “Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém, e que está disposto a usar a violência e a delinquência sem qualquer limite — inclusive quando significa a perda de vidas humanas. Está disposto a queimar nossos hospitais, nossas estações de metrô, nossos supermercados, com o único propósito de produzir o maior dano possível a todos os chilenos”, declarou Piñera. Não há no discurso qualquer menção a “socialistas” ou “comunistas”, como a imagem afirma.
No fim de seu pronunciamento, Piñera reforçou que não fazia distinção de orientação política ao se referir aos manifestantes. “Esse não é um problema de esquerda, de direita, de ideologia. Esse é um problema muito simples: entre os que queremos liberdade, democracia e vida em paz, e os que querem destruir nosso país. E vamos ganhar essa batalha.”
A foto em que Piñera aparece rodeado de militares foi tirada no mesmo dia, em 20 de outubro, e publicada na conta oficial da Presidência do Chile no Twitter. “Agora, na Guarnição Santiago, o presidente Piñera monitora a situação dos estados de emergência, controle de riscos e desdobramento de forças de trabalho e apoio, a mando do general Javier Iturriaga na região metropolitana”, diz a legenda. Apesar de ser uma tentativa de demonstração de força do presidente chileno, também não há qualquer menção sobre uma suposta declaração de “guerra contra os comunistas”.
Os conflitos no Chile se estenderam por meses e deixaram ao menos 31 mortos. Organizações internacionais de direitos humanos denunciaram ainda 296 vítimas de violência sexual de agentes policiais, 359 vítimas de lesões oculares relatadas em manifestações e mais de 1,2 mil detenções ilegais. Em abril deste ano, Piñera foi denunciado pelo abuso da repressão policial no Tribunal Penal Internacional.
Para pôr fim à instabilidade social, o presidente propôs um plebiscito para decidir se a Constituição do país, aprovada durante a ditadura do general Augusto Pinochet, deveria ou não ser modificada. 78% dos eleitores votaram a favor da criação de uma Assembleia Constituinte, cujos representantes foram eleitos em maio de 2021. Neste domingo (4), uma líder indígena foi eleita presidente da Assembleia — que é a primeira do mundo a ter paridade de representação entre homens e mulheres.
Esta‌ ‌verificação ‌foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.
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