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Quantidade de votos brancos, nulos e abstenções não foi igual nas eleições de 2004 em Guarulhos
30.07.2021 - 15h00
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelas redes sociais um vídeo em que um homem apresenta dados das eleições de 2004 em Guarulhos (SP) que provariam a possibilidade de fraude das urnas eletrônicas. Ele afirma que os números de abstenção foram idênticos à quantidade de votos brancos e nulos somados, o que seria uma “coincidência improvável”. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Dia 7 de outubro de 2004, 79.927 eleitores não foram votar. 79.927 eleitores votaram brancos e nulos. E mais 79.927 apresentaram justificativa. Então essa coincidência improvável, impossível… Com esses 79.927, eles conseguiram inverter o resultado da eleição e fazer com que um candidato [a prefeito] da época ganhasse no primeiro turno.”
Declaração de Antonio D’Agostino à rádio Jovem Pan que, até 17h do dia 29 de julho de 2021, havia sido curtida por 43 usuários no Instagram
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. A quantidade de eleitores que votaram em branco ou nulo não é igual ao número de abstenções no primeiro turno das eleições de 2004 em Guarulhos (SP). Assim, não há evidências de uma suposta “coincidência improvável” como diz o vídeo que circula pelas redes sociais.
Em 21 de julho, Antonio D’Agostino, identificado como “contador e auditor”, concedeu uma entrevista de cerca de 12 minutos à rádio Jovem Pan. A gravação que circula pelas redes sociais foi produzida com trechos dessa entrevista.
D’Agostino afirma que estuda a segurança das urnas eletrônicas brasileiras há 22 anos. Seu interesse teria surgido ao disputar uma vaga de vereador pelo PV em Guarulhos no ano de 2004. Na ocasião, as urnas registraram 608 votos, enquanto, segundo D’Agostino, mais de mil pessoas teriam declarado voto a ele. A partir de então, o contador disse ter iniciado uma auditoria independente que teria levado quatro anos para ser concluída e que supostamente aponta irregularidades na disputa para prefeito daquele ano. Uma das evidências seriam os números mencionados no trecho em questão.
Segundo dados da Justiça Eleitoral, nas eleições de 2004 em Guarulhos, 650.193 eleitores estavam aptos para votar no município. Desses, 79.927 não compareceram às urnas. Esse número é igual ao mencionado por D’Agostino. No entanto, na votação para prefeito, foram 18.279 votos em branco e outros 32.144 nulos, totalizando 50.423, e não 79.927 — o que descaracteriza a suposta “coincidência improvável” de números que seria fruto de uma fraude.
Além disso, entre os dados dos pleitos não existe um “número de justificativas”, já que elas não precisam ser realizadas no dia da votação e não necessariamente devem ser feitas no domicílio eleitoral.
O contador também é impreciso quando diz que a eleição foi realizada em 7 de outubro de 2004, uma quinta-feira, enquanto, na verdade, foi no domingo anterior, dia 3 de outubro. Naquela data, Elói Pietá (PT) foi reeleito no primeiro turno com 53,58% dos votos válidos. Jovino (PV), do mesmo partido pelo qual D’Agostino disputou as eleições, terminou em segundo lugar.
Questionado pela Lupa por e-mail, D’Agostino defendeu que sua auditoria é “amplamente detalhada e documentada” e deu uma versão diferente da apresentada à Jovem Pan. Ele disse que o número de votos brancos, nulos e abstenções teria sido aumentado artificialmente após o fechamento das urnas — o que diminuiria a quantidade de votos que Pietá teria que atingir para vencer já no primeiro turno. Essa diferença do número de votos brancos, nulos e abstenções, antes e depois da suposta fraude, seria de 79.927, caracterizando a “coincidência impossível”. Essa e outras provas documentais estariam na auditoria completa, que está à disposição das autoridades, informa o contador.
Apesar de mencionar na entrevista que não gostava de política, D’Agostino se candidatou mais seis vezes para vereador, deputado estadual e federal. Ele concorreu pelo PV até 2016, tentou a Câmara dos Deputados pela Rede em 2018 e, pelo PRTB, disputou mais uma vez a Câmara de Vereadores de Guarulhos em 2020. Não obteve sucesso em nenhuma das disputas.

“Eles trocaram os disquetes. […] E depois da eleição, geraram mais 100 urnas para autenticar esses disquetes que eles modificaram. E a fraude não pode ocorrer em 100% das urnas porque ficaria muito na vista, né.”
Declaração de Antonio D’Agostino à rádio Jovem Pan que, até 17h do dia 29 de julho de 2021, havia sido curtida por 43 usuários no Instagram
Falso
Nesta quinta-feira (29), o Tribunal Superior Eleitoral, responsável por coordenar as eleições, negou qualquer fraude no pleito de 2004. O órgão declarou que uma troca de disquetes não seria efetiva, já que ao fim da votação a urna imprime o boletim com todos os dados registrados no equipamento. “Com esse comprovante, emitido e publicado no final do pleito em cada seção eleitoral, é possível conferir os resultados, inclusive comparando com o que é divulgado pela Justiça Eleitoral na internet. Qualquer tentativa de manipulação dos conteúdos gravados nas mídias ficaria rapidamente evidenciada pelas discrepâncias com o boletim de urna impresso”, declarou o órgão.
O TSE também ressaltou que as informações contidas nas mídias são protegidas por assinatura digital, e que uma eventual assinatura que não fosse gerada pela urna seria percebida. Ainda segundo o órgão, em 2012, todas as urnas substituíram os disquetes por cartões de memória.
Nota:‌ ‌esta‌ ‌reportagem‌ ‌faz‌ ‌parte‌ ‌do‌ ‌‌projeto‌ ‌de‌ ‌verificação‌ ‌de‌ ‌notícias‌‌ ‌no‌ ‌Facebook.‌ ‌Dúvidas‌ sobre‌ ‌o‌ ‌projeto?‌ ‌Entre‌ ‌em‌ ‌contato‌ ‌direto‌ ‌com‌ ‌o‌ ‌‌Facebook‌.
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