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É falso que pessoas que tiveram Covid-19 não devem tomar vacina
12.08.2021 - 18h30
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelo WhatsApp o vídeo de um homem afirmando que quem teve Covid-19 está “absolutamente imunizado” e não há indicação para tomar a vacina contra a doença. Ele diz ainda que existe o risco de uma hiperexcitação do sistema imunológico nas pessoas que já contraíram a doença, se elas receberem uma aplicação do imunizante. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
“Não há indicação […]. Quem teve a doença está imunizado pela própria doença. A vacina nada mais é do que uma tentativa de simular a doença para obrigar o sistema imunológico a produzir anticorpos. Então quem teve a doença está absolutamente imunizado”
Trecho de vídeo que circula em grupos de WhatsApp
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. O desenvolvimento de anticorpos por meio da infecção varia de acordo com o paciente, e não necessariamente o torna “absolutamente imunizado”. Por esse motivo, a vacina contra a Covid-19 é indicada para as pessoas que também já se recuperaram da doença. Essa é a orientação, por exemplo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde do Brasil, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e do Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido.
O epidemiologista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Guilherme Werneck ressalta que a infecção não necessariamente oferece uma proteção melhor que a gerada pela vacina. “A imunidade por infecção varia muito, dependendo do grau, se foi mais ou menos grave, mais ou menos sintomática. As respostas imunes são bem diferentes. Nesse sentido, as vacinas podem oferecer imunidade tão boa ou até melhor e mais duradoura que a infecção”, explica. Ele destaca ainda que as vacinas não simulam exatamente a infecção. “Quando ela se dá, é um vírus vivo que entra na pessoa, se multiplica e gera a resposta imune. As vacinas têm diferentes plataformas e nenhuma delas envolve o vírus vivo”, diz.
A indicação da OMS é para que pessoas que já tiveram Covid-19 também se imunizem, a menos que recebam orientação contrária de um profissional da saúde. “Mesmo que você tenha tido uma infecção anterior, a vacina age como um reforço que fortalece a resposta imune. Existem alguns casos de pessoas infectadas com SARS-CoV-2 pela segunda vez, o que torna a vacinação ainda mais importante”, orienta a entidade, em um painel que responde a dúvidas sobre vacinas. “A maioria das pessoas infectadas com SARS-CoV-2 desenvolve uma resposta imune nas primeiras semanas, mas ainda estamos aprendendo o quão forte e duradoura é essa resposta imune, e como ela varia entre diferentes pessoas.” O NHS recomenda que aqueles que testaram positivo para a doença aguardem ao menos 28 dias após o início dos sintomas para se vacinarem. Já a Fiocruz orienta aguardar um mês.
O homem que aparece nas imagens que circulam pelo WhatsApp é o médico neurocirurgião Paulo Porto de Melo. O vídeo foi originalmente publicado no dia 12 de junho em seu canal no YouTube e, até 12 de agosto, contabilizava 47,3 mil visualizações. A gravação começa com uma mulher que questiona se deve buscar a imunização depois que ela, a mãe e o avô contraíram a Covid-19. Um trecho dessa gravação também passou a circular pelo WhatsApp. Questionado pela Lupa por e-mail sobre esta afirmação falsa, ele não respondeu até a publicação desta checagem.

“[…] os trabalhos mais recentes apontam que essa imunidade pode durar mais do que 13 meses.”
Trecho de vídeo que circula em grupos de WhatsApp
Verdadeiro, mas...
O estudo mencionado por Melo é um pré-print, ou seja, ainda precisa passar pela revisão de outros cientistas. No entanto, de fato, há evidências de que a imunidade causada pela infecção por Covid-19 pode permanecer por um longo período. Estudos recentes já apontam que anticorpos da doença podem ser detectáveis por, pelo menos, um ano após a infecção. Entretanto, isso não quer dizer que essas pessoas estejam dispensadas da vacinação.
Em maio, cientistas publicaram uma revisão de estudos na revista EBioMedicine sugerindo a aplicação de apenas uma dose das vacinas Pfizer ou Moderna em pessoas que já tivessem se recuperado da Covid-19. A ideia é que a dose funcione como um reforço da imunidade, agindo de forma semelhante à segunda aplicação da vacina para quem não foi infectado. O objetivo seria maximizar o número de pessoas com acesso ao imunizante.
No Brasil, o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, produzido pelo Ministério da Saúde, prevê imunizar toda a população brasileira maior de 18 anos, sem excluir aqueles que já contraíram a doença anteriormente.

“Se os títulos de anticorpos ainda estiverem altos, é até arriscado tomar a vacina porque você pode provocar uma hiperexcitação do sistema imunológico.”
Trecho de vídeo que circula em grupos de WhatsApp
Falso
O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 do Ministério da Saúde afirma que, em caso de “doenças agudas febris moderadas ou graves”, o paciente deve adiar a vacinação até a resolução do quadro. No entanto, o documento ressalta que “não há evidências, até o momento, de qualquer preocupação de segurança na vacinação de indivíduos com história anterior de infecção ou com anticorpo detectável pelo SARS-Cov-2”.
O professor Guilherme Werneck, da Uerj, afirma que existe uma síndrome ligada a determinadas doenças, como a dengue, capaz de provocar uma resposta imune exacerbada. “Mas não há nada disso relatado para a Covid, de que a vacinação poderia ocasionar essa resposta”, explica.
O epidemiologista reforça que milhões de brasileiros já tiveram a doença e tomaram a vacina, sem serem registrados problemas desse tipo. Até quarta-feira (11) foram 20,2 milhões de testes confirmados de Covid-19 desde o início da pandemia no país. Ao todo, 47,5 milhões de brasileiros, ou 22,47% da população, estão completamente imunizados.
A Lupa entrou em contato por e-mail com o médico Paulo Porto de Melo, mas não obteve retorno sobre esta afirmação falsa até a publicação desta checagem.
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Ítalo Rômany
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