UOL - O melhor conteúdo
Lupa
Relatório assinado por mais de cem organizações aponta falhas das redes sociais
19.09.2022 - 14h54
Rio de Janeiro - RJ
Um grupo de mais de cem organizações da sociedade civil e acadêmicas publicou, na sexta-feira (16), um balanço das políticas contra a desinformação nas principais redes sociais durante as Eleições de 2022. As instituições concluíram que, faltando menos de um mês para a realização do primeiro turno, há questões fundamentais a serem resolvidas.
O balanço “O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral em 2022” avalia as ações tomadas pelas plataformas de redes sociais para preservar a integridade eleitoral. A avaliação concluiu que o modelo de negócio das principais empresas do setor está relacionado a “desinformação, discurso de ódio e violência política”, o que demonstra um problema estrutural. “Conteúdos com essas características geram mais engajamento, sendo, portanto, lucrativos para as empresas”, aponta o relatório.
A análise concluiu que as ações tomadas, até então, pelas plataformas são insuficientes para “conter a violência política de gênero e raça”. Além disso, nenhuma delas tem medidas para coagir o negacionismo da crise climática e científica. 
O documento é uma atualização do relatório lançado há dois meses, em 7 de julho deste ano, e atualmente conta com 116 signatários. Uma carta aberta também foi lançada com o apoio de 26 instituições internacionais, incluindo a Global Witness, ONG internacional que averigua os conflitos gerados pela exploração de recursos naturais, pobreza, corrupção e abusos de direitos humanos em nível mundial.

Facebook e Instagram (Meta)

A Meta tem parcerias com projetos de verificação de conteúdos, incluindo o programa de verificação feito com checadores de fatos do mundo todo — do qual a Lupa participa desde 2018. O relatório avalia que a inclusão da biblioteca de anúncios no escopo do projeto foi positiva, assim como a proibição, desde 16 de agosto de 2022, de anúncios políticos que questionem a legitimidade das eleições brasileiras.  
Porém, sua política de integridade eleitoral é a menos abrangente entre todas as plataformas abertas. Ela, por exemplo, não classifica como desinformação publicações com acusações infundadas sobre fraude eleitoral e também não limita conteúdos publicados por políticos (eleitos e candidatos).
Além disso, mesmo após a mudança de regra ocorrida em agosto, anúncios contrários à política de conteúdo “continuam a não ser detectados e barrados pelo sistema do Facebook, o que evidencia ineficácia da medida”, mostra o levantamento da Netlab/UFRJ, citado no balanço.

WhatsApp

O WhatsApp, também de propriedade da Meta, monitora dados não criptografados como nome e imagens de grupos, tentativas de disparo em massa, automações indevidas e expõe, em seu termo de serviço, que o mesmo não pode ser usado para disseminação de “declarações falsas, incorretas ou enganosas”. Além disso, a Meta tem uma parceria com checadores de fatos, incluindo a Lupa, para a criação de canais de comunicação entre usuários do aplicativo e checadores.
Contudo, o relatório concluiu que o WhatsApp tem “baixa ou nenhuma capacidade” para restringir a difusão de conteúdos falsos ou enganosos.  O relatório destaca que a plataforma não informa se já puniu quem viola esse tipo de norma, mas que bane 8 milhões de contas mensalmente no mundo, devido a violações de regras.

Twitter

O Twitter tem uma política de integridade cívica e eleitoral para o enfrentamento de conteúdos falsos que coloquem em risco o processo eleitoral. Também realiza curadoria de conteúdo e dá destaque às informações confiáveis sobre o tema. 
Na avaliação do relatório, porém, o Twitter só remove conteúdos enganosos a respeito das candidaturas se os mesmos violarem também alguma outra regra da plataforma, como discurso de ódio, por exemplo.

Telegram

A plataforma não tem nenhuma política relacionada à integridade cívica, eleitoral e de combate à desinformação, mesmo após apresentar uma série de ações ao TSE, em 6 de junho de 2022. O relatório também destaca que ela “foi a única plataforma que não se dispôs a dialogar efetivamente com as entidades signatárias do documento, tendo promovido reunião pró‑forma com escritório de advocacia”.

TikTok

Segundo o relatório, a plataforma de vídeos curtos tem uma ampla política de integridade eleitoral. Ela proíbe, por exemplo, alegações infundadas de fraude e tentativas de intimidar eleitores. 
Porém, o balanço explica que não está claro como a plataforma aplica sua política de moderação, e que também não há políticas específicas para impedir conteúdos que interferem diretamente nas eleições, a não ser que “apelem explicitamente à violência”. Além disso, não possui nenhuma medida para impedir que vídeos enganosos produzidos no TikTok circulem em outras redes. 

Kwai 

De acordo com o relatório, o aplicativo tem políticas detalhadas a respeito das eleições, incluindo alegações infundadas sobre fraude eleitoral. A plataforma enfatiza o seu comprometimento e engloba em suas políticas, vídeos que violem o Código Eleitoral do Brasil.
Apesar disso,não há biblioteca de anúncios, o que impede o monitoramento do conteúdo político impulsionado no período de eleições. Assim como no TikTok, também não tem política para inibir vídeos desinformativos em outras redes sociais.

YouTube

Sua política de integridade eleitoral abrange conteúdos incorretos sobre “requisitos para candidaturas”, informações roubadas por hackers e alegações falsas sobre as urnas nas eleições brasileiras de 2014 e 2018.
Porém, sua política de integridade não vale para os conteúdos que trazem alegações, mesmo que comprovadamente infundadas, sobre outras eleições, incluindo as próprias eleições de 2022. Também não existe política para inibir conteúdos “contra a ordem democrática” ou que interfiram nas eleições, mas que não apelem explicitamente à violência.

Google (relatório de anúncios políticos)

A política de integridade eleitoral engloba os conteúdos com alegações falsas sobre as urnas eletrônicas e eleições em eleições anteriores, informações erradas a respeito dos requisitos de candidatura ou “informações baseadas em informações roubadas por hackers”. A plataforma também anunciou a expansão da biblioteca de anúncios, que passará a englobar cargos estaduais. 
Entretanto, o relatório só disponibiliza o link para os anúncios, impedindo o download e dificultando a análise de pesquisadores. Além disso, as propagandas que violam as políticas das plataformas são apagadas, o que também dificulta uma análise mais aprofundada sobre o tema.


Clique aqui para ver como a Lupa faz suas checagens e acessar a política de transparência
A Lupa faz parte do
The trust project
International Fact-Checking Network
A Agência Lupa é membro verificado da International Fact-checking Network (IFCN). Cumpre os cinco princípios éticos estabelecidos pela rede de checadores e passa por auditorias independentes todos os anos.
A Lupa está infringindo esse código? FALE COM A IFCN
Tipo de Conteúdo: Reportagem
Conteúdo investigativo que aborda temas diversos relacionados a desinformação com o objetivo de manter os leitores informados.
Copyright Lupa. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização.

Leia também


17.01.2025 - 16h20
Redes Sociais
Notas da Comunidade do X falham, e fakes ganham espaço na plataforma

Uma das principais mudanças anunciadas pela Meta é o de substituir seu programa de checagem de fatos e copiar o modelo de "Notas da Comunidade" do X. Embora a Meta não tenha detalhado como o sistema será implementado, o formato utilizado no X apresenta diversas falhas. A Lupa teve acesso ao "Notas da Comunidade" e analisou seu funcionamento.

Ítalo Rômany
14.01.2025 - 17h21
Economia
Desinformação sobre Pix impacta mais de 9 milhões no WhatsApp e Telegram em 7 dias

Aplicativos receberam quase duas mensagens sobre falsa taxação do Pix a cada minuto desde o último dia 7, com mais de 9 milhões de usuários do WhatsApp e Telegram impactados. Narrativa que opõe governo a microempresário lembra a observada na campanha eleitoral dos EUA no ano passado.

Cristina Tardáguila
14.01.2025 - 14h26
Redes Sociais
AGU diz que resposta da Meta causa preocupação e marca audiência pública

A AGU manifestou "grave preocupação" em relação ao posicionamento enviado pela Meta nesta segunda (13) ao governo sobre as mudanças nas políticas de combate à desinformação e de condutas de ódio na plataforma. A AGU diz que o tom adotado pela big tech pode representar “terreno fértil para violação da legislação e de preceitos constitucionais”.

Ítalo Rômany
13.01.2025 - 17h23
Redes Sociais
“No Brasil, já temos leis para cobrar”, diz MPF sobre mudanças da Meta

A decisão da Meta de encerrar seu programa de checagem nos EUA gerou reações no Brasil, levando a AGU a dar 72 horas para a empresa esclarecer a medida, enquanto o MPF também solicitou informações sobre mudanças nas políticas de moderação. O procurador Yuri Corrêa alerta para possível redução na proteção dos usuários caso a medida seja adotada.

Ítalo Rômany
09.01.2025 - 17h21
reportagem
Only 8% of ‘Community Notes’ in Portuguese on X Reach Users

Data extracted from the program that Elon Musk advocates as the best solution against disinformation shows that, despite its growing popularity, the Portuguese version suffers from a series of flaws that undermine the initiative.

Cristina Tardáguila
Women Owned
Assine nossa newsletter
sobre desinformação
Acompanhe nossas redes
Lupa © 2025 Todos os direitos reservados
Feito por
Dex01
Meza Digital