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Lupa
As mentiras e os exageros mais repetidos por Bolsonaro na campanha
14.10.2022 - 20h00
São Paulo - SP
Fim da corrupção, criação do PIX e redução do feminicídio foram algumas das mentiras mais repetidas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha no 1º turno das eleições de 2022.
Afirmações falsas sobre gestão da pandemia, incêndios na Amazônia e benefícios sociais também têm idas e vindas no discurso do candidato à reeleição. Bolsonaro ainda mentiu em várias ocasiões sobre fraudes no sistema eleitoral – 14 das 18 frases ditas por ele sobre o tema foram classificadas como falsas.
A Lupa checou o atual presidente da República em 15 ocasiões desde 1º de junho deste ano. Confira a seguir as mentiras e os exageros que mais se repetiram em suas manifestações:
COMBATE À CORRUPÇÃO
“Não tem corrupção no meu governo”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu que não há corrupção em seu governo em cinco ocasiões diferentes checadas pela Lupa: entrevista à Jovem Pan, discurso no Sete de Setembro, pronunciamento na Organização das Nações Unidas (ONU) e nos debates da Globo e do SBT. A frase não foi exatamente a mesma, com variações como “quatro anos sem corrupção” ou “três anos e oito meses e você não vê escândalo de corrupção no meu governo”, mas o sentido é o mesmo.
O governo Bolsonaro é alvo de diversas acusações de corrupção, como escândalo do Ministério da Educação (MEC), em que pastores evangélicos controlavam a agenda e a liberação de verbas, pedido de propina para compra de vacina contra a Covid-19 e o chamado "orçamento secreto", que consiste no repasse de dinheiro público por meio de emendas parlamentares cuja destinação não é divulgada publicamente.

PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS
“Temos a gasolina mais barata do mundo”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu sobre o preço dos combustíveis em quatro ocasiões diferentes checadas pela Lupa. Ele falou que a gasolina brasileira é a mais barata ou uma das mais baratas do mundo no discurso de Sete de Setembro e no debate do SBT. Também mentiu duas vezes que a gasolina estava abaixo de R$ 5, em entrevistas à RedeTV! e à Jovem Pan – na época, os dados mais recentes eram da última semana de agosto, quando o preço médio no Brasil era de R$ 5,25 pelo litro.
O Brasil não tem a gasolina mais barata do mundo. Segundo a plataforma Global Petrol Prices, que analisa o preço de combustíveis em diversos países, o país aparece na 29ª posição, com o preço médio do combustível avaliado em US$ 0,90. Os dados são referentes ao dia 26 de setembro.

CRIAÇÃO DO PIX
“[Somos o governo] Que criou o PIX”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu três vezes sobre o PIX em checagens feitas pela Lupa: duas atribuindo a criação ao seu governo, na Jovem Pan e no Ratinho, e uma vez ao afirmar que os banqueiros são contra o sistema, na Rádio Guaíba.
O PIX foi resultado de um grupo de trabalho criado pelo Banco Central (BC) em 2018, durante o governo Michel Temer (MDB). O GT-Pagamentos Instantâneos do BC foi criado em maio daquele ano, e as características principais do novo sistema de pagamentos foram definidas em dezembro. O PIX foi lançado em 16 de novembro de 2020, já durante o governo de Bolsonaro.

APROVAÇÃO DO AUXÍLIO BRASIL
“Foi o meu governo, contra o voto do PT na Câmara [que aprovou Auxílio Brasil de R$ 400]”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu sobre a posição do PT na criação do Auxílio Brasil em três ocasiões diferentes checadas por Lupa: no podcast Flow e nos debates da Band e da Globo.
Os deputados do PT votaram favoravelmente à Medida Provisória nº 1.076/2021, que instituiu o valor mínimo de R$ 400 para o Auxílio Brasil — substituto do Bolsa Família. De acordo com o site da Câmara dos Deputados, o partido recomendou a aprovação da proposta e todos os parlamentares votaram a favor da medida. 

AUXÍLIO PARA MULHERES
“Quando é uma mulher, por exemplo, que é mãe solteira, ela chefe do casal, ela ganha R$ 1,2 mil por mês [de Auxílio Brasil]”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro citou informação falsa por duas vezes, em checagens feitas pela Lupa, ao afirmar que a mulher solteira e chefe de família recebe auxílio de R$ 1,2 mil por mês: na Jovem Pan e no Ratinho.
Esse pagamento extra às mulheres chefes de família chegou a ocorrer durante o Auxílio Emergencial, em 2020, mas o valor foi reduzido em 2021 e deixou de ser pago no final do ano passado, quando a lei que criou o programa foi sancionada e o benefício passou a ser de R$ 400 para todos.

BOLSA FAMÍLIA A EMPREGADOS
“[...] Quem conseguisse emprego perdia o Bolsa Família”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Em checagens feitas pela Lupa, Bolsonaro mentiu duas vezes que aqueles que conseguiam emprego, durante os governos do PT, perdiam direito ao Bolsa Família: no Ratinho e no debate da Globo.
Os beneficiários do antigo Bolsa Família que aumentavam sua renda contavam com garantias de proteção caso conseguissem trabalho. O recebimento só seria cortado se a renda familiar per capita (por pessoa) ultrapassasse o limite de renda permitido, não podendo ser maior do que meio salário mínimo.
Mesmo nos casos em que a renda familiar havia subido para até meio salário mínimo por pessoa, os beneficiários podiam continuar recebendo o Bolsa Família por até dois anos, desde que a família atualizasse voluntariamente as informações no Cadastro Único — essa norma era chamada de Regra de Permanência.

DÍVIDA DA PETROBRAS
“A Petrobras, ao longo de 14 anos do PT, se endividou em aproximadamente R$ 900 bilhões”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu, em três ocasiões diferentes checadas pela Lupa, que a Petrobras se endividou em aproximadamente R$ 900 bilhões nos governos do PT. As falas ocorreram em entrevista à Jovem Pan e nos debates da Band e da Globo.
De acordo com o Resultado Consolidado do 2º trimestre de 2016 da Petrobras (último período que Dilma esteve na presidência), o endividamento bruto da empresa era de R$ 397,8 bilhões (página 1). Esse valor hoje, corrigido pelo IPCA, ficaria em R$ 544,4 bilhões.

PROTEÇÃO DAS MULHERES
“[Nosso governo] reduziu o feminicídio no Brasil”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu, em três ocasiões diferentes checadas pela Lupa, que houve queda no número de feminicídios em seu governo: em entrevistas à RedeTV! e à Jovem Pan e durante seu pronunciamento na ONU. Ela ainda citou que a violência contra a mulher “diminuiu assustadoramente” em participação no programa do Ratinho.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2018, último ano antes de ele assumir como presidente, o Brasil teve um total de 1.229 casos (página 157). Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, o número aumentou para 1.330 em 2019 e 1.354 em 2020. Em 2021, o número caiu para 1.341, mas seguiu acima do patamar de 2018.

“Sancionei mais de 60 leis em defesa das mulheres”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Exagerado
O presidente também exagerou, em três ocasiões checadas pela Lupa, sobre o número de projetos de lei em defesa das mulheres sancionados em seu governo: no debate da Band, em entrevista à RedeTV! e no pronunciamento que fez na ONU.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), foram sancionadas 40 leis voltadas especificamente para as mulheres. Embora a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados tenha divulgado, em julho, uma lista com 72 leis de proteção da mulher criadas na atual gestão, 26 não têm relação direta com a “proteção” de mulheres.
Outras seis que foram listadas foram vetadas parcialmente ou totalmente pelo presidente. É o caso do PL sobre a distribuição de absorventes a estudantes e pessoas de baixa renda — veto que foi derrubado pelo Congresso. Vale pontuar que nenhum dos PLs sancionados eram de autoria do atual governo. 

FRAUDE NAS ELEIÇÕES
“No primeiro momento, foram centenas de vulnerabilidades encontradas [nas urnas]”
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu sobre questões relacionadas à falha nas urnas eletrônicas e fraude na apuração em sete ocasiões diferentes checadas pela Lupa. Apesar de não haver uma frase específica que se repita com mais frequência, foram analisadas 18 frases ditas por ele sobre o tema desde 1º de junho, sendo que 14 foram classificadas como falsas.
Ele mentiu quatro vezes sobre irregularidades na votação de 2018 e riscos de fraude em 2022: na reunião com embaixadores em Brasília e durante entrevistas ao SBT, ao Jornal Nacional e à Jovem Pan. Já as falhas no sistema eleitoral foram apontadas erroneamente pelo presidente em quatro ocasiões: reunião com embaixadores e entrevistas ao SBT, podcast Flow e Pânico
Apesar de ter contestado várias vezes o sistema eleitoral, Bolsonaro jamais apresentou provas. Em fevereiro deste ano, por exemplo, ele citou em uma live que o Exército identificou "dezenas de vulnerabilidades", mas não apontou quais seriam. O TSE disse, à época, que "não há levantamento sobre possíveis vulnerabilidades" e que as declarações veiculadas "não correspondem aos fatos nem fazem qualquer sentido".

GESTÃO DA PANDEMIA
"O Supremo falou que quem decidia [medidas contra a pandemia] no fim das contas era o prefeito"
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu dez vezes sobre a pandemia em checagens feitas pela Lupa desde 1º de junho. Uma mentira foi repetida em duas ocasiões (podcast Flow e Pânico): a de que o governo federal perdeu a autonomia para conduzir medidas contra a pandemia de Covid-19 por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
O STF não definiu que apenas os prefeitos tinham o "controle" das medidas estratégicas contra a pandemia da Covid-19. Na realidade, o Supremo julgou três ações e entendeu que governadores e prefeitos têm autonomia para traçar planos de combate ao vírus em seus respectivos territórios. Nenhuma das decisões afastava, porém, a possibilidade de o governo federal tomar medidas para conter a crise.

"Tem um estudo israelense que [mostra que a vacina da] Pfizer tem uma validade de quatro semanas"
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Em checagens feitas pela Lupa, Bolsonaro citou duas vezes a informação falsa de que a imunização feita pela vacina da Pfizer duraria apenas quatro semanas – nos podcasts Flow e Cara a Tapa. Ele se referia a um artigo de abril deste ano relacionado especificamente à quarta dose da vacina
Mas o estudo não diz que a vacina tem uma validade de quatro semanas, e sim que a proteção máxima é atingida quatro semanas após a aplicação e depois começa a diminuir progressivamente. Uma pesquisa mais recente, divulgada em julho deste ano na revista científica PNAS, mostrou que pessoas que foram vacinadas com as doses da Pfizer demoram uma média de 29,6 meses para se reinfectarem.

INCÊNDIOS NA AMAZÔNIA
"(...) a Amazônia, pra valer, não pega fogo, que é uma floresta úmida"
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu sobre incêndios na Amazônia em quatro ocasiões checadas pela Lupa: em entrevistas ao SBT, podcast Flow e RedeTV!, bem como no debate da Globo. A frase mais repetida foi a de que a floresta úmida não pega fogo, dita por ele em três momentos distintos, em junho, agosto e setembro.
Florestas úmidas, como a amazônica, são passíveis, sim, de incêndios em certas condições. Diante de fatores como o desmatamento, retirada seletiva de madeiras e o próprio fogo de manejo, feito por produtores rurais e pecuaristas para limpar terreno, esse tipo de bioma pode sofrer com as queimadas.
Especialistas alertam que as mudanças climáticas e a degradação provocada pela ação do ser humano causam o chamado efeito de borda e, por isso, a Amazônia está mais inflamável. De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), esse nome é dado às margens das áreas degradadas de uma floresta. Esse fragmento de floresta fica exposto a fatores biológicos e químicos e morre lentamente. Consequentemente, fica mais suscetível ao fogo. 

INVASÕES DO MST
"Nosso governo botou fim nas invasões do MST"
– Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição
Falso
Bolsonaro mentiu, em três ocasiões checadas pela Lupa, que zerou ou reduziu o número de invasões de terra no Brasil: no discurso de Sete de Setembro e em entrevistas à RedeTV! e ao Pânico.
De acordo com dados do Incra, o total de invasões de terra caiu significativamente entre os governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Durante o governo Bolsonaro, a tendência de queda se manteve. Portanto, não é correto dizer que o governo Bolsonaro “botou fim” às invasões de terra no país.
Nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010), a média anual de invasões de terra era, respectivamente, de 305 e 246. No final do governo Dilma, esse número começou a cair significativamente: foram 182 invasões em 2015, 57 em 2016 — ano no qual ela sofreu impeachment e foi substituída por Temer —, 40 em 2017 e 14 em 2018.
Em 2019, primeiro ano de Bolsonaro, a tendência de queda continuou: foram apenas oito invasões em 2019. Nos anos seguintes, o número voltou a crescer, mas ainda distante do patamar pré-2015: nove em 2020, 12 em 2021 e 17 até maio de 2022.

"No governo FHC era uma por dia [invasão de terra]"
– "No governo FHC era uma por dia [invasão de terra]"
Exagerado
O presidente exagerou por duas vezes, na RedeTV! e no Pânico, ao citar que a média era de uma invasão de terra por dia durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). De acordo com dados do Incra, durante os oito anos de gestão, foram registradas 2.442 invasões em imóveis rurais – média de 305 por ano ou 0,83 por dia.
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