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É falso que relatório das Forças Armadas aponta insegurança das urnas
10.11.2022 - 16h00
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelas redes sociais dois vídeos de comentários sobre o relatório de fiscalização do sistema eletrônico de votação produzido pelas Forças Armadas. De acordo com as gravações, o documento informa que as urnas eletrônicas não são seguras e permitem a execução de códigos maliciosos para adulteração dos resultados. 
Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
“O sistema eleitoral, as urnas eletrônicas, permitem a execução de códigos maliciosos que alteram o resultado”
– Declaração em vídeo que circula pelo Facebook
Falso
O homem que aparece na gravação analisada distorce uma das afirmações do relatório de fiscalização. Em suas conclusões, o documento diz que algumas das limitações impostas ao processo de fiscalização não permitem afirmar que o sistema “está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar seu funcionamento”. 
Portanto, não há qualquer apontamento no relatório indicando a presença de “códigos maliciosos” capazes de adulterar os resultados eleitorais. A Lupa entrou em contato com o médico Djalma Marques, conhecido como Doutor Kefir, e atualizará esta reportagem se houver resposta.

“Forças Armadas disseram, na verdade, que o sistema de votação eletrônico não é seguro (...)”
– Declaração em vídeo que circula pelo Facebook
Falso
O relatório das Forças Armadas não detectou qualquer falha concreta de segurança que pudesse levar à adulteração de votos. Apesar de criticar algumas restrições impostas ao processo de fiscalização, o documento tampouco confirma vulnerabilidades, apenas indicando “oportunidades de melhoria”.
Segundo o relatório, a fiscalização se deu por meio de sete etapas: 1. Abertura do código-fonte; 2. Cerimônia de assinatura digital e lacração dos sistemas; 3. Cerimônia de geração de mídias e preparação de urnas; 4. Cerimônia de verificação dos sistemas eleitorais instalados no TSE; 5. Testes de integridade; 6. Projeto-piloto com biometria; e 7. Verificação da correção da contabilização de votos.
O documento adota um tom crítico especialmente com relação às etapas 1 e 2. As Forças Armadas consideraram insuficiente a análise estática do código-fonte dos principais programas da urna, sem a possibilidade de execução das linhas. “O TSE autorizou que os técnicos acessassem a Sala de Inspeção portando somente papel e caneta”, aponta o relatório.
Vale ressaltar, contudo, que essa análise se deu entre os dias 2 e 19 de agosto de 2022, a apenas dois meses da realização do 1º turno das eleições. Os códigos-fonte estão disponíveis para inspeção por partidos e entidades desde outubro de 2021.
Já com relação à etapa 2, as Forças Armadas apontaram que os computadores utilizados no processo de compilação — a transformação dos códigos em binários executáveis pelas urnas — acessaram infraestrutura de rede. Isso, segundo o relatório, poderia configurar “relevante risco de segurança ao processo”. Também não há, entretanto, qualquer constatação de que tenha havido interferência externa nessa etapa.
As etapas 3, 5 e 7 tiveram a conformidade plenamente atestada no documento. A 4 foi acompanhada à distância e a 6 foi considerada inconclusiva, já que o projeto-piloto teve baixa adesão dos eleitores nos dias de votação.
A Lupa procurou o influenciador argentino Fernando Cerimedo, que vem divulgando desinformação sobre as urnas eletrônicas nas últimas semanas, e atualizará este texto se houver resposta.

“Se você tem um sistema que não é infalível mais anomalias detectadas em dados, você tem que averiguar o que passou”
– Declaração em vídeo que circula pelo Facebook
Falso
O relatório não cita qualquer “anomalia” detectada nos dados analisados. Ao avaliar os resultados do teste de integridade e de contabilização dos votos, inclusive, o documento conclui que ambos ocorreram conforme o previsto.
O teste de integridade é uma simulação na qual votos em cédulas de papel são manualmente inseridos em urnas, sorteadas na véspera da data do pleito. Todo o procedimento é transmitido ao vivo pela internet e acompanhado por empresas de auditoria externa. Ao final do teste, é possível comparar se o resultado das cédulas do papel equivale ao consolidado pelo dispositivo de votação.
Embora sugira aprimoramentos, as Forças Armadas apontaram que não foram encontradas inconsistências nos testes de integridade realizados no 1º e no 2º turnos. O documento reforça que foram avaliados todos os modelos de urna, inclusive os anteriores a 2020, alvos de desinformação na última semana. A análise abrangeu todas as capitais e diversas regiões do interior dos estados.
Já sobre a contabilização dos votos, as Forças Armadas coletaram informações sobre cerca de mil Boletins de Urna (BUs) e compararam com os resultados contabilizados e divulgados pelo TSE. Tanto no 1º quanto no 2º turno, o relatório informou ser possível inferir, com nível de confiança de 95%, que “a média de BU com inconsistências, dentre todos os BU do espaço amostral, é 0%”.
Esta‌ ‌reportagem‌ ‌faz‌ ‌parte‌ ‌do‌ ‌‌projeto‌ ‌de‌ ‌verificação‌ ‌de‌ ‌notícias‌‌ ‌no‌ ‌Facebook.
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Catiane Pereira
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