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Vídeo de mulher espancada e pintada com tinta verde não é do atual conflito em Israel
17.10.2023 - 14h54
João Pessoa - PB
Circula nas redes sociais vídeo que mostra uma mulher sendo espancada e violentada com uma corrente. A legenda da publicação diz que se trata de uma vítima sequestrada pelo Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, no conflito que se iniciou em outubro deste ano. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
Esquerda podre, não se envergonha, pelo contrário, se orgulha de apoiar hamas que sequestra, estupra, tortura com surras de corrente, humilha com tinta verde na cara, mata e degola jovens mulheres israelenses"
– Legenda de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
O vídeo publicado nas redes sociais não tem nenhuma relação com o atual conflito entre Hamas e Israel iniciado em outubro de 2023. O registro circula ao menos desde 2021 em um site de conteúdo de violência explícita. Segundo a legenda da publicação, a gravação mostraria uma mulher sendo espancada na Rússia. 
Há diversos elementos que provam que o conteúdo está circulando fora de contexto. O primeiro deles é que as pessoas ouvidas no vídeo falam russo — e não árabe, como na Faixa de Gaza. Além disso, especialistas ouvidos pela Lupa, que analisaram e traduziram o conteúdo, reforçam que não há qualquer menção ao Hamas ou ao conflito em Israel. 
A pedido da Lupa, o Instituto Rússia Brasil analisou o vídeo. Por e-mail, Valeria Fomina, diretora da instituição, afirmou que não há qualquer menção no registro ao Hamas. "Eles 'castigam' a mulher por alguma coisa que ela fez errado de acordo com a visão deles, mas não tem nenhuma menção de política ou guerra", explica. 
O jornalista Fabrício Vitorino, mestre em Literatura e Cultura Russa pela USP, também analisou o vídeo. Ele explica que, nas imagens, a moça — que seria menor de idade, segundo os agressores — é espancada com uma corrente e pintada com um antisséptico verde conhecido como “zelionka”.
Na Rússia, pintar as pessoas com essa substância é uma forma de sinalizar vergonha, afirma Vitorino, a exemplo de um caso de uma mulher que foi brutalmente violentada e atingida com o líquido verde no país em 2022, acusada de ter traído o companheiro.
Em 2017, um dos principais líderes opositores russos, Alexei Navalny, também foi atingido nos rosto com zelionka. A tinta se converteu em uma espécie de arma contra críticos do governo de Vladimir Putin, explicou o especialista em Rússia Vitaliu Shevchenko em entrevista à BBC. 
Vitorino traduziu e resumiu o contexto do vídeo: "Eles insistem com ela: 'Vai fazer de novo? Vai fazer de novo?'. Ela responde várias vezes: 'Não, não, eu juro'. Um sujeito fala para o outro: 'Pega a corrente, vou arrebentá-la enquanto está deitada'. 'Está difícil de respirar', ela diz. Outro diz: 'Foda-se'. Eles começam a bater e ela diz 'eu aprendi a lição'. Eles seguem dizendo 'foda-se'. E aí um deles manda que ela peça desculpas. Ela pede, e o outro pergunta se ela se desculpou. O outro diz que não importa. Em seguida, pegam algo como uma marreta e ficam repetindo para ela tirar a mão. Ela tira e leva uma marretada no joelho. Um dos caras pergunta: 'Quebrou?'. Eles ainda debocham. 'E aí, como você está? Como está o astral?’ E mandam ela dar as mãos e esfregar 'zelionka' com força, mesmo dentro dos olhos. No fim, eles dizem: 'Sua menor de idade, onde você se meteu?' E, mais adiante: 'Quer incriminar os caras?'"

Nota: Este conteúdo faz parte do projeto Mídia e Democracia, produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) em parceria com Democracy Reporting International e a Lupa. A iniciativa é financiada pela União Europeia.

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Catiane Pereira
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