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São falsas afirmações de médica sobre vacina da Covid-19 causar câncer e mortes súbitas em crianças
01.12.2023 - 11h00
João Pessoa - PB
Vídeo que circula nas redes sociais mostra trecho de uma fala da médica Raissa Soares, ex-candidata ao Senado na Bahia pelo PL, com críticas às vacinas da Covid-19 para crianças. No registro, ela afirma que o imunizante pode causar câncer e morte súbita e que a vacina não é eficaz para salvar vidas. As informações são falsas.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
E o que eu digo sempre, tem pai que quer vacinar os seus filhos, então cabe a mim, como médica, dizer que tem riscos de miocardite, pericardite, de doença autoimune, de câncer, de morte súbita
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
De acordo com o Ministério da Saúde, foram administradas até 16 de novembro deste ano mais de 35,3 milhões de doses de vacinas em crianças de 6 meses a 11 anos no Brasil. Não há registro de mortes causadas pela vacinação pediátrica contra Covid-19 no país, diz a pasta. 
O MS explica que, até o momento, houve a notificação de 0,04 eventos adversos a cada 100 doses administradas. Do total de casos notificados, a maioria (67%) foi provocada por erros de imunização relacionados, principalmente, à administração de vacina inadequada para a idade. A maioria das adversidades não eram graves, incluindo reações locais (dor no local da injeção) ou sistêmicas (febre baixa, mal estar geral) com boa evolução. "Em relação às intercorrências graves, a maioria não esteve associado diretamente às vacinas da Covid-19, tornando sua frequência ainda mais rara na população". 
Em relação a casos de miocardite/pericardite ocorridos após a administração da vacina de RNA mensageiro, até dezembro de 2022, foi observada uma incidência de 0,07 casos notificados em cada 100 mil doses aplicadas, entre os quais não houve nenhum óbito de criança com associação por causa da vacina.
Além disso, o Ministério da Saúde afirma que, quem não toma a vacina e contrai Covid-19, tem muito mais chances de desenvolver miocardite em comparação a alguém que já recebeu a imunização. "Diante deste cenário, e considerando o elevado risco de morbimortalidade pediátrica por Covid-19, conclui-se que o benefício das vacinas supera, e muito, o risco da não vacinação".
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também esclarece, em seu site, que casos de miocardite e pericardite têm sido relatados muito raramente em vários países após a vacinação com as vacinas de mRNA, entre elas a da Pfizer. "Não foram observados acontecimentos adversos graves relacionados com a vacinação nos estudos", reforça.
O Ministério da Saúde esclarece ainda que as vacinas não causam câncer. "Nenhum imunizante aprovado pela Anvisa e ofertado à população contém substâncias tóxicas que causam câncer, eles não provocam mutações em células e não geram tumores cancerígenos".
Boatos semelhantes que relacionam as vacinas a casos de câncer e ao aumento de casos de miocardite em crianças já foram desmentidos pela Lupa

Você tem uma mídia [...] dizendo que a única coisa que salva é a vacina, que a vacina precisa ser continuada. Isso é irreal
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Há diversas publicações que mostram que a vacina da Covid-19 foi fundamental na redução de óbitos. 
No Brasil, um estudo conduzido em Londrina (PR) mostrou que 75% das mortes por Covid-19 registradas nos primeiros dez meses de 2021 ocorreram em pessoas que não foram imunizadas contra a doença. No público com menos de 60 anos, o número de mortes de pessoas não vacinadas foi 83 vezes maior do que entre as imunizadas.
Outro estudo com dados de 90 países, publicado em 2021 no Journal of Global Health, mostrou que, a cada aumento de 10% na cobertura vacinal, a mortalidade reduz 7,6%. 
Uma análise conduzida por cientistas do Reino Unido sobre o impacto global da vacinação estima que o primeiro ano de imunização poderia ter salvo quase 20 milhões de vidas no mundo - sendo 1 milhão no Brasil. O Ministério da Saúde reforça que todas as vacinas que são ofertadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são eficazes, efetivas e seguras. 
Um documento da Coalizão Internacional de Autoridades Reguladoras de Medicamentos (ICMRA, na sigla em inglês) —  que reúne 38 autoridades reguladoras de medicamentos de todas as regiões do mundo, com a OMS como órgão observador — mostra, a partir das mais de 13 bilhões de doses de vacina aplicadas em todo o mundo, que as vacinas contra Covid-19 têm um perfil de segurança eficaz em todos os grupos etários.

Você vê hoje o governo canadense pedindo desculpa
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Boato similar já foi desmentido pela Lupa. À época, posts compartilhados nas redes diziam que Danielle Smith, primeira-ministra de Alberta, uma província do Canadá, pediu desculpas aos não vacinados contra a Covid-19.
Entretanto, essas publicações distorceram a fala da premiê. Em nenhum momento Smith disse que os não vacinados estariam certos de sua decisão de não se imunizar. Na realidade, ela criticou as ações tomadas pelo governo canadense ao impor restrições aos não vacinados — como a medida que, até 1º de outubro de 2022, proibia viagens de avião no país sem o comprovante de vacina —, e pediu desculpas àqueles que foram afetados por elas. Além disso, Smith é uma representante do governo da província de Alberta, oeste do Canadá e, portanto, não fala em nome do país — como sugerem algumas postagens desinformativas compartilhadas nas redes.

[...] Reino Unido hoje faz uma indenização pra quem é vítima de vacina [da Covid]
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falta contexto
A médica retira de contexto informações de um plano pago há décadas pelo Reino Unido por danos causados por vacinas — ou seja, muito antes da pandemia da Covid-19. O pagamento, atualmente de 120 mil euros, é efetuado quando, em ocasiões muito raras, uma vacina causou incapacidade grave. Mas isso não quer dizer que as vacinas contra a Covid-19 são falhas. A Agência Reguladora de Produtos de Saúde e Medicamentos do Reino Unido reforça em seu comunicado que bilhões de vacinas contra a Covid foram administradas em todo o mundo e "ajudaram a salvar inúmeras vidas".
O Vaccine Damage Payment Scheme — plano de pagamento por danos causados por vacinas, em tradução livre — é pago no Reino Unido, pelo menos, desde 1997, em ocasiões em que uma vacina (de qualquer tipo) causou incapacidade grave. A Covid-19 está na lista do programa, mas não é o único imunizante. São 19 no total, como os da influenza, rubéola, poliomielite, dentre outros.
O governo do Reino Unido reforça que as vacinas contra Covid-19 usadas em seu território passaram por um rigoroso processo de testes e desenvolvimento para atender a rígidos padrões de segurança. "A segurança continua sendo monitorada de forma contínua por meio de redes de vigilância bem desenvolvidas e pré-existentes", ressalta em seu comunicado. 
Desinformação sobre proteína Spike
Em março de 2023 a Lupa já havia verificado e classificado como falsas outras afirmações da médica Raissa Soares. Em um vídeo que circulou nas redes sociais, ela apontava uma série de supostos malefícios não comprovados causados pela proteína Spike, um fragmento do vírus Sars-CoV-2 que está relacionado ao funcionamento das vacinas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (ou mRNA). 
A Lupa procurou a médica Raissa Soares, mas não obteve retorno.

Nota: Este conteúdo foi produzido pela Lupa com apoio do Instituto Todos pela Saúde (ITpS)

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Gabriela Soares
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