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É falso que Agência Europeia de Medicamentos desqualificou vacinas de RNA em comunicado
04.12.2023 - 17h58
João Pessoa - PB
O médico Roberto Zeballos compartilhou um vídeo em suas redes em que afirma que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla me inglês) 'surpreendeu' parlamentares europeus com um comunicado que traz conclusões que desqualificam as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) para Covid-19. Segundo o médico, a EMA reconheceu que não há indicação em imunizar pessoas com menos de 60 anos. "Inclusive que jamais indicaria para jovens por uma questão muito simples. A proteína Spike é tóxica", diz Zeballos. As informações são falsas.
O post compartilhado por Zeballos segue com um link de uma conferência de imprensa, de 21 de novembro deste ano, que teve a participação dos deputados do Parlamento Europeu Marcel de Graaff e Joachim Kuhs, além de médicos. No vídeo, as autoridades trazem as informações que receberam da EMA sobre a vacina da Covid-19 – entretanto com interpretações que destoam do documento original. A Agência AFP também fez checagem similar sobre o conteúdo falso. 
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
Essa agência de liberação de medicamentos na Europa disse que não tem indicação em você imunizar pessoas com menos de 60 anos
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Não há menção qualquer no texto sobre a Agência Europeia de Medicamentos não indicar a vacina da Covid-19 para pessoas com menos de 60 anos. "A informação do produto das vacinas contra a Covid-19 afirma claramente que as vacinas se destinam à imunização ativa para prevenir a Covid-19", diz.
As vacinas, diz, foram produzidas para proteger os vacinados e não para impedir a transmissão de uma pessoa para outra. Em seu comunicado, a EMA afirma também que, à medida que o próprio vírus evolui, a proteção diminui com o tempo "e esta é uma das razões pelas quais foram autorizadas vacinas adaptadas". "É importante notar que com o SARS-CoV-2, as pessoas podem ser expostas ao vírus várias vezes e a exposição repetida pode aumentar a probabilidade de infecção mesmo em pessoas vacinadas", ressalta.
A EMA reforça ainda que as evidências continuam a mostrar que as vacinas proporcionam proteção, "o que é particularmente importante para as pessoas vulneráveis". 

Inclusive que jamais indicaria para jovens por uma questão muito simples. A proteína Spike é tóxica [...] A EMA afirma isso
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Em nenhum momento do texto a EMA afirma que a proteína spike é tóxica. Pelo contrário, ela ressalta que, nas vacinas de RNA mensageiro (mRNA), o antígeno (a partícula que desencadeia uma resposta imunitária) não é a substância ativa de mRNA em si, mas a proteína spike formada após a vacinação.
No caso da fórmula das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que usam a tecnologia de RNA mensageiro, é injetado no organismo o código genético do vírus com “instruções” para que as células do corpo produzam a proteína Spike (também conhecida como proteína S) — ela é identificada pelo sistema imunológico como algo estranho e o organismo “aprende”, então, a se defender quando entra em contato com o vírus.
O infectologista Alexandre Naime Barbosa, em checagem anterior produzida pela Lupa, explica que a produção dessa proteína é pontual e que, na verdade, é a resposta imunológica do organismo que durará por mais tempo. “Você fica com anticorpos e células de memória para agir se você entrar em contato [com o vírus]. Então, não, as proteínas Spike não ficam sendo produzidas indefinidamente”.

Ela tá jogando a responsabilidade nas políticas adotadas pelos países dizendo que foi uma questão política, não foi uma questão científica. A EMA tá falando isso. E ela só autorizou a comercialização do imunizante de RNA mensageiro para uma proteção individual
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
O que a Agência Europeia de Medicamentos diz no texto é que a EMA se concentra na autorização e monitoramento de medicamentos e vacinas (esta é a função da Agência). Diz ainda que as autoridades nacionais são as que aprovam os ensaios clínicos na União Europeia e seriam, portanto, as autoridades que receberiam quaisquer avaliações de risco ambiental necessárias antes do início de um ensaio clínico.
"Quando os nossos comitês científicos emitem recomendações, outros organismos, como a Comissão Europeia, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e as autoridades nacionais de saúde e vacinação podem considerá-las à medida que desenvolvem políticas de imunização para proteger o público", ressalta.
A EMA diz ainda que o fim da emergência de saúde pública pode ser importante nas estratégias de vacinação dos países da União Europeia e no aconselhamento dado à população em geral. "A este respeito, a informação do produto das vacinas contra a Covid-19 afirma que a utilização das vacinas 'deve estar de acordo com as recomendações oficiais'".

Ela diz ainda que não temos registros adequados dos efeitos secundários das complicações da vacina
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
A Agência Europeia de Medicamentos afirma em sua resposta que monitora, juntamente com as autoridades nacionais, os dados sobre os efeitos secundários notificados. "É também importante esclarecer que a notificação de uma suspeita de efeito secundário não constitui, por si só, prova de que uma vacina tenha causado o evento adverso em questão", afirma.
Esses eventos adversos, diz a EMA, podem ocorrer por outras razões em pessoas vacinadas, tal como acontece em pessoas não vacinadas. "Tal como indicado na informação do medicamento de ambas as vacinas, a maioria dos efeitos secundários são ligeiros, embora possam ocorrer efeitos mais graves". 
No comunicado, a EMA também afirma que, para determinar se uma vacina causou um evento adverso, as autoridades têm de avaliar todos os dados relevantes, "incluindo dados que possam indicar que a doença ocorre a uma taxa mais elevada em pessoas vacinadas ou recentemente vacinadas do que em outras".
Checagem similar foi produzida pelo Estadão Verifica.
A Lupa contatou por e-mail o médico Roberto Zeballos, mas não houve retorno até a publicação desta checagem. 

Nota: Este conteúdo foi produzido pela Lupa com apoio do Instituto Todos pela Saúde (ITpS)

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