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'Mil' por 'milhões': relembre frases falsas ditas por Lula em 2023
28.12.2023 - 08h00
João Pessoa - PB
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu primeiro ano de mandato, fez diversas declarações falsas durante discursos, entrevistas e viagens internacionais. A Lupa classificou ao menos 15 frases ditas por ele como enganosas. Dentre elas estão a de que encontrou 3 mil obras de creches paralisadas quando assumiu seu atual mandato e a de que não havia voos diretos do Brasil para a África. Lula também chegou a cometer erros grotescos, como ao afirmar que 700 milhões de brasileiros morreram durante a pandemia de Covid-19.
Relembre abaixo as afirmações falsas do presidente checadas pela Lupa ao longo de 2023:
Discurso de Posse
Lula assumiu seu terceiro mandato em 1º de janeiro deste ano. Durante a cerimônia de posse, o petista fez dois discursos. Em sua fala no Congresso, afirmou que, em nenhum outro país, a quantidade de vítimas fatais de Covid-19 foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil. A informação era falsa. Dados do Our World in Data mostram que o Brasil foi o 20º país com maior número de vítimas fatais por Covid-19 proporcionalmente à população do território. Ao todo, foram contabilizadas 3.222 mortes a cada 1 milhão de habitantes até o dia 31 de dezembro de 2022. Os três países que lideravam essa lista eram Peru, Bulgária e Bósnia e Herzegovina. 
100 dias de governo
Ao fazer o balanço de seus primeiros 100 dias de governo, em abril, Lula citou dados falsos sobre o investimento da Petrobras e ao comentar a posição do Brasil em um ranking de felicidade dos países medido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Ao afirmar que a Petrobras tinha R$ 3 bilhões de investimento quando assumiu o governo em 2003, Lula fez uma afirmação falsa. Os investimentos totais da Petrobras em 2002, ano em que o presidente foi eleito pela primeira vez, somaram R$ 18,8 bilhões — e não R$ 3 bilhões. Se considerado o valor corrigido pelo IPCA, o valor foi de R$ 61,7 bilhões.
Presidente Lula, durante reunião ministerial dos 100 dias de governo. Crédito: Ricardo Stuckert/PR
O presidente também disse que “esse país era o país do povo mais feliz, reconhecido por todas as pesquisas da ONU”. Desde 2012 — portanto, depois de Lula ter deixado o poder pela primeira vez —, a ONU publica anualmente o chamado Relatório Mundial da Felicidade, no qual classifica países-membros a partir de um índice de felicidade composto de dados econômicos e sociais. O Brasil nunca liderou esse ranking: sua posição oscilou entre 16º, em 2015 (página 26), e 49º, na edição mais recente (página 35). Dinamarca, Suíça, Noruega e Finlândia, que lideram a lista há seis anos consecutivos, são os únicos países a terem chegado no topo do ranking. Veja os dados completos aqui.
Conversa com o Presidente
O presidente Lula tem feito semanalmente uma live para divulgar ações do governo. Essas transmissões são uma estratégia criada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) para ser um “um espaço de diálogo” entre a população e o chefe do Executivo.
Na primeira transmissão do “Conversa com o Presidente”, em junho, Lula chegou a afirmar que encontrou 3 mil obras de creches paralisadas quando assumiu seu atual mandato. A informação era falsa. Dados do painel de monitoramento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) mostravam que existiam 275 obras com recursos federais paralisadas e 941 inacabadas na educação infantil do país – nesse dado estão incluídas as creches. Somando tudo, seriam 1.216 obras. Ainda que todas fossem creches, o dado citado por Lula era mais de duas vezes superior a esse total. À época, a assessoria do presidente não respondeu o contato da reportagem.
Presidente Lula, durante live semanal. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Na live de 12 de dezembro deste ano, Lula também errou ao afirmar que o país só teve dois ministros da Saúde que não tinham formação em medicina: José Serra (no governo de Fernando Henrique Cardoso) e a atual ministra Nísia Trindade. 
O Brasil teve 19 ministros da Saúde entre os governos de FHC, Lula, Dilma, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Desse total, ao menos seis deles não tinham formação em medicina. São eles: José Serra (engenheiro civil) e Barjas Negri (economista), no governo FHC (PSDB); Ricardo Barros (engenheiro civil) e Gilberto Occhi (advogado), no governo de Michel Temer (MDB); Eduardo Pazuello (general do Exército), no governo de Jair Bolsonaro (PL); e Nísia Trindade (socióloga), atual ministra da Saúde do governo Lula.
Mil por milhões
Em entrevistas a jornalistas e em discursos, Lula cometeu erros numéricos gigantescos, trocando “mil” por “milhões”. O presidente chegou a afirmar, por exemplo, que iniciou a reconstrução de “186 milhões de residências” do Minha Casa, Minha Vida que estavam paralisadas. O dado correto eram 186 mil casas. 
Não era a primeira vez que o petista cometia gafe semelhante. Outro equívoco ocorreu em 11 de maio, durante discurso em Salvador (BA), na cerimônia de assinatura do decreto de regulamentação da Lei Paulo Gustavo, que destina recursos para o setor cultural. Na ocasião, Lula disse que 700 milhões de brasileiros morreram durante a pandemia de Covid-19. Na verdade, eram 700 mil mortes.
Discurso na ONU
O presidente Lula voltou a abrir a Assembleia-Geral das Nações Unidas depois de 14 anos. Em seu discurso de abertura da 78ª edição do encontro, em setembro, o brasileiro enfatizou o combate às desigualdades, tema recorrente em suas falas. Entretanto, errou ao discursar sobre o histórico do debate da crise climática e a produção brasileira de etanol e biodiesel.
Durante trecho do discurso, Lula afirmou que, em 2003, primeiro ano de seu primeiro mandato presidencial, "o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática”. Entretanto, a crise climática é debatida de forma mundial, pelo menos, desde 1992, quando o Rio de Janeiro sediou a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92, com 179 países representados. Um dos resultados do encontro foi a assinatura da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que previa implementar programas para mitigar a mudança do clima e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, desde 1995, anualmente são realizadas as COPs, que são conferências dos países que integram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Do encontro de 1997, realizado em Kyoto, no Japão, saiu o Protocolo de Kyoto, definindo metas de redução de emissões, especialmente para os países desenvolvidos, de gases de efeito estufa. O Brasil ratificou o Protocolo de Kyoto em agosto de 2002, via Decreto Legislativo nº 144/2002. O acordo ambiental entrou em vigor em fevereiro de 2005, logo após o atendimento às condições que exigiam a ratificação por, no mínimo, 55% do total de países-membros da Convenção e que fossem responsáveis por, pelo menos, 55% do total das emissões de 1990.
Presidente Lula, durante discurso na ONU. Crédito: Ricardo Stuckert/PR
Lula também errou na ONU ao afirmar que “a geração de [...] etanol e biodiesel cresce a cada ano” no Brasil. Boletim produzido pelo Ministério de Minas e Energia mostra que, em 2022, houve queda na produção de biodiesel no país, de 7,5%, em relação a 2021 (página 10). O Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, produzido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), apontou tendência semelhante: diminuição de 7,6% na produção de biodiesel no mesmo período.
Viagens internacionais
O presidente Lula fez afirmações falsas ao menos duas vezes durante a cúpula do G20, em setembro. O encontro reuniu lideranças das maiores economias do mundo em Nova Déli, na Índia. Sem qualquer comprovação científica, ele afirmou que as causas do terremoto no Marrocos estavam associadas a mudanças climáticas. Depois, disse que não conhecia o Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão do qual o Brasil é signatário desde 2002.
O petista fez outras declarações falsas durante viagens ao exterior. Após visita à África, afirmou que não havia voos diretos do Brasil para aquele continente. Uma busca em sites de companhias aéreas nacionais e internacionais mostrava o contrário. A Latam Airlines oferece um voo direto de Guarulhos (SP) para Joanesburgo, cidade mais populosa da África do Sul, com duração de 9 horas e 45 minutos. Para Luanda, capital de Angola, o serviço é oferecido pela Taag Linhas Aéreas, com duração de 8 horas e 15 minutos. Há também voos diretos para a cidade de Adis Abeba, capital da Etiópia. A viagem é oferecida pela Ethiopian Airlines e leva, em média, 12 horas. 
Presidente Lula durante encontro com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Crédito: Ricardo Stuckert/PR
Em viagem a Portugal, Lula disse, de forma enganosa, que tanto a Rússia quanto a Ucrânia eram culpadas pela guerra, mas depois negou que tenha igualado as responsabilidades. A avaliação de Lula desconsidera que foi a Rússia que tomou a primeira atitude bélica em 24 de fevereiro de 2022, quando seu exército invadiu e bombardeou regiões soberanas da Ucrânia. A partir dessa atitude russa, os ucranianos revidaram e a guerra passou a escalar.
Na Espanha, o presidente também errou ao dizer que a ex-presidente Dilma Rousseff deixou o governo com 4,3% de desemprego. No último mês de mandato da petista, a taxa de desemprego bateu 11,2% no trimestre encerrado em maio de 2016, quando Dilma foi afastada do cargo por causa da abertura do processo de impeachment. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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