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É falso que UFPel criou curso de medicina exclusivo para integrantes do MST
12.01.2024 - 16h12
Porto Alegre - RS
Em vídeo que circula nas redes sociais, o ex-deputado federal Fernando Francischini alega que a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) lançou um curso de medicina exclusivo para integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com ingresso sem vestibular e seleção dos candidatos promovida pela própria organização. É falso.
Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
Universidade de Medicina para o MST com dinheiro público e sem vestibular. É só ser selecionado por eles mesmos! Acredita no edital? Tem que passar 19 dias numa invasão. Não precisa nem escrever bem, nem em português. Tem que fazer uma cartinha da vivência sem terra e sem verificação da norma culta de escrita. O que estão fazendo com nosso país? Passaram de todos os limites! Formar médicos sem a mínima verificação de capacidade intelectual ou perfil profissional?
– Texto em vídeo que circula nas redes sociais
Falso
Não existe qualquer curso de medicina na UFPel oferecido exclusivamente a integrantes do MST. A instituição afirma que discute a criação de uma turma especial de medicina com foco em pessoas assentadas — portanto, não necessariamente vinculadas ao MST —, com o objetivo de diminuir a escassez de profissionais da saúde em regiões rurais. No entanto, não há, até o momento, nenhum edital aberto oficializando a iniciativa.
A reitoria da UFPel informou, por meio de nota, que a turma especial de medicina teria como público-alvo moradores de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), quilombolas, professores e educadores que exerçam atividades educacionais voltadas às famílias beneficiárias, além de pessoas atendidas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário.
A ação seria desenvolvida dentro do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), do Incra, que tem como um de seus objetivos garantir o acesso da população do campo ao ensino superior.
“Identificamos nesta iniciativa um instrumento para reduzir as disparidades no acesso à educação e na representação de profissionais de saúde em regiões rurais, onde normalmente há escassez de médicos. Ao capacitar integrantes de famílias de assentados da reforma agrária para se tornarem médicos, a instituição pública está contribuindo para a construção de um sistema de saúde mais inclusivo, equitativo e sensível às necessidades das populações rurais e agrárias”, afirmou a reitoria da UFPel.
A instituição ressalvou que, até o momento, não há qualquer edital publicado e que os interessados precisariam passar por um processo seletivo, em formato a ser fixado pela universidade, para iniciar o curso. O tema é debatido, pelo menos, desde julho do ano passado e é uma reivindicação do MST.
“Não estamos falando em um novo curso de Medicina ou em um novo formato de ingresso regular de alunos. Como está denominado, é uma turma especial. Que poderá, no futuro, se ver acompanhada de outra. Mas sempre com este caráter sazonal e não permanente”, ressaltou a UFPel.

Turma Especial de Medicina Veterinária

Algumas das alegações citadas por Francischini aparentam ter como fonte o Edital CRA nº 38/2022, destinado à seleção de candidatos para a quinta turma especial de medicina veterinária, na UFPel, no âmbito do Pronera, voltado para beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária. Foram ofertadas 60 vagas. 
Para se inscrever, era necessário encaminhar para a universidade, junto com outros documentos, um memorial descritivo, espécie de relato sobre a história de vida do candidato, de até três páginas. O texto deveria incluir elementos sobre a trajetória escolar, vivências relacionadas à luta pela terra, experiências em acampamentos, assentamentos ou comunidades rurais, expectativas de ingresso na UFPel e a importância da formação de medicina veterinária para a realidade da comunidade do candidato ou assentamento.
Já a fase de seleção previa uma prova de redação e um período pedagógico-avaliativo desenvolvido ao longo de 19 dias ininterruptos de estudos, avaliações e vivência entre os candidatos em uma escola localizada dentro de um assentamento em Viamão (RS), na região metropolitana de Porto Alegre. 
Durante esses 19 dias seriam realizadas aulas e provas de conhecimento de ciências da natureza, agroecologia e questão agrária. Além disso, também seria analisado o memorial descritivo (tanto o texto quanto uma apresentação oral do candidato).
Na UFPel, desde 2007 são oferecidas turmas especiais do curso de medicina veterinária para pessoas oriundas de comunidades de assentados via Pronera. Já foram formados 140 estudantes, diz a instituição. A previsão é de que, em julho, ocorra a formatura de mais 47 alunos.

Cassado por propagar desinformação

Em outubro de 2021, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato de Fernando Francischini, então deputado estadual do Paraná pelo PSL. Foi o primeiro caso de cassação por propagar desinformação no país.
Francischini foi cassado após investigação por uso indevido dos meios de comunicação e por abuso de autoridade. Durante o primeiro turno das eleições de 2018, quando era deputado federal, ele fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais em que afirmava, sem provas, que as urnas eletrônicas estavam fraudadas para impedir a eleição de Jair Bolsonaro (então no PSL) à Presidência da República.
A Lupa entrou em contato com Francischini, mas não obteve um retorno até a publicação desta matéria. O texto será atualizado caso o ex-parlamentar se manifeste. 

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