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É falso que vacina da Covid causa microlesões que podem ser confundidas com dengue grave
05.02.2024 - 16h09
Florianópolis - SC
Circula pelas redes sociais um vídeo no qual uma mulher afirma que não existe surto de dengue grave — anteriormente chamada de dengue hemorrágica — no Brasil. A autora sugere que pessoas que foram vacinadas contra a Covid-19 teriam sofrido microlesões em órgãos e que essa seria a causa de hemorragia, não a dengue. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
“Só vai se ferrar quem foi cobaia [da vacina]. Se você observar [...], [a vacina] causa microlesões nos órgãos, causando hemorragia interna, que é a mesma coisa da dengue hemorrágica, né? [...]
[A vacina tem] microlâminas, causando microlesões nos seus órgãos. Uma coisa bem discreta pra não levantar suspeita. Quando você vai sentir um sintoma, você já está com uma hemorragia muito grande que leva a crer que é a dengue hemorrágica.”
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
As vacinas contra a Covid-19 não contêm microlâminas capazes de causar microlesões em órgãos. Todos os imunizantes até hoje aprovados em todo o mundo contêm apenas componentes que induzem o organismo a gerar uma resposta imune em caso de infecção pelo Sars-CoV-2.
Essa teoria conspiratória circula desde 2021 e já foi desmentida. Baseia-se em uma análise inconclusiva feita por um espanhol e que não apresentou fontes. Em junho daquele ano, o professor Pablo Campra Madrid, da Universidade de Almería, disse ter recebido um frasco de origem desconhecida contendo, supostamente, uma dose da vacina Comirnaty (Pfizer/BioNTech). Ele analisou a amostra, comparou imagens do líquido de vacina com imagens de óxido de grafeno, e afirmou em um relatório que eram semelhantes
Na época, o próprio professor indicou que sua análise não era conclusiva (página 22). A Universidade de Almería descreveu o relatório como “não oficial”, feito a partir de “uma amostra de origem desconhecida e sem rastreabilidade”.
Vale pontuar que, de acordo com as bulas das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o grafeno não está presente na composição dos imunizantes adotados no país. O composto de carbono não foi encontrado na vacina da Pfizer (monovalente e bivalente BA.1 e BA.4/BA.5), na CoronaVac, na Janssen e no imunizante da AstraZeneca.
Já a dengue é causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, e não tem qualquer relação com as vacinas da Covid-19. A dengue grave, também conhecida como dengue hemorrágica, é a forma mais severa da doença. Ela ocorre quando a infecção desencadeia uma alteração no padrão de coagulação do sangue, causando hemorragias internas e externas. Essa alteração não está relacionada à vacinação ou à suposta presença de microlâminas nos imunizantes.
O risco de dengue grave é maior quando uma pessoa sofre uma segunda infecção por um dos quatro subtipos do vírus da dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 — e não por quem tomou vacinas.
“Todo mundo falando: ‘Cuidado, tá tendo surto de dengue hemorrágica. Fulano tá sentindo isso, corre. A UPA tá lotada…’
[...] Você quer as respostas para todas as suas perguntas? Essa pessoa que está com dengue hemorrágica você só vai fazer uma pergunta: ela foi cobaia? [...]  Enfim, não existe [dengue] hemorrágica.”
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Dengue grave existe e é o nome dado ao quadro mais severo da doença causada pelo vírus homônimo transmitido por um mosquito. No Brasil, a primeira grande epidemia de dengue foi registrada em 1982. Não há relação com a vacina contra a Covid-19.
No final de janeiro, o Ministério da Saúde emitiu um alerta sobre a alta de casos de dengue no Brasil em 2024. Diferentemente do que sugere o vídeo, o Brasil registrou, nas primeiras semanas deste ano, um número três vezes maior de casos em relação ao mesmo período de 2023.
Dados do painel de atualização de casos de arboviroses indicam que, até sexta-feira (2), foram registrados 345,2 mil casos prováveis de dengue. Até o momento, 29 mortes pela doença foram confirmadas e 173 estão em investigação. 
Vale pontuar que os primeiros registros de epidemia de uma doença compatível com a dengue remontam ao final do século 18 em países da Ásia, África e América do Norte. A dengue se tornou um problema de saúde global a partir dos anos 1950, quando uma grande epidemia foi registrada nas Filipinas — ou seja, muito antes da pandemia do novo coronavírus (2020) e das vacinas para proteger a população da Covid-19.
No Brasil, os primeiros relatos de prováveis epidemias de dengue são dos anos 1916 (São Paulo, SP) e 1923 (Niterói, RJ). A primeira epidemia documentada clínica e laboratorialmente foi em Boa Vista (RR) em 1982.
“Se você pegar o cientista alemão e o espanhol que foi assassinado esse ano [...]. Eram dois nomes que pegaram a água [vacina] e levaram ali pro laboratório analisar no cru.”
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Não há qualquer informação pública sobre a morte ou assassinato do professor espanhol Pablo Campra Madrid. Como explicado acima, esse pesquisador publicou, em 2021, um relatório inconclusivo e sem fontes comparando imagens da análise de um líquido (supostamente uma dose da vacina da Pfizer) e do óxido de grafeno.
Já o cientista alemão citado no vídeo é Andreas Noack, químico especialista em carbono. O alemão morreu em novembro de 2021 — não em 2024 — após sofrer um ataque cardíaco. Na época, a morte dele foi confirmada pela esposa de Noack pelo canal do cientista no Telegram.
Ainda em 2021, uma teoria desmentida pela Lupa insinuava que Noack teria sido detido pela polícia por ter divulgado que as vacinas continham grafeno em sua composição — o que não é verdade.  
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Carol Macário
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