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Ato de Bolsonaro alimenta volta de fakes sobre fraude na eleição e golpe
23.02.2024 - 18h48
Florianópolis - SC
Urnas eletrônicas voltaram a ser alvo de desinformação antes de ato pró-Bolsonaro - Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O sistema eleitoral brasileiro voltou a ser atacado nas redes sociais, especialmente depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi um dos alvos da operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, em 8 de fevereiro. O aumento da circulação de fakes sobre as urnas também coincide com a convocação feita por Bolsonaro, em 12 de fevereiro, para um ato na Av. Paulista, em São Paulo, no próximo domingo (25).
Levantamento feito a pedido da Lupa pelo projeto Mídia e Democracia, da Escola de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI - FGV), identificou que, só no Telegram, foram 1.219 mensagens sobre fraude nas urnas ou golpe nas eleições de 2022 em 102 grupos no período de 1º a 23 de fevereiro.
As falsas acusações contra o sistema de votação e discurso de ódio contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a “esquerda” tiveram um pico de circulação entre os dias 15 e 19 de fevereiro, dias depois que o ex-chefe do Executivo chamou seus apoiadores para o protesto.
Exemplos de mensagens compartilhadas em grupos do Telegram - Fonte: ECMI FGV
 A análise feita pela FGV ressalta que, entre os conteúdos mapeados, destacaram-se narrativas que negam o golpismo dos ataques aos Três Poderes em Brasília de 8 de janeiro de 2023 e reformulam o conceito de “verdadeiro golpe” ao associá-lo a uma suposta fraude nas eleições presidenciais de 2022 — o que não é verdade. 
"(...) O protesto do dia 25 é enquadrado [nas publicações falsas] como uma oportunidade de o povo se manifestar contrariamente às alegadas injustiças.”
– Relatório da ECMI / FGC sobre desinformações relacionadas às urnas em fevereiro de 2024
Em 20 de fevereiro, por exemplo, a Lupa desmentiu publicações que tiravam de contexto uma fala do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta. 
Posts desinformativos alegavam que ele teria “confessado” fraude no pleito de 2022 ao afirmar que Lula tinha recebido 39% dos votos. Na verdade, o ministro se referia ao universo total de eleitores que votaram naquele ano, incluindo quem votou branco, nulo ou não compareceu às seções — Lula, de fato, recebeu 38,5% dos votos nesse cenário. A declaração, portanto, não foi uma admissão de fraude.
Trecho de vídeo que tira de contexto fala do ministro Paulo Pimenta
Um dia depois, em 21 de fevereiro, outra verificação da Lupa desmentiu um vídeo antigo que voltou a circular sobre um suposto “algoritmo de segurança” em modelos antigos de urnas que, supostamente, favorecia a vitória do então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Contudo, diferentemente do que alega o vídeo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) empregou seis modelos de urna eletrônica, todas com os mesmos programas.

No X, menções à segurança das urnas aumentaram depois de operação da PF

Publicações no X sobre fraude, segurança da urna eletrônica e voto impresso oscilaram ao longo do mês, mas as discussões sobre esses temas aumentaram, especialmente entre os dias 8 e 9 de fevereiro, data em que a Operação Tempus Veritatis, que tinha Jair Bolsonaro entre os alvos, foi deflagrada. Nesse período, foram mais de 10 mil menções.
Pico de menções no X coincidiram com operação da PF, convocação de ato bolsonarista e fuga de detentos em Mossoró
O segundo aumento de menções e ataques ao sistema eleitoral foi entre os dias 13 e 14 de fevereiro, data da fuga de detentos do presídio de segurança máxima de Mossoró (RN) e logo no dia seguinte à convocação do ato em São Paulo feita por Bolsonaro. Publicações mapeadas no levantamento ironizavam a segurança das urnas e do presídio, insinuando que não são confiáveis.
Post no X ironizou segurança das urnas do prédio de Mossoró - Imagem: reprodução

Ataque às vacinas da Covid-19 voltaram às redes

No Telegram, o levantamento da Escola de Comunicação da FGV identificou que, além do número expressivo de mensagens com discurso de ódio a Lula e a políticos alinhados à esquerda, voltaram a circular conteúdos falsos sobre saúde, principalmente relacionados à vacina de Covid-19. Vale lembrar que os imunizantes viraram uma pauta política para bolsonaristas, que se engajaram em teorias falsas e que negavam a ciência.
Coincidentemente, as menções às vacinas aumentaram 117% em 73 grupos monitorados, especificamente a partir do dia 12 — data em que Bolsonaro convocou apoiadores para o ato — até o dia 21 de fevereiro. Teorias falsas de que os imunizantes aprovados contra o novo coronavírus não contribuíram para salvar vidas circularam sobretudo nos canais alinhados à direita.  
Em um intervalo de apenas seis dias (entre 16 e 22 de fevereiro), a Lupa desmentiu duas peças desinformativas relacionadas à Covid-19. Uma delas foi a de que um médico brasileiro que testou ivermectina em mais de 200 mil pessoas teria sido premiado como ‘melhor médico cientista do mundo’ e, por isso, Bolsonaro teria razão em defender esse antiparasitário como prevenção e tratamento da doença — essas informações não procedem
A outra era a de que a cloroquina teria salvo 170 mil pessoas na 1ª onda de infecções pelo SARS-CoV-2, o que também não é verdade
“Existe uma espécie de rede discursiva em que mensagens e publicações de diferentes assuntos e episódios convergem num aspecto de descredibilização das instituições brasileiras”, analisa Letícia Sabbatini, pesquisadora da Escola de Comunicação da FGV.
Por isso, observa a pesquisadora, conteúdos negacionistas sobre vacinação, por exemplo, estão relacionados indiretamente a publicações que atacam o sistema eleitoral porque tanto uma quanto outra promovem a desqualificação das instituições. 
“E aí os sujeitos que estão ali imersos nessa troca de informações acabam sendo despertados no sentido de pânico moral mesmo, de medo. Por isso entendem que  precisam se movimentar e protestar contra aquilo que enxergam como injustiças.”
– Letícia Sabbatini, pesquisadora da Escola de Comunicação da FGV
Nota: Este conteúdo faz parte do projeto Mídia e Democracia, produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) em parceria com Democracy Reporting International e a Lupa. A iniciativa é financiada pela União Europeia.
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