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Borra de café não é eficaz contra o mosquito da dengue
23.02.2024 - 18h31
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais uma mensagem afirmando que colocar borra de café nos pratos e vasos de plantas que podem acumular água seria uma solução para combater o desenvolvimento de larvas dos mosquitos da dengue. É falso.
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
CAFÉ, a nova arma contra o mosquito da dengue. [...] Uma cientista paulista, a bióloga Alessandra Laranja, do Instituto de Biociências da UNESP (campus de São José do Rio Preto), durante a pesquisa da sua dissertação de mestrado, descobriu que a borra de café produz um efeito que bloqueia a postura e o desenvolvimento dos ovos do Aedes aegypti. O processo é extremamente simples: o mosquito pode ser combatido colocando-se borra de café nos pratinhos de coleta de água dos vasos, no prato dos xaxins, dentro das folhas das bromélias, e a borra de café, que é produzida todos os dias em praticamente todas as casas tem custo zero. O único trabalho é o de colocá-la nas plantas, inclusive sendo jogada sobre o solo do jardim e quintal. Os especialistas em saúde pública, entre eles médicos sanitaristas, estão saudando a descoberta de Alessandra. [...]

– Trecho da mensagem que circula nas redes sociais
Falso
Apesar de a informação se basear em um estudo realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp) que analisou o uso da cafeína como uma forma alternativa de controlar as larvas do Aedes aegypti, a Lupa apurou que a pesquisa é de 2003 e não teve atualizações nos últimos dez anos. 
Os resultados indicavam que diluir borra de café em água, aplicando a solução em locais de proliferação do Aedes aegypti, como vasos de plantas, poderia interromper a reprodução do mosquito. No entanto, até a pesquisa é cautelosa nas afirmações, e destacou que nem todas as larvas foram mortas durante o experimento. 
Além disso, 20 anos depois, as informações sobre o tema seguem sem demonstrar de forma conclusiva uma redução significativa na proliferação do mosquito. Outras pesquisas mais recentes realizadas nas universidades mineiras UFV (Universidade Federal de Viçosa), publicada em 2020, e UFLA (Universidade Federal de Lavras), em 2023, mostraram que, em testes realizados em laboratório, em ambientes controlados e monitorados, a cafeína afetou a sobrevivência das larvas. No entanto, ambos os estudos alegaram que mais pesquisas são necessárias para entender a eficácia da cafeína contra as larvas.  
Portanto, não há evidências sólidas que comprovem a eficácia desse método caseiro. O uso da receita caseira também não é recomendado pelo Ministério da Saúde, pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina. 
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina, vinculada à Secretaria de Saúde do Estado, que acessou a tal pesquisa, não reconheceu benefício no processo e disse que as larvas poderiam ainda se desenvolver nos pratinhos. 
“Além disso, há riscos do Aedes aegypti se desenvolver nesses locais. O ideal seria eliminar os vasos de plantas ou então colocar areia até a borda e limpar semanalmente o recipiente”, disse em nota encaminhada à Lupa
Em seus sites, as secretarias estaduais de Saúde do Espírito Santo e do Paraná também desencorajam a aplicação da borra de café e afirmam que já foi verificado na prática que a larva do mosquito pode se desenvolver na água suja de borra de café. 
Em contato com a Anvisa, a pasta destacou que recomenda somente a utilização de produtos regularizados por ela e que, portanto, passaram por avaliação quanto à eficácia e segurança.  Ainda segundo a Agência, existe uma lista de estudos autorizados pelo órgão que abordam o uso de ingredientes como ativos na formulação de produtos saneantes,no entanto, a cafeína não consta dessa lista.  
“Importante destacar que receitas caseiras e produtos não convencionais, ainda que utilizados por tradição ou cultura, podem proporcionar às pessoas uma falsa sensação de segurança, implicando na diminuição dos demais cuidados que ajudam no combate efetivo da proliferação do mosquito e, consequentemente, maior adoecimento e mortalidade da população”, disse a Anvisa em comunicado enviado à Lupa.
Não há qualquer recomendação, nos portais do Ministério da Saúde, sobre a utilização da borra de café nos pratos de plantas que podem acumular água. “Reforçamos que a conduta clínica recomendada pelo Ministério consta nesses documentos citados e se baseia em evidências clínicas robustas. Não é de conhecimento do Ministério da Saúde que existam outros tratamentos de dengue além daqueles recomendados pela pasta”, disse o órgão em nota encaminhada à Lupa

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