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Biden e Trump já foram alvos de sete fakes criadas com uso de IA em 2024
Pelo menos sete conteúdos falsos criados por inteligência artificial (IA) já impactaram as campanhas de Joe Biden e Donald Trump à presidência dos Estados Unidos somente em 2024. Isso dá quase uma mentira tecnologicamente fabricada por semana, aponta levantamento realizado pela Lupa com base nos dados públicos do Google Fact Check Tool API — sistema que reúne todas as checagens profissionais feitas no mundo e utilizadas pela big tech em seus principais produtos, inclusive a busca. 
Biden, atual presidente e candidato à reeleição pelo Partido Democrata, foi alvo de pelo menos cinco verificações que desmascararam duas falsidades geradas artificialmente contra ele. Trump, que está em vias de ser confirmado como o candidato do Partido Republicano à presidência nesta "Super Terça", foi mencionado em pelo menos nove publicações que apontavam cinco falsidades diferentes. 
Uma análise detalhada dessas verificações e dos conteúdos provenientes de inteligência artificial que elas apontam mostra que esses sistemas tecnológicos estão sendo utilizados não apenas para atacar os dois políticos em campanha, como também para disseminar o medo entre os eleitores americanos.
Uma "deepfake" que se tornou viral no mês passado, por exemplo, mostrava Biden supostamente anunciando um sorteio para recrutar jovens de 20 anos para o serviço militar. Isso seria uma resposta a um suposto ataque com drone feito por iranianos a uma base dos EUA na Jordânia. O vídeo, descoberto entre comunidades indianas (aqui e aqui), já circulava na internet desde 2023, mas ressurgiu recentemente por conta das guerras entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas e entre Rússia e Ucrânia.
Imagem que mostra Biden com uniforme camuflado é falsa (Crédito: Checagem do BOOM Live)
Além disso, Biden foi alvo de uma série de fotos geradas por inteligência artificial, que o mostravam vestindo um uniforme camuflado em uma reunião fictícia com comandantes militares dos EUA. A legenda falsa sugeria erroneamente que Biden estava prestes a lançar uma ofensiva militar no Oriente Médio. Essa reunião nunca ocorreu, e não há planos do governo dos EUA de enviar tropas à região. Mas a mentira viralizou entre comunidades árabes.
Os materiais fabricados por inteligência artificial neste ano contra Trump tentam basicamente associá-lo a Jeffrey Epstein, o milionário que se suicidou em uma prisão de Nova York em 2019 após ser condenado por tráfico sexual. 
Em janeiro, uma série de documentos confidenciais do processo de Epstein foi divulgada, indicando pessoas próximas a ele. O  material incluía algumas menções vagas a Trump. No entanto, não há evidências de que o republicado estivesse envolvido na rede de exploração sexual de Epstein. Ainda assim, a inteligência artificial foi usada para criar uma foto em que Trump aparece ao lado de Epstein em seu avião particular (checagens aqui e aqui, por exemplo). 
Imagem que mostra Trump ao lado de pessoas negras foi gerada por IA (Crédito: Checagem do India Today Fact Check)
Também foram geradas artificialmente — e posteriormente desmentidas como falsas por fact-checkers e pela BBC — imagens que mostram Trump ao lado de pessoas negras, acompanhadas de histórias inventadas. Não há registros de que Trump tenha feito paradas em sua campanha para tirar fotos com negros que acenavam em sua direção, como sugerem as legendas que acompanham essas falsas fotografias.

Falsidades na campanha oficial?

Até o dia 1º de março, Biden ou sua campanha não haviam sido flagrados utilizando inteligência artificial em seus materiais online. Trump, por outro lado, já havia postado em sua própria rede social, a Truth Social, um vídeo criado por seus apoiadores no qual a voz de um famoso âncora de rádio insinuava que ele era uma criação divina, um homem predestinado de Deus. 
Anteriormente, em abril do ano passado, o partido do ex-presidente divulgou um anúncio integralmente feito por inteligência artificial mostrando supostas consequências devastadoras de uma possível reeleição de Biden.
O debate sobre o uso de IA na campanha política ocorre na semana em que a Suprema Corte dos EUA começa a julgar duas ações que podem alterar a forma como as redes sociais moderam conteúdo no país. A análise envolve leis estaduais aprovadas por Texas e Flórida que impedem as plataformas de moderar conteúdos postados e tiram o poder delas de remover publicações.
Na última sexta-feira (28), seguindo a mesma tendência, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil publicou uma resolução proibindo o uso de "deepfakes" nas campanhas deste ano e estabelecendo que qualquer outro conteúdo gerado por inteligência artificial deve conter um aviso obrigatório ao eleitor. O político que infringir a regra poderá ter seu registro ou mesmo seu mandato cassados.

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Ítalo Rômany
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