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Posts omitem limitações de estudo que analisou dados de efeitos adversos de vacinas
06.03.2024 - 11h59
João Pessoa - PB
Circula nas redes sociais postagem sobre um estudo científico que, segundo a legenda, seria a prova de que a vacina da Covid-19 causa efeitos adversos graves aos que se imunizaram. Segundo a publicação, pesquisadores da Nova Zelândia analisaram 99 milhões de dados de pessoas em oito países e constataram 13 condições médicas distintas após a aplicação da primeira dose da vacina. Falta contexto.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
Pesquisadores da Global Vaccine Data Network (GVDN) na Nova Zelândia analisaram 99 milhões de dados de pessoas que receberam a [vacina da Covid-19] em oito países diferentes e constataram 13 condições médicas diferentes no período após receberem uma dose
– Legenda que circula no WhatsApp
Falta contexto
O estudo citado no post foi publicado no periódico Vaccine, em fevereiro deste ano, por pesquisadores da Global Vaccine Data Network. O texto tinha como objetivo avaliar o risco de eventos adversos após a vacinação contra a Covid-19 em oito países. O estudo de coorte observacional, com análise de dados de 99 milhões de indivíduos vacinados, constatou incidências de casos de miocardite, pericardite, síndrome de Guillain-Barré e trombose do seio venoso cerebral.
Entretanto, o próprio estudo reforça que não há como associar diretamente os efeitos encontrados com a vacina da Covid-19, o que demanda mais investigações sobre o tema.
"Embora nosso estudo tenha confirmado sinais de segurança raros previamente identificados após a vacinação contra Covid-19 e contribuído com evidências sobre vários outros resultados importantes, são necessárias investigações adicionais para confirmar associações e avaliar o significado clínico. Isto poderia ser resolvido através da realização de estudos de associação específicos para resultados individuais, aplicando metodologias como a série de casos autocontrolados (SCCS) para validar as associações", diz a conclusão do texto.
A Global Vaccine Data Network publicou em seu site um texto que explica as limitações de um estudo observacional como esse. "Embora os estudos observacionais observados versus esperados contribuam com informações e evidências valiosas para avaliar o risco de eventos adversos raros ou graves associados à imunização, eles apresentam limitações. [...] Estes estudos não podem provar se um evento adverso é causado diretamente por uma vacinação ou se é devido a outros fatores, como uma condição de saúde subjacente". 
Os pesquisadores reforçam que as vacinas da Covid-19 são seguras e que o benefício das vacinas supera o risco da não vacinação. 

Efeitos adversos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que os casos de miocardite são raros e incentiva a vacinação. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos (CDC) também recomenda que todas as pessoas com 6 meses ou mais recebam a vacina.
Vale ressaltar que, desde 2021, a miocardite passou a integrar a lista dos possíveis efeitos adversos nas bulas das vacinas de RNA mensageiro contra a Covid. O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) explicam que a miocardite é uma reação adversa rara, tendo sidos notificados 0,07 casos a cada 100 mil doses. "Ainda assim, após extensas investigações, não há nenhum óbito por miocardite com relação causal confirmada com vacinas Covid-19", diz a pasta, em seu site. 
De acordo com a Anvisa, efeitos colaterais graves das vacinas, como a síndrome de Guillain-Barré ou a miocardite, se mostram extremamente raros e "foram identificados mais rapidamente porque já constavam nas listas oficiais de problemas em potencial a serem observados em relação às reações das vacinas contra Covid-19".

Entenda o estudo

O estudo liderado pela pesquisadora Kristýna Faksová, do Departamento de Pesquisa Epidemiológica do Statens Serum Institut (Dinamarca), analisou dados de oito países: Argentina, Austrália, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Nova Zelândia e Escócia. Os dados são referentes ao período de dezembro de 2020 a agosto de 2023. 
Foram analisadas 13 condições médicas distintas, dentre elas a síndrome de Guillain-Barré, miocardite, pericardite, paralisia facial e embolia pulmonar. Apesar da incidência de casos adversos, o estudo diz que não houve um padrão consistente em termos de vacina ou momento após a vacinação, "e estudos epidemiológicos maiores não confirmaram qualquer associação potencial", diz. 
Os dados apresentados, segundo o estudo, estão dentro do limite de um sinal de segurança. 
Checagem similar foi produzida por Estadão Verifica e UOL Confere

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Gabriela Soares
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