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É falso que suramina e ivermectina 'eliminam' efeitos da vacina da Covid do corpo
14.03.2024 - 12h25
João Pessoa - PB
Circula nas redes sociais vídeo do médico José Nasser em que faz uma série de afirmações sobre como eliminar os efeitos da vacina da Covid-19, supostamente nociva, no organismo. No registro, ele afirma que a suramina, presente em algumas plantas, seria um tipo de antídoto para proteger o corpo da proteína Spike, responsável por conectar o Sars-CoV-2 ao corpo humano. O mesmo efeito teria a ivermectina. Nasser também diz que há um estudo publicado que demonstrou que a proteína S de fato afetaria o DNA humano. Por último, o médico afirma que quem já teve Covid estaria imune à doença — e que, portanto, a vacina não faria qualquer efeito. As três informações são falsas.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
Se eles criaram isso, é lógico que eles têm o antídoto no bolso. Só que o antídoto tá preso na Alemanha. Porque só na Alemanha [...] você pode adquirir isso, que chama germanin ou suramina. [...] A gente descobre que no chá de Fungi tem um monte de suramina e que no pinheiro branco do norte do mundo também tem suramina [...]
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
A suramina é, na verdade, o nome de um medicamento inicialmente desenvolvido como antiparasitário pelo laboratório Bayer em 1916. No Brasil, ficou conhecida pelo nome comercial de Germanin. É usada para tratar a doença do sono africana e a oncocercose e, atualmente, está proibida nos Estados Unidos.
Em checagem anterior, a Anvisa alertou que não existem registros válidos de medicamentos contendo suramina no Brasil. "Logo, estes produtos não são medicamentos autorizados no Brasil e não têm indicação aprovada", indicou a Agência. 
Não há qualquer evidência de que essa fórmula possa bloquear a produção da proteína Spike dentro das células de quem tomou vacinas contra a Covid-19. Isso porque as pessoas que foram imunizadas não ficam com um estoque de proteína Spike no organismo, nem seguem produzindo essa proteína continuamente. 
Apenas as vacinas de mRNA, como a da Pfizer/BioNTech, têm uma tecnologia que “ensina” o corpo a produzir a mesma proteína encontrada no SARS-CoV-2. Ao reconhecer essas proteínas o organismo então aprende a se defender dela em caso de infecção pelo vírus. Depois que induz uma resposta imunológica com memória, essa proteína não tem a capacidade de permanecer no organismo. Em dezembro de 2021, a Lupa desmentiu um boato de que o fármaco seria um “antídoto” para os efeitos adversos das vacinas contra a Covid-19. 

Tome ivermectina porque toda proteína S a que você tiver jogando o teu sangue. [...] em três partes, é a única droga que faz isso. Ela bloqueia em três partes a proteína S
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Conteúdo similar já foi desmentido pela Lupa em abril de 2023, de que a ivermectina evitaria os danos provocados pelas vacinas de RNA mensageiro (ou mRNA) e a de que o fármaco seria capaz de bloquear a entrada da proteína Spike para dentro das células
Vale lembrar que a ivermectina é indicada para tratar infecções causadas por vermes e parasitas como piolho e sarna. Seu efeito se dá por meio da paralisação da musculatura dos invasores, ocasionando a morte e posterior eliminação do corpo desses parasitas. O remédio não tem qualquer efeito contra a proteína Spike (parte do novo coronavírus responsável por conectar o SARS-CoV-2 às células do corpo humano) em pessoas vacinadas, já que essa proteína não permanece no organismo. 
Apenas algumas vacinas, como as de mRNA, foram desenvolvidas com o objetivo de “ensinar” o corpo a produzir a mesma proteína Spike do Sars-CoV-2. Essas desaparecem do organismo depois de algumas semanas. Não há, portanto, nenhum medicamento que “bloqueie” a proteína Spike das pessoas vacinadas pois não há necessidade. A proteína não “fica” no organismo depois da imunização, nem é tóxica. Ela apenas ajuda o corpo a se defender em caso de infecção.  
Além disso, profissionais do Conselho Federal de Farmácia alertam (página 2) que o uso inadequado ou descontrolado da ivermectina pode resultar em reações adversas graves ou fatais, como hipotensão, ataxia (comprometimento da coordenação e equilíbrio) ou convulsões.

E o trabalho de duas semanas atrás da Suécia, um trabalho feito por Hui Jiang, publicado no Viruses, uma revista de altíssimo respeito científico. Ele demonstra que a proteína S ela integra e bloqueia a reparação do DNA [...]
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
O artigo citado no vídeo foi retratado e retirado do ar pela Viruses, em maio de 2022. Após a publicação, constatou-se que as declarações sobre o efeito da proteína Spike na imunidade adaptativa eram enganosas, "pois neste artigo não foram realizados experimentos relacionados à imunidade adaptativa e a vacina completa baseada em spike não foi estudada", diz trecho da retratação.
No texto, a revista científica informa que um dos autores os contatou a respeito de um desenho experimental impróprio com potencial de afetar significativamente a integridade dos dados experimentais resultantes. "Seguindo nosso procedimento de reclamação, uma investigação foi conduzida. [...] A confiabilidade dos resultados e as conclusões apresentadas foram, portanto, comprometidas".

Se você teve Covid, você tá imune. Boa notícia pra você. Imunidade natural dura para toda a tua vida, fica tranquilo
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
De acordo com o Ministério da Saúde, as evidências científicas mostram que pessoas que tiveram Covid-19 costumam desenvolver diferentes imunidades após a recuperação. Porém, a carga viral adquirida (quantidade de coronavírus que o indivíduo tem contato no momento da infecção) varia de pessoa para pessoa. "Por isso, não é possível afirmar que a imunidade natural é o melhor remédio, já que ela é diferente em cada pessoa. Além disso, há variáveis como a gravidade da doença, a idade e a genética, por exemplo, que também moldam a resposta do sistema de defesa. Outro ponto é que há uma queda da imunidade com o passar do tempo. Por isso, é necessário que as pessoas se vacinem.", explica o ministério.
Um estudo publicado em dezembro de 2022, na The Journal of Infectious Diseases, mostrou que, nos Estados Unidos, a cobertura vacinal apresentava maior proteção contra mortes em comparação com a imunidade adquirida naturalmente. "A vacinação contra a Covid-19 foi associada a uma redução sustentada da mortalidade a nível estadual durante os períodos Alfa, Delta e Omicron. O efeito não variou de acordo com a imunidade adquirida naturalmente", concluiu o estudo. 
De acordo com o médico e epidemiologista Guilherme Werneck, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em checagem anterior feita pela Lupa sobre o mesmo tema, as novas variantes do SARS-CoV-2 são capazes de escapar da imunidade natural e eventualmente também da vacinal. “O que vemos é que quem foi vacinado transmite menos do que as pessoas que não tomaram a vacina”, afirmou. Segundo o professor, a vacina não impede totalmente que uma pessoa não adquira uma infecção. “Mas quem tomou todas as doses tende a transmitir menos”.
O Ministério da Saúde reforça que a vacina continua sendo a estratégia mais segura para se proteger contra diversas doenças, entre elas a Covid-19.
Checagem similar foi produzida pelo Estadão Verifica.

Outro lado

A reportagem entrou em contato por e-mail com o médico José Nasser, mas não houve retorno.

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