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É falso que coentro promova ‘detox’ do fígado após vacina contra Covid-19
18.03.2024 - 17h55
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais um vídeo no qual um homem afirma que pessoas vacinadas contra a Covid-19 desenvolveram uma “síndrome pós-Spike”, pois o imunizante teria muitos conservantes tóxicos ao fígado que poderiam causar fraqueza, perda de memória e cansaço. Ainda de acordo com o narrador, o consumo de coentro poderia auxiliar na desintoxicação. É falso.
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
Tem muita gente aí na síndrome chamada pós-spike, que é a síndrome que afeta a intoxicação do fígado após o uso de algum tipo de vacina
– Transcrição de trecho do vídeo que circula nas redes sociais
Falso
Segundo apuração feita pela Lupa, que pesquisou por “síndrome pós-Spike” em publicações feitas pelo Ministério da Saúde, não foi encontrada nenhuma menção ao termo citado pelo narrador do vídeo desinformativo em nenhuma das publicações oficiais. Além disso, em entrevista, o médico infectologista vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, (SBIm), Renato Kfouri, afirmou desconhecer a tal síndrome.
“Não, não existe síndrome pós-Spike. Não existe isso”, disse o representante da SBIm. Nos comunicados publicados pelo Ministério da Saúde há apenas o reconhecimento das chamadas “condições pós-Covid” que, de acordo com a pasta, são sintomas percebidos especialmente em indivíduos não vacinados, como a dificuldade de concentração e a perda de paladar e olfato. No entanto, não existem evidências de que essas alterações sejam geradas pela proteína Spike contida nas vacinas, afinal, conforme a Lupa já verificou a partir de dados oficiais e entrevistas com especialistas, a Spike é segura para o organismo. 
A proteína Spike, presente na parte externa do Sars-CoV-2, está presente na vacina para estimular a resposta imunológica. Conforme mencionou o infectologista Renato Kfouri em outra verificação produzida pela Lupa, a quantidade de proteínas que compõem os imunizantes é infinitamente inferior se comparada à do vírus natural, não oferecendo danos ao corpo humano. “A Spike do vírus original apresenta uma frequência muito maior de replicação. [Na vacina], a gente tenta numa intensidade muito menor imitar o que o vírus naturalmente faz”, afirmou. “A proteína Spike não fica no corpo de ninguém por muito tempo, seja na infecção natural ou muito menos na vacinação”, disse o infectologista.
Porque a vacina tem muitos conservantes e tem muita gente com essa síndrome [...]
– Transcrição de trecho do vídeo que circula nas redes sociais
Falso
O homem que narra o vídeo indica que, em vista das vacinas serem compostas por muitos conservantes, as pessoas vacinadas poderiam adquirir a “síndrome pós-Spike” – já desmentida – que causaria problemas de memória e força muscular, além da intoxicação do fígado. No entanto, os componentes dos imunizantes não são capazes de provocar tais situações. 
“Não há intoxicação por vacinas. Nem pelo produto, nem pela vacina, nem pelos seus conservantes, estabilizantes e todos os produtos que eventualmente vão dentro de uma composição das diferentes vacinas, quer seja a vacina da Covid, quer seja outra”, afirmou Renato Kfouri. “Não há produtos potencialmente tóxicos dentro das vacinas, muito menos para o fígado, hepatotóxicos, não há descrição nenhuma, então, não há preocupações em relação a isso”. 
De fato, nas vacinas contra a Covid-19, assim como em diversas outras, existem conservantes que mantém a qualidade da fórmula. O tiomersal, por exemplo, é um composto orgânico que tem ação antifúngica. No entanto, conforme já foi declarado em comunicados emitidos pelo Ministério da Saúde e pela Universidade de São Paulo (USP), o conservante é seguro. “Não existe evidência que sugira que a quantidade de tiomersal utilizada nas vacinas represente um risco para a saúde”, apontou a pasta.
Esse daqui é o mais poderoso destoxificante [sic] natural que você vai encontrar na sua vida [...] É o coentro [...] Muita gente com essa síndrome hoje reclamando ‘ah, estou sem energia, estou sem força, estou sem memória, doutor, o que eu faço para fazer a limpeza do meu corpo?’ você pode utilizar o coentro
– Transcrição de trecho do vídeo que circula nas redes sociais
Falso

Especialistas consultados pela Lupa para uma reportagem que tratou sobre receitas “detox” afirmaram que a indicação de alimentos para “desintoxicar” o organismo vacinado não possui coerência, uma vez que não existem componentes tóxicos administrados nas vacinas. 
“Imunizantes não são venenos, logo não faz sentido usar a palavra ‘desintoxicação’ para uma intervenção que tem por objetivo gerar uma resposta imunológica que protege o indivíduo em caso de exposições futuras”, afirmou a professora Ana Paula Herrmann, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Além disso, segundo vice-presidente da SBIm, mesmo para as condições pós-Covid, conhecidas como Covid longa – em que pessoas que contraíram a doença e permanecem com sintomas prolongados  – não são recomendadas técnicas fitoterápicas. Kfouri explica que o consumo desses tipos de alimentos pode gerar uma falsa sensação de melhora.
“Mesmo para a própria síndrome pós-Covid, que a gente hoje chama de condições pós-covid, tão discutidas e tão frequentes que a gente tem visto pessoas que não se recuperam totalmente de um quadro de Covid, não há nenhum tratamento fitoterápico para isso. Não há descrição de nenhum benefício que algum produto natural vá melhorar”, disse o médico infectologista. 

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