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Inseticidas caseiros contra mosquito da dengue não têm comprovação científica
19.03.2024 - 09h48
Florianópolis - SC
Circula pelas redes sociais uma publicação com cinco receitas de inseticidas caseiros contra mosquitos. Entre as fórmulas naturais ensinadas estão as feitas com cravo-da-índia, vinagre, óleo vegetal, canela e alho. O post afirma que esses compostos seriam eficazes contra o mosquito transmissor da dengue. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
“XÔ, MOSQUITO
Quer manter os mosquitos e pernilongos afastados de forma natural? Experimente alguns inseticidas caseiros simples de fazer e eficientes! Aqui estão algumas opções:
Inseticida com cravinho
Ingredientes: 60 cravos-da-índia, 1 1/2 xícara de água, 100 ml de óleo hidratante para bebês.
Modo de preparo: Bata os ingredientes, coe e guarde. Coloque nos pratos dos vasos de plantas para eliminar larvas do Aedes aegypti.”
– Legenda de post que circula no WhatsApp
Falso
Nenhum inseticida ou repelente natural feito em casa com cravo-da-índia, canela, alho, óleo vegetal ou vinagre tem, até o momento, aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também não existe, até o momento, comprovação científica de que fórmulas caseiras de fato sejam eficazes para matar ou espantar o mosquito transmissor da dengue. 
Embora existam estudos sobre as propriedades repelentes de algumas plantas, especialistas explicam que a quantidade necessária de determinada erva ou substância para produzir um composto em casa varia e não é possível fazer testes seguros para confirmar a eficácia de fórmulas caseiras. “Essas receitas podem dar uma falsa noção de proteção para as pessoas”, alerta o professor Carlos Pinto, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 
O cravo-da-índia, por exemplo, possui um princípio ativo chamado eugenol, já amplamente estudado por sua propriedade repelente e biocida. Um estudo publicado em 2022 na revista científica Nature mostrou que o eugenol funciona como larvicida, ou seja, mostrou-se eficaz para matar as larvas do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. O estudo, no entanto, foi realizado em ambiente laboratorial e usando altas concentrações de eugenol — quantidade que não é possível confirmar se é corretamente reproduzida em ambiente doméstico.
“Para algumas plantas, como o cravo-da-índia, já está bem estabelecido na literatura científica que existe eugenol na sua composição e que esse ativo é repelente”, diz Carlos Pinto. Ele explica que não é incomum que plantas apresentem compostos com atividade insetífuga. Isso porque plantas precisam se proteger de insetos — caso contrário, serão devoradas por eles. 
“A quantidade desses produtos nas plantas, porém, geralmente é muito variável e depende do clima ao qual a planta foi exposta, do solo em que ela cresceu etc. Ou seja, pode haver alteração na quantidade de composto em plantas de diferentes origens ou plantadas em diferentes épocas do ano. Por isso não é recomendado receitas caseiras”, afirma.
Inseticida com vinagre
Basta colocar um pouco de vinagre num potinho para espantar moscas e mosquitos. Ou dilua 1 xícara de vinagre com 4 xícaras de água para pulverizar nos mosquitos.”
– Legenda de post que circula no WhatsApp
Falso
Não existe qualquer comprovação científica de que o vinagre seja eficaz para matar ou espantar moscas e mosquitos. Uma busca acerca dos estudos sobre uma possível ação inseticida do vinagre contra o Aedes aegypt na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, plataforma que reúne pesquisas na área de saúde e biotecnologia de todo mundo, não identificou nenhum artigo conclusivo sobre o assunto. 
O cheiro forte do vinagre também não é suficiente para afastar o inseto. Segundo especialistas, o mosquito da dengue é caracterizado por ser “muito insistente” e só o odor do líquido não é suficiente para evitar uma picada.  
Receitas usando vinagre para repelir ou matar mosquitos já foram desmentidas por várias agências de checagem. Em 2 de fevereiro, o Ministério da Saúde explicou à Lupa que o vinagre não é eficaz e não tem respaldo da pasta. Também ressaltou que  que o principal método de prevenção da doença é a eliminação de focos de água parada, usados pelo mosquito como locais de reprodução
Inseticida com canela e detergente
Ingredientes: 100 ml de vinagre branco, 10 gotas de detergente, 1 pau de canela, 50 ml de água.
Modo de preparo: Misture e pulverize no ambiente para afastar mosquitos.”
– Legenda de post que circula no WhatsApp
Falso
Embora a canela, assim como o cravo-da-índia, tenha alguma ação repelente de insetos, isso não significa que fórmulas simples feitas em casa usando apenas pedaços dessa planta sejam eficazes contra picadas de mosquito. Não há, até o momento, qualquer comprovação científica de que a mistura de vinagre, detergente, água e um pau de canela possa matar ou espantar o Aedes aegypti. 
Essa especiaria tem sido pesquisada como alternativa natural aos inseticidas químicos. Contudo, grande parte dos estudos usam o extrato ou o óleo essencial da planta em alta concentração e, em geral, em ambiente controlado.   
Em 2020, por exemplo, um estudo conduzido por pesquisadores do Maranhão identificaram o potencial larvicida do óleo essencial da canela. Apesar do resultado promissor, eles chamaram a atenção para o fato de que o potencial dessa planta frente ao Aedes aegypti pode variar significativamente  de  acordo  com uma série de fatores (página 10), desde a espécie, parte da planta utilizada, como foi recolhida e armazenada, entre outros. Por fim, reconhecem os resultados e recomendam mais estudos e aplicações. 
Inseticida com óleo vegetal
Ingredientes: 2 xícaras de óleo vegetal, 1 colher de sopa de sabão em pó, 1 litro de água.
Modo de preparo: Misture e pulverize no ambiente para afastar mosquitos.”
– Legenda de post que circula no WhatsApp
Falso
Não existe na literatura científica disponível em plataformas como o Google Acadêmico qualquer pesquisa sobre o uso da mistura de óleo vegetal com sabão em pó e água para espantar ou matar o mosquito da dengue. 
Entre os produtos aprovados e indicados pela Anvisa para evitar a proliferação dos mosquitos transmissores da doença, não há nenhuma fórmula envolvendo sabão em pó e óleo vegetal.  
Inseticida com alho
Ingredientes: 12 dentes de alho, 1 litro de água, 1 xícara de óleo de cozinha, 1 colher de sopa de pimenta caiena.
Modo de preparo: Bata o alho com água, deixe repousar, acrescente óleo e pimenta, dilua e borrife no ambiente.(...)”
– Legenda de post que circula no WhatsApp
Falso
Embora existam estudos sobre os possíveis efeitos larvicidas e inseticidas do alho, ainda não há qualquer comprovação científica de que essa planta comestível seja de fato eficaz para evitar picadas de insetos ou matá-los. 
Estudo de 2014 investigou o potencial larvicida a partir do uso do extrato puro de alho. Os pesquisadores concluíram que a planta mostrou-se promissora contra os ovos de Aedes aegypti dentro da água. Eles alertaram, contudo, que a utilização doméstica do extrato pode implicar em uma dosagem em menor concentração dos testes feitos em ambiente controlado. 
Além disso, o pesquisador e professor Carlos Pinto, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC lembra que, qualquer planta, até mesmo produtos à base de citronela, amplamente difundida como uma planta com atividade repelente para insetos, precisa de registro na Anvisa. Esse registro assegura que as fórmulas, por mais naturais que sejam, passaram por uma avaliação de sua eficácia e de segurança para garantir que não causarão qualquer desconforto aos usuários.  
Vale ainda pontuar que a forma mais eficaz de prevenir a doença é evitar a proliferação do mosquito, eliminando toda água de locais que possam se transformar em criadouro, como vasos de plantas, recipientes de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas. Além das medidas de proteção individual, como o uso de repelentes aprovados pela Anvisa e roupas que protejam os braços e pernas durante o dia, período em que o Aedes aegypti está mais ativo. 
A vacinação é outra forma de prevenção. O imunizante Qdenga, fabricado pela Takeda Pharma, é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde fevereiro. 

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Carol Macário
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