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Meta e TikTok lucram com teorias da conspiração sobre Kate Middleton
Este texto foi atualizado com a divulgação do estado de saúde de Kate Middleton.
22.03.2024 - 12h20
Na sexta-feira (22), a princesa de Gales, Kate Middleton, anunciou em um pronunciamento que está com câncer e se submetendo a sessões de quimioterapia. 
Mas desde o último dia 10, quando diversas agências de notícia alertaram o mundo sobre a manipulação feita numa foto oficial divulgada pela monarquia britânica, um tsunami de teorias da conspiração envolvendo a princesa pipocou nas redes sociais e aplicativos de mensagem. Para esses espaços digitais, no entanto, o caos desinformativo que se formou, mesmo que repleto de informações enganosas e sem comprovação, está longe de ser ruim. Foi — e é — sinônimo de faturamento.
Dados extraídos do Google Trends, ferramenta que revela quais conteúdos são mais buscados no Google ao longo de um período de tempo, mostram que, desde a divulgação da foto editada da princesa com seus filhos, durante o Dia das Mães no Reino Unido, quase a totalidade do hemisfério ocidental foi ao sistema de buscas mantido pela big tech para saber mais sobre "Kate Middleton". Nesse período, a esposa do príncipe William, herdeiro do trono britânico, também foi mais popular nas buscas do que políticos de renome como os americanos Joe Biden e Donald Trump, o russo Vladimir Putin e o ucraniano Volodymyr Zelenski, que estão em meio a intensas campanhas eleitorais ou enfrentam sucessivos episódios de guerra. 
Países onde houve registro de busca sobre "Kate Middleton", segundo Google Trends. Quanto mais escuro, maior o número de buscas
Para o negócio das redes sociais, no entanto, o caso da foto editada e todas as histórias sem comprovação que dela surgiram tem sido tanto um sucesso de engajamento e interação quanto de faturamento. 
Dados extraídos do CrowdTangle, ferramenta que permite analisar postagens feitas no Facebook, mostram, por exemplo, que, entre os dias 11 e 19 de março, a expressão "Kate Middleton" apareceu em quase 67 mil posts que, juntos, geraram 4,3 milhões de interações. Isso significa que, em uma semana, o nome da princesa foi citado em mais de 398 posts por hora e cada uma dessas publicações gerou, em média, 64 interações nos mais diversos idiomas do Facebook.
Desinformação e anúncios
Esse engajamento também resulta em lucro para as redes sociais, pois as big techs financiam suas operações principalmente por meio da veiculação de anúncios publicitários. E, utilizando algoritmos avançados, as redes sociais também são capazes de garantir que os anúncios comprados em seus espaços sejam exibidos de maneira segmentada, para o que seria o cliente ideal, maximizando o retorno do investimento dos anunciantes. 
Levantamento feito pela Lupa na Biblioteca de Anúncios da Meta mostra que pelo menos 11 anúncios relacionados a "Kate Middleton" ficaram ativos em português nas redes sociais da big tech de Mark Zuckerberg entre os dias 10 e 18 de março. E quatro deles chamam especial atenção.
Com 240 mil seguidores, a página da revista francesa L'Officiel no Brasil não só embarcou nas teorias conspiratórias relacionadas ao bem-estar da princesa de Gales como também usou um tipo de linguagem criado para amplificar o drama imaginário e fisgar o clique do usuário.
No dia 3, a página pagou à Meta para exibir um anúncio que perguntava "Onde está Kate Middleton". O post também convidava os usuários a ver "três terríveis teorias que explicariam o sumiço da princesa e futura rainha da Inglaterra". No link que o usuário abre, há detalhamento sobre um possível divórcio real entre Kate e William, uma imaginária cirurgia plástica que teria dado errado e ainda a sugestão de que a princesa de Gales estaria em coma.
Dois dias depois, em 5 de março, a página pagou para amplificar o alcance de outro post que prometia falar sobre os desejos sexuais do Príncipe William — sem qualquer dado de realidade. O link que o usuário abre consiste numa reprodução de material sensacionalista publicado em 2022 sobre o herdeiro do trono. O próprio artigo diz que a origem das informações é uma “página conhecida por sua falta de comprometimento com a verdade e fontes sérias".
No dia 12, o perfil anunciou que o tio da princesa Kate havia falado sobre o estado de saúde dela e que havia chocado o público. Falso. Ao ler o artigo linkado no post patrocinado, o usuário descobre que o tio — participante de um reality show — disse apenas que Kate está "recebendo os melhores cuidados do mundo". O que é prometido no post das redes sociais não é entregue ao leitor.
Por fim, no dia 15, a página da L'Officiel Brasil patrocinou a divulgação de um link que prometia mostrar o local onde Kate Middleton estaria "se refugiando". O link remete a uma série de fotografias da casa de campo de Anmer Hall e não cita a origem da informação. 
Nesse mesmo período, "Kate Middleton" foi termo usado em anúncios que nada tinham a ver com a família real para promover agências de viagem (com pacotes de lua de mel) e clínicas de estética. Quando um usuário da plataforma usava o mecanismo interno de busca da rede social receberia esses anúncios. Em um desses casos, uma clínica de estética pedia que o usuário contasse ali "qual sua teoria favorita sobre os últimos acontecimentos da realeza", sem se esquecer de marcar um horário para conhecer os serviços do local.
Quando o filtro aplicado na biblioteca de anúncios da Meta é a língua espanhola ou inglesa, o número de anúncios sobe substancialmente — bem como o grau de desinformação. 
Um total de 27 anúncios sobre "Kate Middleton" foram feitos em espanhol entre 10 e 19 de março. Há posts pagos que afirmam — sem fontes — que "é inegável que William é infiel"; que a babá do casal "tem uma agenda própria"; e que a princesa de Gales teria admitido que não conversou com a Rainha Elizabeth por cinco anos, no que seria uma "prova" da maldade da monarca recentemente falecida.
Em inglês, aparecem mais de 250 anúncios com a expressão "Kate Middleton", e parece não haver limite nem para as teorias conspiratórias nem para a geração de faturamento em torno do assunto. Há posts patrocinados sobre previsões astrológicas relativas à princesa, supostas análises de linguagem corporal dos demais membros da família real e até venda de camisetas do que seria o "Team Kate". Uma foto mostrando William ao lado de um grupo de médicos foi repostada em pelo menos 11 anúncios pagos, que carregavam a pergunta "O que aconteceu com a Kate?". O registro foi feito em fevereiro do ano passado, e vem sendo usado sem essa informação, ou seja, fora de contexto. 
No TikTok, a situação não foi muito diferente. Em sua Biblioteca de Anúncios, que ainda não indexa informações sobre o Brasil, a Lupa localizou dezenas de posts patrocinados sobre "Middleton" ou com a hashtag "WhereisKate" ("Onde está Kate?"). 
Entre eles, há, por exemplo, um vídeo de quatro minutos que elenca diversas teorias da conspiração sobre a princesa e que amplifica a ideia de que todas elas servem apenas para tirar a atenção do mundo daquilo que realmente importa: a guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas. "A família real está possivelmente pagando (alguém) para alimentar essas teorias". 
Em outro vídeo, de mais de cinco minutos de duração, as menções a Kate são usadas para alimentar narrativa semelhante: a de que há uma conspiração global orquestrada "pela mídia e pelas elites "para alimentar as pessoas com "dietas de distração".
Ainda há no TikTok um vídeo patrocinado que mostra o desenrolar de um jogo de videogame encenado no que parece ser um castelo para debater o que o canal considera ser as duas únicas opções na mesa no que diz respeito à situação da princesa: ou Kate está seriamente doente ou quer o divórcio e seu marido não está cooperando.
As biblioteca de anúncios da Meta e do TikTok não permitem saber quanto as empresas recebem por esses anúncios. De acordo com suas próprias regras, tanto a Meta quanto o TikTok não aceitam em suas plataformas anúncios que promovam "conteúdos sensacionalistas" nem desinformação.  
A Lupa procurou a Meta, o TikTok e a revista L'Officiel Brasil para que comentassem esta reportagem, mas não obteve retorno.

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Gabriela Soares
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